GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

domingo, 17 de agosto de 2008

O LIVRO EM CIMA DA ESTANTE

Coitado do livro em cima da estante.
É projeto frustrado em lembrança lancinante.
Sonho levado que se deixou adiar,
quando o sonhador permitiu-se vadiar.

Foi-se o tempo livre que seria tempo livro,
pois incapaz foi o papel na arte da sedução.
Trocado sem dó por filme, sono ou canção,
pereceu na vitrine de inquebrável vidro.

Vidro figurado, mas fronteira intransponível,
entre livro aproveitado e livro figurante.
A missão sempre e sempre preterível,
para a qual por fim me mostro hesitante.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

desperta-a-dor.

Ah, desliga meu despertador,
que hoje meu sono vai até mais tarde.
Desliga meu despertador, segura essa palavra,
palavra não-verbal, ferina, audaz e truculenta,
não digas mais esse acorda com tanto alarde,
não mais, nunca mais.

Desliga meu despertador e acerta meu relógio,
deixa que as horas passem e eu continue a sonhar.
O sonho é tão lindo, maravilhoso e perfeito,
é a ilusão tão doce de que não quero me privar.

Despertador, tenho um aviso a te dar
Vai-te embora, meu corta-barato,
demora-te longe, pedra no sapato.
Não dês em minha quimera seu nocaute sonoro,
não faças com que toda a água me saia de cada poro.

Despertador, teu nome é maldito.
Despertas a dor.... mas que faniquito!
Não te quero mais, deixa-me em paz.
Inimigo, salafrário e algoz, vai!
E sem demora, cala logo essa tua voz! Ai.

GENTILEZA GERA... DINHEIRO

Fique tranquilo(a). Não irei falar de altruísmo lucrativo, caridade com retorno ou p(h)ilantropia.

Lembro uma vez lá com meus doze anos em que via TV e apareceu a tal história de um morador de rua que escrevia em vários viadutos da cidade de forma bastante peculiar vários dizeres filosóficos sobre o mundo, dos quais o mais emblemático era GENTILEZA GERA GENTILEZA. Foi assim apelidado de Profeta Gentileza. Achei a história dele muito interessante e curiosa (a quem interessar, procure no Wikipédia).

Passados mais de cinco anos, Gentileza se popularizou. Não que o Rio ou o mundo tenham se tornado mais gentis, ou que os cariocas tenham enfim se tocado e posto em prática a máxima que ilustra muitas das pilastras do Viaduto do Caju. Fato é que os dizeres GENTILEZA GERA GENTILEZA se tornaram aforismo profundo, atual e difundido, na paradoxal forma que é o cult de massas.

Muito, muito mais do que isso, GENTILEZA GERA GENTILEZA hoje estampa todo e qualquer produto. Já vi camiseta, chaveiro, boné, adesivos,... Esses dias comi em um restaurante em cujo jogo americano lá se vislumbravam as tais três palavras. Os garçons usavam uma munhequeira (!) com os mesmos dizeres. Como se não bastasse, há até até um outdoor imenso com a frase mágica na fachada de um dos mais vistosos hotéis da cidade.

Não dá pra entender, definitivamente, porque é que pegaram uma frase tão legal, verdadeira, capaz de esbanjar uma sabedoria magnífica, expressa em tamanha simplicidade, e tranformá-la em estampa para toda e qualquer pessoa sair por aí pagando de gentil e de atinado para o bla bla bla das virtudes do ser humano que tanto se perdem nesse tão cansativo e batido tal mundo pós-moderno.

É uma tentativa de empreender subliminarmente o espírito da gentileza nas pessoas através da divulgação massiva de palavrinhas mágicas? Algo como um "beba coca-cola" espalhado por todo e qualquer canto? É uma tentativa de relembrar a cada momento a tão sábia lição que o Profeta Gentileza nos trouxe?

Perdoe-me discordar, mas a popularizão da coisa a esse nível tão desconexo e extrínseco tira dela por completo seu enlevo. Vê-la a cada esquina, como mais um elemento de uma paisagem tão contrastante é simplesmente incluí-la nessa paisagem e fazê-la definhar, perdendo seu potencial de causar choque e reflexão. É como aconteca a cada vez que leio na traseira de um carro "Jesus Te Ama". Fico longe de pensar nesse tal amor de que se fala, mas imagino o quão chatalhão religioso deve ser o motorista.

Colocar GENTILEZA GERA GENTILEZA no mais diversificado tipo de produto causa exatamente isso. Gentileza não vai gerar mais porra nenhuma, além de dinheiro. Vai ser, se já não o é, uma frase qualquer, tipo aqueles dizeres com números e palavras em língua estrangeira que constam em camisas de grandes magazines, tipo aquelas que têm todos os estilos, inclusive o seu. Imagine você se daqui a pouco inventam uma camisinha verde e amarela com o GGG escrito. Até imagino o slogan: "para fazer com delicadeza e reciprocidade".

Diriam os indies que esse tal papo de Gentileza está virando muito mainstream. Prefiro a idéia de que a frase tão emblemática perdeu-se no oba-oba do fenômeno pop e na promiscuidade cultural que o mercado de aparências tanto demanda. E assim a coisa vai tendo sua essência transformada. Não que isso seja ruim, afinal, mutações culturais inserem-se num movimento implacável e irrefreável, necessário à própria evolução.

Mas tenham dó. GENTILEZA GERA GENTILEZA é lição tão preciosa no mundo que simplesmente não pode perder sua essência.

TOMBAMENTO JÁ!