GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sábado, 3 de novembro de 2007

ESTÉRIL OLHAR.

Antes de colocar aqui o texto, quero explicar o que aconteceu. Passei pela rua e vi isso tudo que vou relatar. Cheguei em casa e decidi escrever, mas estava sem saco de escrever normalmalmente e me limitei a digitar com toda espontaneidade tudo o que vinha à cabeça para que, depois, com tempo, pudesse compor o texto com a qualidade que sempre busco.

Eis que hoje venho para escrever o tal texto, mas, ao ler a tempestade de idéias que compilara, não consegui continuar. Há erros de grafia, idéias sem nexo, mas qualquer tentativa de remoldá-las prejudicaria a sensação que tive, e a que tento passar.

estéril olhar.
mãe com criança sentada na calçada. olha pro nada. sacode a mão repetitivamente, tilintando as moedinhas que ali estão. não está descalça, mas está mal vestida.
em seu colo, deitado, dormindo que nem um anjo, com uma bermuda bege clara, limpinha, e uma camiseta listrada, limpinha, está um bebê que dorme serenamente. lindinho, uma gracinha. uma fofura. aquele bebezinho passa fome? passo por ele. tento não voltar e dar a moeda,. estava com 3 reais no bolso e tive preguiça de parar pra dar. merda de egoísmo. passo e não tenho coragem de voltar, não tenho coragem de ir até lá e dar para aquela mãe. queria eu que ela nao estivesse precisando. e aquele pedacinho de gente, uma vida que nao tem metade das oportunidades que eu tive, que não pode deitar na cama e relaxar, mas que dorme melhor que eu, com essa insonia, essa culpa burguesa, essa bosta de quem passa e quer fechar os olhos par aum problema .mas não consegue. e vem aqui escrever, impotente. é incapaz de tirar esse pijaminha confortável, sair do ar condicionado de casa agora descer e procurar a mãe para lhe dar um trocado, uma comida um agrado... quem sabe uma atenção seja tudo o que necessita aquela pessoa, que traz seu anjo, em bons trajes, em sono dos inocentes, para o relento da noite.
o que faço para essa situação? simplesmente cago porque tem aos montes? é uma merda. lamento diariamente passar pela rua e ver isso. a culpa é de quem? foda-se de quem é a culpa. vamos resolver. juntos. unidos. to cansado de teorizar o brasil do futuro enquanto o brasil do presente não come. não quero mais ver anjinhos que comem e anjinhos que dormem com fome.
aliás, dormir com fome deve ser a pior coisa que tem. não aguento ficar poucas horas sequer de jejum. minha vó sempre me oferece um leite quente antes de dormir e eu recuso... queria oferecer esse leite, esse alimento às crianças que sofrem por perto. queria.

4 comentários:

Anônimo disse...

Primeiro, querido. Acho que qualquer mudança no texto teria estrangulado todo o sentimento nele contido. Tudo o que você viu, conseguiu explodir em palavras no momento em que pôde escrever. Gostei também da parte em que você critica não só todos nós, hípócritas, mas assume parte dessa culpa, sem se colocar apenas como observador da sociedade. Adorei, adoro textos assim mais impulsivos.

João Manoel Nonato disse...

Caríssimo
Demorou, mas veio a inspiração, né!
E que inspiração... !
Gostei da preocupação estética (ou falta de), ao postar o texto do jeito como ele veio ao mundo, bagunçado, um tanto confuso, com erros... Talvez como a criança que você viu. O sentimento expressado no texto só ficou mais forte assim.
Muito bom, como sempre.
Parabéns, Felipe.
Um abraço do amigo.

Danilo disse...

dura realidade com a qual convivemos o tempo todo... eh triste perceber q algo tao disumano esteja caindo na banalidade. Nao damos a devida atençao a historias como essa, a não ser quando esses seres humanos perdem a paciencia de viver desse modo e partir para sim da gente com facas. Deviamos nos sensibilizar de fato com essas historias e fazer algo de concreto para fazer a vida desses seres humanos um pouco mais digna. O mais grave não é nem viver na rua, e sim crescer sem o verdadeiro amor materno e familiar. Minha mãe trabalha em recolhimento de população de rua e eu não me canso de ouvir mais e mais histórias tristes como essa. Por mais que gente digna se esforce para ajudá-la, é dificil reparar os dano psicologicos que as crianças de rua tem dentro de si.

Luiza Conde disse...

Maravilhoso. Mesmo. Adoro quando vc se despe das suas necessidades formais perfeitas e simplesmente deixa fluir. São disparados os seus melhores... O texto traduz muito bem o nosso conflito burguês e, no entanto, não menos angustiante e mórbido por isso, aquele que depara ação com discurso, prática com hipocrisia e nos faz sentir que viver nas boas condições em que vivemos é simplesmente injusto e desumano e que, para que possamos fazê-lo, muitos passam fome. Talvez quando percebermos que isso não é totalmente verdade nem totalmente mentira possamos agir melhor e estar mais em paz.