Já era tarde e eu estava no metrô voltando da faculdade para casa. O vagão estava um tanto cheio, mas havia ainda dois lugares disponíveis. Um deles era ao meu lado e o outro era à minha frente.
Entrou um cidadão no trem e se dirigiu ao lugar à minha frente. Acontece que esse lugar estava "ocupado" por um caderno do Iron Maiden de uma pessoa que ao lado ouvia música. Educadamente, o senhor que entrara apontou para o caderno, sinalizando que queria se sentar ali. O dono do caderno, meio contrariado, apontou para o outro lugar vago, sem tirar o fone de ouvido.
O cidadão que queria se sentar apontou mais uma vez sacudindo a mão, já um pouco impaciente. O dono do caderno resolveu falar, com cara de "deixa de ser chato" : - senta ali, cara.
O homem desejoso do assento, já estarrecido com a situação, aproximou sua cabeça à do dono do caderno e, em tom amaeaçador, falou algo como: - quero sentar aqui, meu camarada, entendeu?
Achei que os dois fossem acabar nas vias de fato, mas o rapaz do caderno ficou intimidado e, com cara de de "whatever... i'm a bitch", pôs o caderno no seu colo para dar o lugar. O cidadão que queria se sentar finalmente se sentou. Como ele era meio largo (e lá poderia eu falar de um "mundo e os gordinhos 2") e não cabia direito no banco, acabou ficando encostadinho ao ser cínico a que há pouco se opusera. O clima ficou tenso.
Na estação seguinte, desceram várias pessoas e o moço que antes queria se sentar acabou indo para outro lugar no vagão. Imediatamente, o caderno voltou ao seu lugar especial, como se ali fosse um trono, um camarote especial, uma área VIP ou coisa que o valha para aquele amontado de papel com o quase-amedrontador Eddie na capa.
Logo em seguida, entraram mais pessoas no vagão. Duas senhoras resolveram se sentar e, para uma delas, só sobrou o lugar que então acomodava novamente o caderno. Pensei que a via crucis mais ridícula de minha vida "disputar um lugar com um caderno" fosse ali recomeçar. A senhora com várias sacolas olhou para o homem e apontou para o caderno. O dono do caderno dessa vez olhou para ela, resmungou qualquer coisa e pôs o caderno de volta no colo. Estava com cara de decepcionado, desolado e decepcionado.
Que preguiça tola, porca e nojenta é essa de não querer ficar com o caderno no colo, na mochila, na cabeça ou no... ah, deixa pra lá.
GUIA DE LEITURA
Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):
Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)
(a nostalgia do que não tive)
terça-feira, 28 de outubro de 2008
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
A ÚLTIMA SEGUNDA DA QUINTA.
Na segunda, ela foi a quinta no ano.
Não era um pássaro, não era na construção.
Nem na Construção de Chico.
Não era de mentira, nem era abstração.
Na segunda, ela subiu do térreo. Até o quinto?
Desceu. Mas não foi até o quinto dos infernos.
Que a Quinta lá fosse próxima...
Mas ela pousou sobre um jardim qualquer.
Na segunda, em um segundo, a notícia se espalhou.
E logo os terceiros vieram ver o que acontera.
E assim ela foi a primeira às atenções,
o que nem pôde perceber, pois já passara das últimas.
Na segunda, todos foram às rampas e passarelas.
Viram o manto branco que sobre ela se fez sudário.
Viveram o baixo astral que sepultou o frenesi universitário.
Ouviram mil coisas a respeito, supuseram outras mil tão sem respeito.
Naquela segunda, os sinos não badalaram.
Mais alto gritaram as sirenes.
E mais forte giraram suas luzes,
em vermelho hemorrágico e aterrorizante.
Na segunda, uma cama dormiu vazia,
pois alguém escolheu dormir para sempre,
e escorregou, escorregou?, para a vida eterna.
Deslizando suave para não se sabe lá onde.
Foi sua última segunda.
Venceu a barreira que separa o aqui do acolá,
mas isolou-se pelo cordão de isolamento amarelo e preto,
que só os olhos ousaram atravessar.
Ninguém queria acreditar que, quando a tarde estava para cair, alguém preferiu se jogar.
Ninguém queria acreditar.
Não era um pássaro, não era na construção.
Nem na Construção de Chico.
Não era de mentira, nem era abstração.
Na segunda, ela subiu do térreo. Até o quinto?
Desceu. Mas não foi até o quinto dos infernos.
Que a Quinta lá fosse próxima...
Mas ela pousou sobre um jardim qualquer.
Na segunda, em um segundo, a notícia se espalhou.
E logo os terceiros vieram ver o que acontera.
E assim ela foi a primeira às atenções,
o que nem pôde perceber, pois já passara das últimas.
Na segunda, todos foram às rampas e passarelas.
Viram o manto branco que sobre ela se fez sudário.
Viveram o baixo astral que sepultou o frenesi universitário.
Ouviram mil coisas a respeito, supuseram outras mil tão sem respeito.
Naquela segunda, os sinos não badalaram.
Mais alto gritaram as sirenes.
E mais forte giraram suas luzes,
em vermelho hemorrágico e aterrorizante.
Na segunda, uma cama dormiu vazia,
pois alguém escolheu dormir para sempre,
e escorregou, escorregou?, para a vida eterna.
Deslizando suave para não se sabe lá onde.
Foi sua última segunda.
Venceu a barreira que separa o aqui do acolá,
mas isolou-se pelo cordão de isolamento amarelo e preto,
que só os olhos ousaram atravessar.
Ninguém queria acreditar que, quando a tarde estava para cair, alguém preferiu se jogar.
Ninguém queria acreditar.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
fossa dominical
domingo é um dia perigoso.
não é à toa que no calendário ele vem marcado em vermelho.
é quase como se a folhinha dissesse: perigo!
domingo é aquele dia que você acorda tarde e cansado.
é o dia para pagar a conta do sábado.
no domingo, você já acorda para o almoço.
se fizer sol, pode até rolar uma praia.
mas se fizer chuva... é aquela preguiça.
ficar em casa no domingo é realmente complicado.
talvez seja gostoso pegar um livro e observar a chuva caindo em preto-e-branco.
computador e domingo são mistura letal: não só o domingo é perigoso.
MSN, orkut, joguinhos quaisquer... ultra-tedioso.
televisão e domingo parecem tanto combinar...
faustão, gugu, sílvio santos, fantástico....
e agora nem tem mais o topa tudo por dinheiro.
domingo para muitos é o dia do futebol.
de se preparar para zoar ou ser zoado pela semana em razão do seu time.
domingo é o dia daquela fina melancolia que pode se avolumar em depressão.
e domingo é a véspera da segunda, que já fica decretada desde a hora em que termina o fantástico.
domingo é o dia do descanso. domingo dormindo.
mas domingo também é o dia certo da insônia.
domingo é o dia de ir a missa.
a quem se importar.
domingo é o dia que começa tarde e acaba cedo.
é de forma alguma dia útil.
domingo é a fossa. quase séptica.
você fica pra baixo e se encontra na merda.
os domingos deveriam estar mais bem sinalizados.
estar em vermelho não basta. precisam estar em baixo-relevo.
e quase furando o papel.
não é à toa que no calendário ele vem marcado em vermelho.
é quase como se a folhinha dissesse: perigo!
domingo é aquele dia que você acorda tarde e cansado.
é o dia para pagar a conta do sábado.
no domingo, você já acorda para o almoço.
se fizer sol, pode até rolar uma praia.
mas se fizer chuva... é aquela preguiça.
ficar em casa no domingo é realmente complicado.
talvez seja gostoso pegar um livro e observar a chuva caindo em preto-e-branco.
computador e domingo são mistura letal: não só o domingo é perigoso.
MSN, orkut, joguinhos quaisquer... ultra-tedioso.
televisão e domingo parecem tanto combinar...
faustão, gugu, sílvio santos, fantástico....
e agora nem tem mais o topa tudo por dinheiro.
domingo para muitos é o dia do futebol.
de se preparar para zoar ou ser zoado pela semana em razão do seu time.
domingo é o dia daquela fina melancolia que pode se avolumar em depressão.
e domingo é a véspera da segunda, que já fica decretada desde a hora em que termina o fantástico.
domingo é o dia do descanso. domingo dormindo.
mas domingo também é o dia certo da insônia.
domingo é o dia de ir a missa.
a quem se importar.
domingo é o dia que começa tarde e acaba cedo.
é de forma alguma dia útil.
domingo é a fossa. quase séptica.
você fica pra baixo e se encontra na merda.
os domingos deveriam estar mais bem sinalizados.
estar em vermelho não basta. precisam estar em baixo-relevo.
e quase furando o papel.
sábado, 11 de outubro de 2008
maindaguép
O metrô perdeu muito de sua graça desde que eu comecei a usá-lo todo dia para voltar para casa da faculdade. O que antes para mim era um lugar para os achados caricatos e quase-literários que muitas vezes já trouxe aqui, atualmente são os quarenta ou mais minutos de suplício diário.
Se antes eu era capaz de me negar a pegar um livro, o MP3 ou o celular para jogar o tétrico Tetris, apenas para ficar observando as coisas que aconteciam no metrô, hoje não tem mais como. Entro no vagão e já penso no que eu usarei para me distrair. Se consigo sentar, leio alguma coisa. Se tenho o MP3, vou ouvir música. Mas se nada me restou além do celular, eu vou direto para o Tetris. Tenho quebrado o meu recorde a cada dia. Tetris vicia e dá insônia: na hora de dormir, até imagino os bloquinhos encaixando. É enlouquecedor.
Mas voltando ao metrô, essa semana ele me surpreendeu. Já estava eu absorto em meus tediosos pensamentos e passa-tempos, quando a tão fastidiosa gravação "Próxima estação: Estácio, Next Stop: Estácio Station" foi seguida por um MIND THE GAP, cuja mensagem corresponde ao tradicional "observe atentamente o espaço entre o trem e a plataforma".
Minha cabeça deu uma volta ao mundo. Consegui ser transportado ao tube londrino, com seus vagões apertadinhos, seu cheiro não muito agradável e o sotaque irritante do "PLEASE MIND THE GAP BETWEEN THE TRAIN AND THE STATION." E para falar dos souvenires mil que se vendem pela cidade com o tão falado MIND THE GAP? Tinha até uns trazendo piadinha sexual com esses dizeres.
O MIND THE GAP em sotaque tupiniquim é no mínimo estranho. É falado super rápido e quem não entende inglês vai achar que é um erro de gravação, um barulho do metrô, ou qualquer coisa que o valha. Quem entende inglês e sabe do que se trata, vai viajar internacionalmente na maionese. Em pleno Metrô do Rio, que não mais atende confortavelmente a sua demanda, que cresce a passos de tartaruga numa cidade hipertrofiada, que em certas horas vira a mais nojenta e popularmente agressiva lata de sardinha, o cidadão será remetido ao bom transporte público das metrópoles desenvolvidas.
Mas tudo bem, vou poupar minha acidez.... não é só no metrô londrino que há vãos entre os trens e a plataforma. E tombo é tombo, em qualquer lugar do mundo.
Se antes eu era capaz de me negar a pegar um livro, o MP3 ou o celular para jogar o tétrico Tetris, apenas para ficar observando as coisas que aconteciam no metrô, hoje não tem mais como. Entro no vagão e já penso no que eu usarei para me distrair. Se consigo sentar, leio alguma coisa. Se tenho o MP3, vou ouvir música. Mas se nada me restou além do celular, eu vou direto para o Tetris. Tenho quebrado o meu recorde a cada dia. Tetris vicia e dá insônia: na hora de dormir, até imagino os bloquinhos encaixando. É enlouquecedor.
Mas voltando ao metrô, essa semana ele me surpreendeu. Já estava eu absorto em meus tediosos pensamentos e passa-tempos, quando a tão fastidiosa gravação "Próxima estação: Estácio, Next Stop: Estácio Station" foi seguida por um MIND THE GAP, cuja mensagem corresponde ao tradicional "observe atentamente o espaço entre o trem e a plataforma".
Minha cabeça deu uma volta ao mundo. Consegui ser transportado ao tube londrino, com seus vagões apertadinhos, seu cheiro não muito agradável e o sotaque irritante do "PLEASE MIND THE GAP BETWEEN THE TRAIN AND THE STATION." E para falar dos souvenires mil que se vendem pela cidade com o tão falado MIND THE GAP? Tinha até uns trazendo piadinha sexual com esses dizeres.
O MIND THE GAP em sotaque tupiniquim é no mínimo estranho. É falado super rápido e quem não entende inglês vai achar que é um erro de gravação, um barulho do metrô, ou qualquer coisa que o valha. Quem entende inglês e sabe do que se trata, vai viajar internacionalmente na maionese. Em pleno Metrô do Rio, que não mais atende confortavelmente a sua demanda, que cresce a passos de tartaruga numa cidade hipertrofiada, que em certas horas vira a mais nojenta e popularmente agressiva lata de sardinha, o cidadão será remetido ao bom transporte público das metrópoles desenvolvidas.
Mas tudo bem, vou poupar minha acidez.... não é só no metrô londrino que há vãos entre os trens e a plataforma. E tombo é tombo, em qualquer lugar do mundo.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
o antes.
ele estava decidido que ia pegar o telefone e ligar.
já conseguira o número com uma amiga.
já conseguira coragem com um amigo.
e já conseguira conseguir consigo mesmo.
tanto lera o número no papel
que já o sabia de cabeça.
e já quase estava com dor de cabeça.
ia ligar, mas não sabia o que falar.
convidá-la para ir ao cinema...
ver o último filme do woody allen?
quem sabe o teatro?
até estava com a filipeta de desconto!
podia chamá-la para ir a praia...
mas e se ela estivesse numa "má fase"?
então pensou num flash...
e se ela estiver de TPM?
receberá um fora de uma fera?
domado pela própria dúvida,
resolveu apostar na própria intuição.
as palavras na hora viriam
e tudo seria lindo, como acontecem nos filmes.
ele estava mesmo decidido que ia pegar o telefone e ligar.
e se o telefone dela estivesse desligado?
e se o número fosse errado e desse engano?
toda aquela angústia para nada...
pensou e pensou.
ligou a TV para dar uma relaxada, mas a coisa estava difícil.
foi à geladeira beliscar qualquer coisa.
brincou com a cachorrinha que queria qualquer atenção...
ela tão esperta que já até sentia uma pontinha de ciúmes.
enfim, pegou o telefone na mão.
discou o número, algarismo por algarismo.
dois. cinco. três. quatro. quatro. três. três....
ai caramba, o último número era um quatro ou um nove?
fez unidunitê... deu nove.
apertou o botão que faltava...
e ligou.
já conseguira o número com uma amiga.
já conseguira coragem com um amigo.
e já conseguira conseguir consigo mesmo.
tanto lera o número no papel
que já o sabia de cabeça.
e já quase estava com dor de cabeça.
ia ligar, mas não sabia o que falar.
convidá-la para ir ao cinema...
ver o último filme do woody allen?
quem sabe o teatro?
até estava com a filipeta de desconto!
podia chamá-la para ir a praia...
mas e se ela estivesse numa "má fase"?
então pensou num flash...
e se ela estiver de TPM?
receberá um fora de uma fera?
domado pela própria dúvida,
resolveu apostar na própria intuição.
as palavras na hora viriam
e tudo seria lindo, como acontecem nos filmes.
ele estava mesmo decidido que ia pegar o telefone e ligar.
e se o telefone dela estivesse desligado?
e se o número fosse errado e desse engano?
toda aquela angústia para nada...
pensou e pensou.
ligou a TV para dar uma relaxada, mas a coisa estava difícil.
foi à geladeira beliscar qualquer coisa.
brincou com a cachorrinha que queria qualquer atenção...
ela tão esperta que já até sentia uma pontinha de ciúmes.
enfim, pegou o telefone na mão.
discou o número, algarismo por algarismo.
dois. cinco. três. quatro. quatro. três. três....
ai caramba, o último número era um quatro ou um nove?
fez unidunitê... deu nove.
apertou o botão que faltava...
e ligou.
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