É absolutamente desesperador o domingo à noite, quando chega aquela sensação infeliz de que o fim de semana acabou. O que tinha que ser curtido já foi curtido, e o que se deixou adiar, agora só daqui a cinco dias.
A noite vai terminando declarada pelo "boa noite" do Fantástico, e é aí que bate o desespero: "preciso me divertir um pouquinho mais!". Convencer-se de que simplesmente é hora de ir pra cama é algo muito árduo. Por mais que haja algum sono, há aquela esperança de que algo maravilhoso ainda irá acontecer, e essa espera ansiosa mantém a vontade de dormir distanciada da necessidade que se torna mais evidente a cada minuto.
É a hora desesperada em que se lê algo que já deveria ter sido lido durante a semana. Ou em que se entra no
orkut para vasculhar a tragédia alheia. É a hora em que se reza: agradecemos e pedimos, ou pedimos e agradecemos (nesse caso a ordem importa), se só depois é que nos dermos conta de que podemos estar sendo um pouco abusados com a divindade.
A idéia de deitar na cama e simplesmente dormir é mera utopia. Você deita na cama
para dormir. Não deita na cama e dorme. Ver a cama como meio é colocar-se no abismo de angústia entre o ato e resultado, a angústia de que a cama não é o fim. A angústia que suscita o eco da semana inteira ressonando por completo em apenas alguns minutos, com as lamúrias do passado e os auspícios do futuro. Mas sempre angústia. Há, inclusive, a angústia de não se tolerar angustiado naquele momento: a meta-angústia. E aí a meta-meta-angústia. A meta-meta-meta-angústia. E por aí vai: uma frustração por conta de outra frustração! E essa relação infinita, em que dentro da angústia você vê a própria angústia, o fractal da angústia (!), é o que faz você viajar.
Eis que em algum momento, do qual você não se lembra, mas que certamente acontece, tudo para e você dorme
(ou não, né...). Dorme porque se cansou de se perceber cansado. Dorme simplesmente porque se distraiu, angustiado ou não, pensando em dormir ou não, pensando em pensar ou, simplesmente, nada pensando. Dorme e só. E sem se dar conta se isso é bom ou ruim, se é feliz ou triste, se foi o fracasso e a resignação diante do fim do fim-de-semana, ou se foi a vitória de se pôr a descansar para mais uma semana.