GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sexta-feira, 14 de março de 2008

GARFADO.

Depois de um texto que está parecendo (apenas parecendo, eu enfatizo!) proselitismo babaca da Campanha da Fraternidade, que se manifesta contra o aborto e o uso de células embrionárias em favor da valorização da vida (há controvérsias), trago aos meus leitores - só leitores, porque não comentam - um texto retirado das percepções mais loucas do meu ser.


GARFADO.
Padeço de uma sensação péssima toda vez em que alguém passa com um garfo e olho para as suas quatro pontas. Imagino aquele instrumento indo de encontro ao meu peito e fazendo algo como guelras em minha pele. Imagino a dor que sentiria. Imagino a dor que se multiplicaria quando eu olhasse aquele estrago.

Imagino-me num filme, num dramalhão desses, levando uma garfada. Sou atacado e mantenho a serenidade e, olhando nos olhos de quem me garfou, puxo o garfo para fora do meu peito sem mudar minha expressão, sem soltar um ai sequer, como se estivesse resignado a morrer dali em diante. E aí, então, solto o garfo no chão, que cai fazendo um grande barulho. O filme tem suas cores em degradê de sépia e as nuances de meu rosto assim se fazem mais visíveis. Falo alguma palavra de vingança em tom monocórdio, fecho os olhos e caio duro ao duro chão. Outro barulho forte. O filme, ou a cena, acaba com um close no garfo meio ensangüentado, que assim chega a brilhar bastante.

É duro. Não consigo comer um bife olhando fixamente para a hora em que o garfo o espeta. Por mais que aquela carne esteja descaracterizada, é carne. O garfo no bife é o garfo em mim, o garfo em meu peito, o garfo que não consigo suportar. O garfo que me faz guelras, o garfo que dilacera minha pele, o garfo que expõe meu sangue, o garfo que bota em uma moldura minhas entranhas, o garfo que eu quero longe de mim.

O garfo que leva a carne à minha boca.
A minha boca que vai à carne.
A boca que vai à minha carne.

... que tortura!

10 comentários:

Unknown disse...

cara, a carne não ta mais viva quando vc enfia o garfo nela..não pode ser comparado com o garfo sendo enfiado em vc vivo =P Além do mais o ser humano necessita de proteína,e a vida tem sua teia alimentar,a não ser pelo "homem é o lobo do homem"

Unknown disse...

Completando o comentário: pela teoria dos predadores de hobbes =P

Giant in a glasshouse disse...

Vai uma costelinha do outback aí? Convenhamos, aquele garfo deles é de respeito.

Num tom um pouco menos jocoso, tem certas coisas que eu tento ser civilizado. Outras já desisti. Muitos argumentam que comer carne é uma barbárie. Agora, até ecologicamente incorreto é. Mas, sei lá, nesse quesito não tô muito disposto a largar o tacape (ou seria garfo?) não...

p.s.: quanto à falta de comentários, conheço o sentimento... =P

Marco Túlio disse...

ser vegetariano, pra mim, é algo impensável, embora há inúmeros motivos pra não se comer carne; éticos, religiosos, ecológicos ou, até mesmo, relativos à saúde humana. Ao contrário do que muitos pensam, a carne não é indispensável a nossa dieta, aliás, ela pode até acelerar processos cancerígenos.

apesar de não abordar esse assunto explicitamente, achei que seu texto soou como um "sectarismo" vegan. Engano meu ?

Anônimo disse...

não acho que seja um texto sobre comer ou não comer carne. é muito mais, desconfio.

hm, bom saber que vc escreve.

um beijo

Anônimo disse...

Cara, vou começar pelo aspecto "vegan"do texto. Comer carne faz parte de qualquer dieta de ser onívoro do planeta, nós inclusos. Não, comer carne não faz mal e, apesar do que o Marco Tulio disse, não leva ao câncer precoce (não mais do que respirar ou sair ao sol sem filtro solar). Logo, do ponto de vista nutricional é burrice evitar um alimento tão nutritivo e com tantas caracteristicas interessantes (como por exemplo, ser o maior saciador de apetite).
Indo ao aspecto de texto, gostei. Muito fácil visualizar as imagens que você quis passar (apesar de meio perturbadoras, convenhamos.)
Por último, para de veadagem e vai comer meio quilo de carne de vitelo mal passada, porra!

Felipe Drummond disse...

huahuahuuah acho engraçado como esse texto soou a propaganda vegetariana, quando na verdade não era meu intuito.

quis apenas falar da sensação enloqueucedora que é olhar para um GARFO espetando uma carne.

churrasco é bom porque dá pra pegar a carne com a mão!

:P

Anônimo disse...

Não Drummond. Você passou a ser Vegan enrustido e acabou.

Anônimo disse...

não consegui ver nada de vegetariano no texto, soh percebi a aflição que causa ao escritor ao ver um garfo...

coisa neurotica gente uuhauahua

agora, concordo com vc em relação a campanha da fraternidade, eh uma babaquice essa "difamação", digamos assim, com pesquisas com embriões ,ect. A Igreja tem toda liberdade de expressar o que pensa, mas eh errado tentar expor esse pensamento em uma campanha que visa ajudar, não influenciar, outros. Existe hora e lugar para tudo

Felipe Drummond disse...

thiago, acho que você falou muito bem quando colocou que a campanha visa à fraternidade, à solidariedade, não à panfletagem ideológica.
a CF em geral se mostra engajada com questões de relevância social que fogem ao escopo religioso, mas na desse ano, ficou muito claro que a intenção é influenciar a pensar, não influenciar a ajudar.

ponto negativo para eles.

abraços agostinianos.