GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A velha auto-indulgência em não passar filtro solar no mormaço

Esses dias ouvi em conversa alheia, dessas que chegam ao ouvido implacáveis como perfumes de estranhos, uma mulher falar a seguinte frase: "a gente sempre acha que mormaço não queima, né".

"Mormaço não queima" ocupa um lugar de honra naquele rol de mentiras que sabemos ser mentirosas, mas que nos permitimos repetidamente viver por pura leviandade e preguiça. Quem nunca olhou para um céu nublado vertendo mormaço e pensou que jamais iria se queimar da mesma forma que num tremendo dia de sol de verão?

Tenho preguiça de passar filtro solar em qualquer outra situação que não aquelas em que o sol seja uma "função" no meu dia. No fim das contas, acabo passando filtro solar apenas quando o dia está lindo e eu sei que vou ficar muito tempo exposto ao sol, porque aí não consigo negociar com minha consciência.

Tirando dias "lindos", se me perguntarem se eu deveria ter passado filtro, eu diria que sim. Mas um "sim" sem convicção, quase que por vergonha em admitir um comportamento viciado, um "faça o que eu digo mas não faça o que eu faço". Lá no fundo, há uma crença latente, de uma fé quase inabalável, quanto ao fato de o mormaço não queimar, quanto ao risco corrido ser muito menor por ser apenas um mormaço, a ponto de não valer a pena passar o filtro solar at all. Como se o infortúnio da vida só incidisse sobre os outros.

Menos que isso e ficamos neuróticos.

Antigamente, eu dizia que eu só aprendia com erros quando errava pela segunda vez. Precisava ter certeza demais para poder confortavelmente contrariar minhas melhores intuições. Achava um comportamento epistemicamente correto... mas quanta pretensão! Talvez fosse só um jeito legal de dizer que, na verdade, só sofro de um excesso de otimismo, ocasional e seletivo, como se sempre dissesse que "comigo vai ser diferente". Nunca é tão diferente.

Como statements blindados sobre o mundo e contra o mundo, como verdades cujas fichas não caem, essas mentirinhas que contamos para nós mesmos vão funcionando como pequenas auto-indulgências diante da vida. Elas amolecem nossa existência. Estamos sempre a nos perdoar por transgredi-las, não importa o quão óbvio seja o passo em falso que se toma ou o preço amargo que se paga. Pouco faz diferença ter podido antecipar as consequências. Se aconteceu errado, não é nossa culpa. Ou não foi por causa daquilo. A causalidade vira nossa amiga e cúmplice: nunca foi ela. O azar, nosso inimigo, nosso algoz. Não estamos mais no controle.

Vamos acumulando nossas mentirinhas. Como uma fraqueza de espírito bem justificada. Como um pecado bem "pecável". E com a frivolidade de quem nem precisa pedir perdão.

No fundo, devemos estar certos, né?

Um comentário:

Anônimo disse...

Felipe,

Adorei seu blog, seus textos, vc é um excelente escritor!

Não sabia que vc é uma pessoa tão sensível, muito diferente daquele rapaz chato, doido e esnobe que eu imaginava q fosse.rsrsrs. Desculpa, puro preconceito de quem te conhece apenas de vista e de corredores. (tb faço Direito na Uerj)
Bjs,
A.