GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sábado, 11 de agosto de 2012

A preguiça superável de datas comemorativas

Aprendi com a vida que o melhor a se fazer com datas comemorativas é simplesmente encará-las e entrar na   festa.

A revolta contra a "obrigatoriedade" de certos dias é compreensível e eu mesmo já a senti muito nessa vida. É um dia em que se TEM que ser aquilo que muitas vezes já se é e pronto. Datas comemorativas, como "dia dos ...", simplesmente nos molestam a espontaneidade.

Um argumento que eu sempre ouvi contra datas especiais é aquele da série "isso tudo é uma construção do/da... (insira-aqui-uma-entidade-abstrata-merecedora-de-ódio)", que postula que datas comemorativas são invenções do comércio para impulsionar o consumo e alavancar vendas durante todo o ano, como se esses fossem os marca-passos da pulsação econômica do setor de varejo. Pode até ser.

Fato é que já me revoltei, já bati o pé, já fui considerado "o diferente" e até insensível por simplesmente não me importar - quando não também me incomodar - com a pressão que ocorre para que tais datas ocorram com a solenidade que elas dizem merecer. Também já mostrei para as pessoas o quanto datas não são importantes e o quanto podem ser chatas: esse era um pouco do meu código.

O problemático sempre foi aniversário de namoro. Simplesmente não tenho saco - ou não valorizo o suficiente, pode ser - para mensalmente reprogramar todo meu calendário em função de um dia específico, que pode ser o momento mais inoportuno do mês, no qual um relacionamento aniversaria. Um dia em que há uma obrigação de ser fofo, a despeito de qualquer problema que haja ocorrido na vida naquele dia, a despeito da lógística difícil de uma cidade cada vez mais complicada, a despeito da semana de provas da semana seguinte. Um dia em que as expectativas podem correr tão altas que a ordinariedade da vida - e nela se encontra o que há de mais valioso - vai ser decepcionante. Por que o namoro não pode ser celebrado num outro dia qualquer, ou melhor, ser celebrado perenemente?

A bem da verdade, depois de tanta objeção, eu realmente desisti. É que desde sempre - e muitas vezes - fui 'vítima' de pessoas que também renegam datas comemorativas: meu pai é um bom exemplo. Encontro meu pai com facilidade em qualquer dia do ano, salvo no Dia dos Pais e no Natal. Não sei o que se passa na cabeça do meu velho, mas até pouco tempo era um hábito - talvez até uma regra - eu passar o dia das mães com meu pai e o dia dos pais com minha mãe: só para não ter a pressão. No Natal, é um outro problema: ele precisa se dividir e isso o transtorna. Nem reivindico mais o meu pedaço.

Desisti por uma razão muito simples: nadar contra a maré de expectativas daqueles que o amam é comprar para si um problema muito maior do que encarar a situação de frente e, simplesmente, dançar conforme a música. Gerir ilusões, desilusões e demais decepções relativas a um dia especial é uma tarefa hercúlea de administração emocional. Não compensa nenhuma satisfação que se possa auferir da fidelidade aos próprios faniquitos.


Deixar alguém que se ama sozinho num dia assim é uma maldade desnecessária. Por mais que a pessoa já não espere que qualquer coisa vá ocorrer, é impossível que um pontinho de lamento ela não sinta, especialmente se isso for razão para juízos comparativos em relação aos demais humanos na Terra.

A melancolia da solidão é bem descrita por aquela hora em que se encosta a cara na janela fria, deixando o ar que expira embaçar o vidro, e se olha para o prédio em frente, com as janelas dos vizinhos dispostas como em mosaico, por cujos ladrilhos se vêem, como na televisão, pequenas histórias alheias se desenrolando, em fiel cumprimento ao mandamento do dia: pessoas que confraternizam, namorados que se amam, pais e filhos que se abraçam, a família vendo as "últimas notícias" do Fantástico.


"Dias dos/das" têm tudo para ser momentos felizes e custam nada - ou muito pouco. São as datas em que os namorados esperam estar namorando à luz de velas ou em que todas as mães esperam estar recebendo elogios de sua prole. Também pode ser quando se espera que todas as famílias estejam se reunindo sob as luzes do pisca-pisca da árvore de Natal saboreando o que a data oferece de melhor: o pretexto.

Que mal há? Sábios os que aproveitam o pretexto e fazem da data não um fim em si mesmo, ou uma externalidade, mas um gatilho para ser genuíno com quem se ama. Como quem dança uma valsa imaginando que na verdade está num forró. Às vezes a coisa até fica mais animada...