GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

APARELHO DE FONDUE.

Maldito hábito de guardar as coisas e nunca usar. Acho que foi comportamento herdado dos egípcios, que levavam vários pertences para a tumba na esperança de usá-los em outra vida.

Fato é que o aparelho de fondue estava guardado desde 1984. Intacto, no armário lá de cima, aqueeeeele que ninguém nunca mexe, junto com vários outros presentes.

Presentes de casamento. O casamento aconteceu há 23 anos atrás. Amigos, parentes e etc. presentearam os jovens noivos com várias coisas para a casa. Jarras, talheres, cristais, pratos e também um aparelho de fondue importado. Ficou lá ele encostado.

Nesses 23 anos, muita coisa aconteceu. Viagens, brigas, encontros, desencontros. Filhos, claro, filhos, cá estou eu! Separação... nem tudo é pra sempre. Mudança de casa. Cada um para um canto. Os presentes foram parar com a noiva.

O aparelho de fondue, vocês sabem, ficou na casa da noiva, no tal armário. Armário quase intocado, como se guardasse um resquício de um passado talvez não muito bem assimilado. Estava lá, tudo embaladinho. A panela do fondue brilhante, sem uma ferrugem sequer, com seu cabo de madeira ainda lustrado. Quatro garfinhos, com pontas bem afiadas e cabo de madeira, também, cada um com uma bolinha de plástico de cor diferente em sua ponta. Bonitinho o detalhe. Estavam todos eles embaladinhos em papelão, bonitinhos, esperando quase que sentados para serem usados. Junto do conjunto, uns cinco potinhos tipo cinzeiro, pretos. Envoltos em plástico-bolha, o qual não tive coragem de estourar, lá estavam os potinhos coladinhos, também embalados em papelão. Esperavam a carne, o pão cortado ou as frutas a serem banhadas em chocolate.

A caixa do aparelho de fondue mostrava uma foto ilustrativa do que seria jantar fondue a dois. Duas taças de vinho, o fondue e a fumacinha saindo da panela. Colada na caixa, um adesivo da Roberto Simões (Presentes de qualidade, presente em Copacabana, Leblon, Ipanema, Centro, bla bla bla). Não achei a carta de votos de feliz matrimônio para identificar quem comprou o presente e acabei ficando na curiosidade.

Acabou que hoje eu precisei de um aparelho de fondue. Bem, eu sabia que havia um guardado lá no armário. Não hesitei em pedir, mas hesitaram em me atender. Depois de alguma conversa, consegui. Tão logo estive com ele em minhas mãos, bateu uma peninha de usá-lo. Bem... após esperar mais de vinte anos para ter sua serventia, ele já devia ter desistido de ser usado. Embaladinho, parecia estar em um sono profundo de decepção, de inutilidade.

Mas eis que eu o acordo. Tiro-o da caixa, desembalo tudo, lavo cada peça e o monto. Jogo álcool na parte de fazer fogo, acendo um fósforo, e ele começa a produzir calor e uma luz azul. A panela vai ao fogo e recebe aquele queijo meio estranho de fondue, que logo é derretido. Com os garfinhos, espetam-se pães que se lambuzam no tal queijo e vão à boca em deleite gastronômico. Os potinhos não foram usados, ficando para a próxima.

Acabada a comilança, vai tudo à pia . Detergente, esponja, muita esfregação, água e etc. E então estava tudo limpinho, pingando e escorrendo. O aparelho de fondue teve sua primeira vez, e agora estava ali, como qualquer outro estaria, esperando para ser guardado e utilizado em ocasiões futuras.

Será que ele ficou feliz? Ou preferiria o dito cujo ter ficado ali, guardado, embalado, conforme saiu da fábrica no início da década de 80? Época essa quando não havia internet, quando não havia celular, quando eu não era nascido... quando entre dois noivos ainda havia a magia de um casamento, de que hoje sobrou alguma amizade e vários presentes que, por razões adversas, não tiveram a oportunidade de serem usados. A amizade está guardada no coração (ó que piegas!). Os presentes, no armário lá de cima. Aquele tal armário, sabe?
Até quando, não se sabe.



Curiosidade: Minha avó, casada em 1956, ainda guarda presentes de casamento nunca usados. Suponho que isso seja uma forma de fazê-los ganhar valor de mercado para serem vendidos a um antiquário. Vai entender.