GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sábado, 18 de novembro de 2006

RAPIDINHAS 1.

Não é o que vocês estão pensando.
Bem, senti a necessidade de postar algumas coisas breves, que não exigem comentários longos nem análises profundas. São apenas pensamentos rápidos, instantâneos, que passam pela minha tela mental e dela saem rapidamente, mas que eu gostaria de relatar. Na verdade, eu deveria criar um blog paralelo chamado SO WHAT´S ABOVE? (valeu pela idéia, Zé), mas a preguiça me impediu e só me restou esse pífio recurso.
Com vocês, as rapidinhas (prometo ser breve - ou não).


SUBMUNDO
Semana passada, a banda de uns amigos meus fez um show num lugar aqui na Zona Sul ao qual nunca havia ido. Quando vi o ingresso, pensei que o lugar teria uma fachada apresentável, uma porta grande, um mural com alvarás de funcionamento e telefones úteis (Disque Denúncia: 2253-1177), além de um armário, digo segurança, de traje passeio completo, verificando identidades e falando "Estou só fazendo meu trabalho" quando alguém tentasse romper a censura, se ela houvesse.

O fato é que quando cheguei ao endereço do local, o choque entre imaginação e realidade foi estupendo, voou x para tudo que é lado. (x = o que constitui pensamento e realidade). O que vi não foi fachada, não foi porta grande, não foi mural, não foi armário, ops, segurança!

O lugar era uma casa semi-abandonada, com paredes amarelas mal-pintadas, já descascadas, sem porta principal, e com resquícios de obra por tudo que é lado. Madeiras podres encostadas em degraus de uma escada, pregos enferrujados espalhados pelo chão com bactérias de tétano clamando por contato e poeira de obra no chão e no ar, como se tivessem acabado de ali marretar uma parede.

O lugar não possuía fachada, de maneira que passaria despercebido como mais uma obra de reforma inacabada, se não fosse pelas pessoas que se concentravam em sua entrada. Os que lá estavam pela primeira vez também olhavam meio espantados e comentavam incessantemente sobre o lugar esdrúxulo, para muitos também inóspito. A porta de entrada, discreta e estreita, mais parecia uma porta de fundos, daquelas por onde sai o lixo e transitam cargas pesadas.

No lugar não havia mural com alvarás de funcionamento. Talvez nem alvará tivesse, dadas as pífias condições de evacuação em caso de emergência, planejamento quase nulo de programas anti-incêndio, anti-pânico e etc. Telefone do Disque-Denúncia, então... seria auto-destruição! Nas paredes, só quadros quase eróticos, que mais despertavam risadas debochadas do que qualquer outra coisa.

O lugar não tinha armário, digo segurança, mas sim um dos organizadores do minievento, que era quem controlava a entrada de ingressos e de pessoas. Sujeito de média estatura, franzino, não mais que 20 anos, sorriso no rosto, traje casual, quase playsson, e vocabulário bastante jovem. E também estava só fazendo o trabalho dele.

Ah sim... e o show foi bem legal!

A CHAVE PEQUENA, A FECHADURA, A DISPUTA E AS LAMÚRIAS
Descera com um amigo para comer um cachorro quente e voltava para a casa do meu pai, onde estávamos fazendo p. nenhuma no MSN. Ao chegar à portaria, verifiquei que o porteiro não estava em seu posto habitual, mas sim fora do prédio conversando com entusiasmo com outros porteiros. Assim, decidi pegar minha chave para abrir o portão, a fim de não incomodar o momento de prazer do prezado funcionário. Como estava bastante enrolado, com um copo pendurado na boca, duas paçocas na mão, e tentando abrir uma delas para comer, peguei o chaveiro e dei-o para meu amigo abrir a porta. Por algum acaso do destino, entreguei-lhe o chaveiro segurando especificamente uma maldita chave, a da tranca da bicicleta, que é pequenina e tragicamente maleável. Não percebendo que era uma chave de bicicleta, meu amigo enfiou a chave na fechadura e tentou abrir. Quando rodou, a chave havia quebrado lá dentro, e um pedaço dela jazia no interior da fechadura, enquanto o resto ainda estava na mão dele, sendo observada com duas caras de espanto do tipo "e agora?".

Nessa hora, o porteiro veio ver o que havia acontecido e chamou sua esposa dentro do prédio para abrir a porta pelo lado de dentro. Constatando que um pedaço da chave estava ali entalada, tentou retirá-lo com as mãos, em vão. Depois, pegou a verdadeira chave daquela porta e catucou ali, também em vão. Quando olhei em volta, três outros porteiros da rua que com ele conversavam, também vieram ver o que ali se passava. Cada um deu seu palpite sobre o assunto, sugerindo uma maneira de resolver a questão. Pareciam disputar quem ia futucar primeiro a fechadura, para ali tentar sua vitória sobre os demais.

Enquanto isso, a esposa do porteiro falava incessantemente palavras de desânimo. Deu uma senhora bronca no seu marido, em palavras quase incompreensíveis. "Que que ocê tava fazendo do lado di fora?" O marido respondeu: "Viajando, mulé!". A senhora retrucou: "Não podi ficá do lado di fora não". E depois ela insistiu em seu pessimismo, desencorajando também os demais a tentarem a sorte: "Vai tê qui chamá o chavêro memo, pódi desistir" "A porta vai ficá aberta i vai chamá ladrão". Confesso que sua cara amarrada e sua voz profética realmente me deixaram desacreditados quanto a uma rápida solução para tudo aquilo, mas, quando ia me afogar nessa descrença, fui subitamente surpreendido por um gritinho de orgulho do tipo eu-humilho.

Um dos porteiros havia conseguido, com um arame, colocar o toquinho de chave para fora, e iniciava uma dancinha de vitória fazendo com a boca um estranho barulho, quase um urro, como se quisesse dizer "sou vitorioso". De fato ganhara a guerra: vencera a disputa e suplantara a desesperança.

FÉRIAS!
Poucas coisas se comparam à sensação de falta de pendências, que é um dos prazeres que só consigo ter durante as férias. Aquela sensação de dever cumprido, de poder ficar de pernas pro ar, de poder respirar aliviado, enfim. Acho que a melhor parte é a de poder acordar tarde, sem ouvir o barulho desagradável do despertador, que anuncia o fim do descanso.
No entanto, lá para janeiro, essas e outras sensações começam a disputar espaço com o tédio e com o desejo de presenciar novas emoções durante o ano letivo, de rever os amigos, de voltar ao aprendizado, enfim, de voltar às aulas. E nem por isso o despertador deixa de ser odíavel.
Ai, se eu ainda estudasse à tarde...

(Ouvindo: Helloween - The Dark Ride)

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Frases feitas

Não tem jeito. Elas estão em ímãs de geladeiras, em peças publicitárias, em agendinhas femininas, na última edição da Revista Capricho ou até mesmo em discussões inteligentes das quais se espera uma mínima argumentação lógica e coerente. Afinal, nem tudo é perfeito. (há!!!)

Começo por aí a falar das frases feitas, redondas, embaladas, portadas em embalagem prática onde só falta o "abra aqui" ou o "serve fácil". Frases feitas rapidamente tornam-se máximas, como se fossem frutos de um conhecimento universal e irrefutável que a qualquer hora pode ser utilizado para, com um breve dizer, destruir qualquer outro pensamento que vinha sendo construído.

Não há nada mais decepcionante do que, em uma discussão qualquer, ser interrompido por máximas isoladas e apresentadas de maneira simples, como "tudo é relativo", "toda unanimidade é burra", "nem tudo é perfeito", entre outras.

Tão irritantes quanto são os clichês que as feministas-de-butique usam. (O feminismo-de-butique é um assunto que eu quero tratar em breve, portanto, pouparei-os da falação.) Quem nunca ouviu "todo homem é canalha", "homem é tudo igual", "os homens são a cabeça, mas as mulheres o pescoço" para fazer a defesa de piadinhas machistas muitas vezes lançadas por puríssima brincadeira?

Os clichês de política também são recorrentes e geralmente começam com "A culpa é de...". Ah sim, a culpa geralmente é do governo ou então da mídia. A culpa nunca é da massa ignorante que não sabe eleger políticos ou de acasos do destino que prejudicam o sucesso do país.

Uma das frases feitas mais manjadas é geralmente usada quando se fazem generalizações quaisquer. Dou uma bala para quem acertar a frase, que é contraditória em si. Ganhou a bala quem disse que "para toda regra há uma exceção". E qual é a exceção dessa regra? Ganha uma Coca-cola quem me convencer de algo.


Prefiro uma macarronada italiana servida numa cantina a um Cup Noodles esquentado no microondas e comido às pressas no caminho para o trabalho. Sim, às vezes ele cai bem, mas o prato da nonna é indubitavelmente melhor. Ele dá mais trabalho? Dá. É menos prático que o macarrão instantâneo? É. Entretanto, todo o trabalho, a elaboração e o requinte compensam, no final.

O mesmo acontece com as frases feitas, que de feitas, elaboradas nada têm. Apesar de serem práticas, pouquíssimo trabalhosas, servirem fácilnão chegam aos pés de idéias bem desenvolvidas, fundamentadas e elaboradas com cuidado.

E aí... qual delas lhe apetece mais?



(Ouvindo:
Masterplan- Enlighten me
Franz Ferdinand - Darts Of Pleasure
Linkin Park - Crawling)

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

A inflação, a esmola e a vida do mendigo.

Atire a primeira pedra quem nunca foi abordado pela expressão "Me dá um trocado", seguida pelos vocativos tio, tia, madame, senhor, doutor, ou até mesmo pelas recentes gírias cumpadi, fiel, parsero, preibói,..

Dada a situação social calamitosa do país, as cidades brasileiras vivem lotadas de pedintes, que, assolados pela miséria e marginalidade, vêem na benevolência alheia a única - ou a melhor - maneira de sobreviverem dignamente.

No entanto, é cada vez mais difícil sobreviver de esmolas na rua. Somada a outros fatores, há a inflação e a falta de reajuste esmolal. Mas como? Eu explico. Ah, sim... antes de qualquer coisa, esclareço não sou economista, analista econômico nem praticante de qualquer outro ofício que lide profissionalmente com o assunto.

Quando se dá uma esmola, é tendência natural dar a menor quantia razoável possível ao pedinte. Em termos de Brasil, isso quase sempre corresponde (e correspondeu) ao famosíssimo R$ 1,00 (um real), seja em moeda ou em nota. Raramente vejo alguém dando dois reais ou mais, ou então dando alguns poucos centavos.

Tanto há 12 anos, quando foi criado o Plano Real, quanto hoje, depois de muitas reviravoltas da economia brasileira, a esmola básica sempre é de um real. E ele é sempre prático, acessível, razoável. Um real é a primeira nota que aparece na carteira, a primeira que sai do bolso, enfim... é o mais manjado dos "dinheiros".

Mas a cada dia vale menos. É verdade, há 10 anos , compravam-se muito mais coisas com um real do que hoje. A desvalorização da moeda acarretou um aumento de preços e, portanto, numa compensação com o aumento de salários. Vejamos: o salário mínimo, em 1996, era de 100 reais, enquanto que, hoje, é de 350 reais. Aumento de 250% em 10 anos.

E a esmola? Essa sempre foi de um real. Ninguém a reajustou de acordo com o aumento do salário mínimo ou do encarecimento da cesta básica. Ninguém aplicou nela os mil índices inflacionários de institutos-renomados-de-economia-e-variação-de-preços-para-o-consumidor.

"Reajustar para quê? Já é uma esmola mesmo, de cavalo dado não se olham os dentes." diriam alguns. Também não sei para que reajustar. Dizem que a esmola vicia o cidadão e o impede/inibe de ir à luta por emprego ou melhores condições. Outros defendem-na, dizendo que ela resolve paliativamente o problema emergencial dos altamente necessitados.

Querendo ou não, o fato é que os pedintes de todo meu Brasil precisam "pedir" três vezes mais do que faziam há 10 anos para fazerem uma mesma aquisição, seja de comida, roupas ou drogas. E se estiverem insatisfeitos com suas condições de x (a maioria das palavras traria impropriedade vocabular, mas espero que entendam a idéia), não há sindicatos e não vale fazer greve. Muito menos pedir demissão.

(Foto e efeito por mim mesmo)