GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

GENIAL

(co-autor telepático e não-autorizado: João Manoel Nonato)

O que têm de especial os grandes gênios da humanidade? Indaguei-me sobre isso esses dias ao ver o mundo dos gênios cultuados (Paris é o antro!) em contraste com os cultuados gênios dos submundos (a internet é um grande submundo).

Os gênios cultuados - sinto-me à vontade para não me estender - respondem por padrões artísticos, filosóficos, religiosos, políticos - culturais de uma maneira geral - que vão além do seu tempo e da sua localização espacial. É possível dizer que Picasso, Monet, Rousseau, Beethoven, Platão, Aristóteles, isso para não citar outros, são uns quaisquer? Discorde-se da teoria rousseauniana ou se odeie a Nona Sinfonia, algo é inegável: o valor social e a projeção temporal-espacial que elas têm. Essa genialidade dos grandes, portanto, é um aspecto de intersubjetividade, para além não apenas de uma objetividade externa à apreciação, como se a genialidade estivesse na própria obra ou idéia, como também de uma subjetividade "achista", como se a genialidade dependesse diretamente dos "eu gosto" caprichosos do receptor da obra, à vontade para "achar" toda e qualquer coisa.

Os cultuados gênios dos submundos - é sobre esses que eu quero falar - é que me suscitam uma boa reflexão sobre a tal da genialidade. Escrevem, falam, fotografam, pintam, compõem, têm espasmos volitivos, mijam, peidam... como qualquer um pode fazer, mesmo os gênios. Se outrora eram os artistas e pensadores dos círculos restritos, da cultura alternativa, dos guetos urbanos, hoje se expõem nas mídias da contemporaneidade: youtube, twitter, blogs, flickrs, etc. Colocam ali o que quer que seja, o que depois pode de fato se mostrar a oitava maravilha do mundo, e se jogam na multidão, à espera, quem sabe, por serem pinçados e alçados à fama viral.

Nesse atacadão de coisas sujeitas à apreciação coletiva, alguns começam a ser chamados de gênios e outros são simplesmente desprezados. Por que alguns são gênios e outros não? Não sei. Fato é que quando alguém começa a ser chamado de gênio, o efeito dominó se instala. É a hype. Se tão dizendo, então é porque é. Não importa o que a arte ou a idéia do cara é. Importa é que seja incompreendida. Muitos são chamados instantaneamente de gênios por receptores (leitores/ouvintes/espectadores/...) que não entendem a obra. Mais do que um problema de incompreensão, é um problema de auto-estima e com possibilidade dupla de resultado. Ou se cultua ou se destrói.

Pensa o receptor que a incompreensão de que ele sofre deve ser um sinal da genialidade do autor ou de sua completa mediocridade: o cara deve ser bom demais e complexo demais (ou apenas simples e óbvio demais, e por isso deve-se estar entendendo algo errado, pois se espera uma interpretação grandiosa - lembram-se da pedra no meio do caminho?) para pertencer a esse mundo dos mortais e a ele se fazer entender, então vamos cultuá-lo ou destruí-lo, a depender da hype. Mais uma vez, é um exercício de intersubjetividade, tão volúvel quanto tributária, de sobremaneira, da "lógica tostines": considera-se bom porque dizem que é bom ou dizem que é bom porque considera-se que é bom?

No fundo, eis um grande desafio à sinceridade. Um desafio eterno, parte inconsciente, parte consciente, de dizer ao mundo a própria impressão sobre a coisa sem levar em conta a impressão geral. A parte inconsciente traduz a dificuldade (alguns, eu inclusive, diriam a impossibilidade cabal) de se desimpregnar do que se enraizou ao longo da vida. A parte consciente, por sua vez, é a questão de se peitar o resto e bancar ser a voz dissonante.

O mais engraçado é quando "bancar ser a voz dissonante" passa a ser a hype da vez. Aí, discordar vira um automático, criticar vira uma obrigação e ser diferente torna-se um imperativo. O problema é que, quando todo mundo fica igualmente diferente, a aleatoriedade passa a ser previsível. E aí, quem então vai bancar ser o rebelde entre os rebeldes?

Lembro-me da chamada na sala de aula nos primórdios escolares. Muitos falam "presente", alguém resolve falar "presidente", outro fala "presunto", o cara do fundo fala "penitente". Um teimoso voltará a falar "presente" e, não tem jeito, sempre vai ter alguém mais engraçadinho que falará "demente" para semi-ofender um coleguinha ou o professor. Geralmente é aquele mais socialmente saliente, para quem as meninas costumam se derreter. É porque elas ainda não aprenderam a dizer que é genial...