GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

domingo, 4 de setembro de 2011

o digital não envelhece

Há um fenômeno novo com que os nostálgicos de minha geração terão que aprender a conviver: fotos digitais não envelhecem.

Estava esses dias vendo umas fotos de 2004 e tal foi minha surpresa ao cair na real de que - caramba!-  as fotos eram de 2004. Fotos digitais não envelhecem, não ficam amareladas. Sua cor é sempre viva, sua definição é sempre exata. Seu tempo é estático perante o próprio tempo: não bastando a própria foto congelar um momento, o registro ainda fica imune ao passar dos dias.

Uma foto digital é uma burla aos nossos corações para que continuemos nos enganando quanto ao voar dos dias no rastejar de nossos passos, no doloroso descompasso entre o tempo sentido e o tempo passado. Não adianta o EXIF dizer que a foto é de tal ano, nem a própria data estar impressa no canto inferior esquerdo, nem a imagem estar um pouco pixelizada, sugerindo que a câmera usada é das antigas...

É como se nossa nostalgia só compreendesse como linguagem o sépia, esse tom marrom um pouco amarelado que enverniza o passado. Nossa ponte visual para com o passado depende desse amarelo indeciso, e tanto já aprendemos isso que não à toa temos aplicado essa tal "cor das saudades" a fotos recentes, de modo a lhes forçar uma estética nostálgica que ainda não cabe. Agindo como grileiros digitais na era do Photoshop, ludibriamo-nos quanto à percepção do tempo, como se tentássemos - em vão - nos vingar do golpe duro que a era digital nos desfere no momento em que as fotos naturalmente não ficam amareladas, nem desbotam, nem se indefinem.

Talvez um dia inventem um amarelamento natural, digital, progressivo e automático para esse amontoado de jpegs, de modo a nos sinalizar, de cara, que se trata de velharia. Mas, com toda honestidade, não sei se eu gostaria disso. Parte da graça nostálgica - e isso pode soar esquizofrênico - está em ver o ontem como fosse o agora, mesmo que por um infinitésimo de segundo, para que logo em seguida se dê conta, como quem cai na real - ou nela despenca - de que aquilo é virtual e inalcançável. A nostalgia tem seu quê de auto-engano e, ao menos nesse aspecto, pode ser que o digital tenha algo a lhe somar...

2004


mês passado