GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O TRATOR DAS MINHAS VONTADES.

Eu estava quase dormindo, quando pensei na expressão "o trator das minhas vontades". Eu achei que fosse uma frase marcante, uma obra-prima da retórica. Ainda acho isso, mas, a cada vez em que olho para essas 5 palavras, elas perdem esse efeito.

Eu queria fazer um texto em que eu usasse esse título. Na verdade, você pensa em trator, e vem aquele veículo imenso, com aquela coisa de metal na frente, implacável, intransponível, que chega passando em cima e não quer nem saber o que está na frente. É um trator, não é um carrinho de obras.
Imagine o "carrinho de obras das minhas vontades"... é como se eu dissesse que eu vou levando-as aos trancos e barrancos e que, por qualquer trombada, elas podem ir ao chão.
Imagine também "a bicicleta de minhas vontades". Só funciona direito na ciclovia, e eu ainda preciso ficar pedalando. Ou melhor, "a bicicleta ergométrica de minhas vontades". A vontade é tanta e o esforço é imenso, mas eu nunca saio do mesmo ponto.
Talvez nada se comparasse a "o caminhão das minhas vontades". Lembro-me do Caminhão do Baú, com os sonhos de consumo das donas-de-casa. Minhas vontades não incluem geladeiras, máquinas-de-lavar ou fornos microondas.
E se fosse o "patinete de minhas vontades". Até dá ambiguidade, pareço aquelas crianças de cinco anos que querem um patinete de Natal e colocam isso na cartinha para o papai noel. Infantil demais, fora.
A "carreta das minhas vontades". Lembro-me dos digníssimos catadores de lixo da cidade que empilham suas tralhas usando os papelões das caixas de caras TV's e de outros mimos que não podem comprar. Ficam só com a caixa, e carregam com a própria força aquela carreta imensa pelas ruas. Muitas vezes não conseguem e tudo aquilo cai. Triste. Imagina minhas vontades caindo assim pela rua e eu tendo que catá-las só porque juntei mais do que podia? É provável, mas prefiro ser otimista.

Pois é... voltemos ao "trator de minhas vontades", à imagem do trator. Pois é, minhas vontades são fodas, uhul, vem com tudo. Mas, lembremos: o trator precisa de alguém que dirija. Sei dirigir trator? Olha a responsabilidade.
O trator precisa de combustível. Entenda por combustível o que quiser. Dinheiro, pique, pessoas para fornecer o combustível, ...
O trator não é um ônibus. No máximo, tem dois lugares. Vontades fortes, que vem em trator, não podem envolver muita gente. No máximo, pode-se cooptar alguém para ser carona nessa aventura.
O trator é um trator. Imenso. Não passa em vários lugares, não é versátil, exige infra-estrutura megalomaníaca e traz decepções se for transitar em lugares complicados.

A vida é complicada. Não quero ficar entalado. Não quero ficar isolado. Não quero passar em cima de ninguém. Não quero depender de grandes feitos.

É, o trator não me serve.