GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

domingo, 4 de novembro de 2012

o beijo.

Era madrugada de domingo para segunda e, numa esquina do Leblon, em pé no meio-fio, quase pisando a pista dos carros, um casal se beijava ardorosamente. 
E se beijava...
E se beijava...
E se beijava...
Haja gerúndio (rectius, pretérito imperfeito) para descrever a continuidade. Não era um beijo lascivo, mas também não era um beijo apaixonado. Era tão somente um beijo intenso, genuíno, gostoso.

Todo mundo passava e olhava. Estava ali para qualquer um devassar a intimidade que o casal escolhera compartilhar e dali imaginar o que quiser. Outros casais olharam desconfiados. Grupos de meninas passaram com cara de estupefação e censura. Grupos de meninos por pouco não deram uma zombada. Um casal de idosos lançou um olhar pudico. Quem não estava de passagem, se punha a observar atentamente. Os garçons da lanchonete e o segurança da rua já brincavam: "será que querem quebrar algum recorde?" De fato, parecia... 

Tomei meu suco, pensei na vida, chequei minhas mensagens, troquei um lero e o casal continuava ali. Não iam se afogar em saliva? O fôlego em algum momento não ia acabar? O tédio? Não iam querer dar um passo à frente e ter que arrumar um quarto?

O beijo seguia em movimento retilíneo uniforme... Uma hora chegou a ficar monótono. Não tinha mão boba, não tinha arroubos, não tinha palavras ao pé do ouvido. O casal só se beijava, se beijava, se beijava, numa falta de constrangimento que eu particularmente só me permitiria por pouco tempo.

Contei quarenta minutos de um beijo ininterrupto. Como pode? Fui embora e eles ainda estavam se beijando. Passei de carro e olhei de perto. A vontade de buzinar era imensa, mas eu me segurei para não parecer a mim mesmo um recalcado, nem um intrometido.

A coisa até que estava com cara de armação. Suspeitei que fosse ação publicitária, câmera escondida, experimento de psicologia ou coisa do tipo, e que, ao final, os observados seríamos nós, os espectadores do espetáculo, em reação à cena inusitada.

Mas, apesar de algum ceticismo, acabei por ceder à máxima de que o amor é lindo, aposta uma ressalva: nem tudo o que é bonito é para se mostrar.

Em seguida, ouvi uma música romântica. Confesso que estava um pouco embalado. É, ainda sei me comover com pouca coisa e com breguices ostensivas. E um beijo ainda é um beijo.

Nenhum comentário: