GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A ÚLTIMA SEGUNDA DA QUINTA.

Na segunda, ela foi a quinta no ano.
Não era um pássaro, não era na construção.
Nem na Construção de Chico.
Não era de mentira, nem era abstração.

Na segunda, ela subiu do térreo. Até o quinto?
Desceu. Mas não foi até o quinto dos infernos.
Que a Quinta lá fosse próxima...
Mas ela pousou sobre um jardim qualquer.

Na segunda, em um segundo, a notícia se espalhou.
E logo os terceiros vieram ver o que acontera.
E assim ela foi a primeira às atenções,
o que nem pôde perceber, pois já passara das últimas.

Na segunda, todos foram às rampas e passarelas.
Viram o manto branco que sobre ela se fez sudário.
Viveram o baixo astral que sepultou o frenesi universitário.
Ouviram mil coisas a respeito, supuseram outras mil tão sem respeito.

Naquela segunda, os sinos não badalaram.
Mais alto gritaram as sirenes.
E mais forte giraram suas luzes,
em vermelho hemorrágico e aterrorizante.

Na segunda, uma cama dormiu vazia,
pois alguém escolheu dormir para sempre,
e escorregou, escorregou?, para a vida eterna.
Deslizando suave para não se sabe lá onde.

Foi sua última segunda.
Venceu a barreira que separa o aqui do acolá,
mas isolou-se pelo cordão de isolamento amarelo e preto,
que só os olhos ousaram atravessar.

Ninguém queria acreditar que, quando a tarde estava para cair, alguém preferiu se jogar.

Ninguém queria acreditar.

11 comentários:

Anônimo disse...

"Viram o manto branco que sobre ela se fez sudário."

Eu vi descoberta. HÁ! Corram atrás. :P



Já que tu gostas de falar de morte em teu blog (que nem eu no meu), faze uma crônica sobre a Vanessão.

João Manoel Nonato disse...

Talvez se jogar tenha sido um modo de sair mais cedo daquela tarde na qual nunca entrou...
Quem sabe o que é?

samanta fonseca disse...

"ela não chorou;
pensou em se jogar"

João Medeiros disse...

Falso, mas bem escrito em vários momentos.

Felipe Drummond disse...

Joãozinho, que honra é ter seu comentário em meu blog, estou com saudades mlk!

Sobre ser falso ou não, ele procurou ser o mais atinente possível às minhas percepções sobre um suicídio que houve na UERJ na segunda-feira do dia 13 de outubro.

Não foi feito em cima da pura abstração.

João Medeiros disse...

ahuahuha! Acho que eu calei a boca!

Também estou com saudades, abraços.

Anônimo disse...

muuuuuuuuuito bom!
parabéns!

Princia disse...

sensível e levemente irônico.
adorei!

fabiana disse...

realmente demais.

Anônimo disse...

Assim não tem a menor graça.
Você sempre consegue se superar.
Maravilhoso, querido. Mesmo.

ea2011 disse...

Até do inconcebível vem inspiração. Triste é que o inconcebível é recorrente e quase comum - como tudo o que nunca pode, acaba se integrando à rotina.