GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sábado, 10 de novembro de 2012

A NOSTALGIA DO QUE NÃO TIVE

Admiro-me com a minha capacidade de lamentar sobre coisas que não aconteceram no passado.

Queria ter certas coisas na minha história de vida que simplesmente não tive. Alguns acontecimentos que eu muito quis à época e não se concretizaram, outros que à época eu nem quis, mas que, olhando retroativamente, poderiam ter acontecido.

Fico pensando se essa é uma forma de arrependimento. Porque parece. Analisando bem, contudo, não é o caso necessariamente. Com certeza, algumas coisas deixaram de acontecer porque eu pensei mal, escolhi mal, hesitei muito: faltou vontade ou força de vontade. Confesso que dessas eu me arrependo muito.

Outras coisas, contudo, deixaram de acontecer por mera imaturidade da minha parte. Acontece: trair isso seria negar de alguma forma minha própria humanidade. Enxergo-as como um passo necessário ao crescimento: "faz parte".

O que não entendo é como que as coisas que mais me comovem, talvez porque a perplexidade diante da própria comoção potencialize a própria comoção, são aquelas que não aconteceram, não obstante toda a minha vontade, todos os meus esforços, toda a minha gana existencial, todas as minhas intenções vertidas em orações. Coisas que não aconteceram mesmo diante de circunstâncias favoráveis. Coisas que não aconteceram muito embora parecessem simplesmente fadadas a acontecer. Coisas que pareceram inevitabilidades do destino. De um destino que me traiu.

Fatalismos à parte, como se arrepender disso, se não consigo ver os passos em falso, onde errei, onde mal avaliei? Ou errei e não sei? Por que pensar nisso, afinal? Ainda vai acontecer? Pode o futuro redimir alguma lacuna do passado?  Por que já chorar o leite derramado quando eu não o derramei? Por que lamentar um azar se sobre ele nada se pôde fazer?

Para variar, os piores lamentos são os do setor coração. Principalmente os da adolescência. O convite que não aconteceu, a paixão notória que nunca deixava de ser segredo, as outras pessoas que apareceram na vida para embaralhar as cartas, a timidez recíproca, os medos de tudo. Aquele namoro ginasial que nunca se concretizou, mas que não lhe permite olhar para um casal de treze anos sem se lembrar da paixão frustrada. 

Aquelas pessoas especiais com as quais coisas especiais deveriam ter acontecido, mas nunca passaram do quase. As pessoas não tão especiais que ocuparam esses espaços que não lhes era de direito  - e a sensação renitente de que algo poderia ter saído melhor. Os desencontros do pêndulo amor-amizade em diversos momentos da vida: quando um queria, o outro não. A sintonia parcial. O descompasso dos ritmos cotidianos. As distâncias, geográficas ou não. O medo de magoar pela decepção diante de tanta expectativa. O medo da transformação em realidade significar a ordinariedade das coisas.  O medo de experimentar o idealizado e perder essa reserva de perfeição a alimentar tantos sentimentos intensos.

Eternas molduras sem quadros. Páginas vazias no álbum de fotos. Linhas em branco no caderno da vida. Silêncios, mas silêncios eloquentes. O nada nostálgico. Sem sépia, sem memorabilia, sem coisa alguma. Lembranças cujo gatilho é o vazio. Como um fantasma pessoal de estimação.

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