GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

terça-feira, 6 de março de 2007

CHUTANDO A "PEDRA NO MEIO DO CAMINHO".

ANALISANDO O ATO DE BURLAR, EM VÁRIAS SITUAÇÕES



A regra geral válida para todos que passem por aqui é ler esse texto. Pode ser por consideração à minha pessoa ou ao meu texto, por extrema falta do que fazer, por gosto pela leitura, enfim, espera-se que você leia. Mas você pode burlar essa regra e simplesmente ir fazer outra coisa. Que tal? Tome sua decisão.




Obrigado por chegar até aqui. Você não burlou a regra, essa em específico, mas de fato já burlou muitas outras. Algumas delas eram burras, sem razão de ser, regra pela regra, ao passo que outras não. Em algumas vezes você o fez de maneira consciente, em outras não. O fato é que burlar determinações dos mais variados tipos é algo presente constantemente na vida das pessoas. Os brasileiros até rebatizaram o infringimento de "jeitinho brasileiro", o que para muitos, acredite, é motivo de orgulho, algo como poder de superação e sabedoria de vida.

Burlamos diariamente uma série de leis, embora em geral nos esforcemos cada vez mais para não fazê-lo. Atravessamos a rua fora da faixa e ficamos conversando com a porta do elevador aberta, às vezes sem nos darmos conta. Baixamos da internet músicas, filmes e livros sem pagar um direito autoral sequer, e ainda usamos programas de computador burlados, ou, em linguagem específica, crackeados. Subornamos policiais e outros funcionários públicos e os deixamos serem subornados.

Burlamos também os princípios não formalizados da cidadania, aquela que exige muitas vezes desprendimento, solidariedade e sentimentos humanos que se pautam pelo altruísmo. Subimos ou descemos do ônibus quando ele está fora do ponto, fazemos vista grossa para não ceder lugar a idosos e necessitados, furamos filas imensas por conta de nossa pressa, paramos o carro no meio da rua para ir comprar alguma coisa rapidinho, só porque presumimos essa rapidez. Somos vencidos pela preguiça ou pela desatenção, e, na praia, deixamos o lixinho na areia, em vez de coletá-los e depositá-los no lugar apropriado.

Burlamos, com ajuda química ou não, nosso superego. Ou os entorpecentes químicos o burlam para nós? Enfim, não importa. Não raro emergem das entranhas do nosso pensamento para a nossa consciência muitas lembranças, sensações e atitudes das mais inesperadas, e muitas vezes das mais inapropriadas para o momento, também. Libertamo-nos dos grilhões de nossas próprias mentes quando pensamos diferente, isto é, tentamos ver por uma ótica a que não estamos acostumados, o que dá trabalho.

Burlamos por pressão social, quando outros esperam de nós certas posturas ou nos compelem a fazermos algo para que sejamos os "laranjas", os "testas-de-ferro" no caso de o problema eclodir. Outras vezes, fazem-nos vanguardistas em certas atitudes, para que demos pioneiramente nossa cara a tapa e, caso o tapa aconteça, venha na nossa cara, não na deles. Quase cobaias de laboratório.

Burlamos por descaso social em relação à regra. "Já que todos fazem, por que não posso fazer também"? Simplesmente porque a unanimidade não reflete necessariamente a melhor forma de se proceder e, também, porque o travesseiro tem hábitos noturnos e espera os que têm boa índole. Basta que esses se deitem para que em suas cabeças se desenvolva um turbilhão de pensamentos movidos pelo arrependimento e pela infelicidade, pelas dúvidas do "e se...?" Sofrimento que não muitas pessoas conseguem sofrer, justamente aquelas que lutam para que isso não aconteça.

Burlamos ditames sociais burramente estabelecidos e essas tantas e tantas burlas fizeram com que evoluíssemos. O homem cresceu da transgressão, não da acomodação, e muitas vezes violou leis para que isso acontecesse. Em geral, é claro, ignoraram-se as regras ilegítimas, que, afinal, mais cedo ou mais tarde viriam a cair, visto que legislações que burlam a vontade da população não se sustentam por muito tempo.

O que não podemos burlar é normalmente aquilo que nos atordoa. Não sabemos superar a morte e assim tornamo-la misteriosa, cheia de mitos, histórias e subjetividade. Tentamos (ou não) acreditar que ela possa ser superada, e a isso muitas pessoas dedicam seu tempo e sanidade mental.

Também não burlamos conscientemente a nós mesmos e, nesse ponto, volto à história do travesseiro. Conseguir enganar a si próprio com plena noção de estar fazendo isso é impossível, sendo quase como criar uma realidade paralela em que simultaneamente sabemos e não sabemos quem somos e o que fazemos.

Burlar exige coragem e, acima de tudo, bom senso. Não digo que burlar seja sempre aceitável, mas as regras em geral não são perfeitas e cumpri-las por simples obrigação pode ter conseqüências mais danosas do que não cumpri-las. É necessário também atentar para o infringimento à liberdade alheia, o que, se acontecer, pode deslegitimar qualquer transgressão.

Ressalte-se aí que a única solução eficaz para problemas que advêm de leis e regras em geral não é burlar, medida paliativa por excelência, mas sim alterar essas normas de maneira a adequá-las às mais diversas situações. E ainda assim, burlar pode vir a ser necessário.

PS. Piadinha sem graça: por que seria paradoxal se um dos maiores paisagistas brasileiros defendesse o comunismo?

8 comentários:

Unknown disse...

Bom você disse tudo..sem comentarios a acrescentar =P Muito profundo e correto o seu pensamento.
Beijos ;*

Harold Smith disse...

Bonito.

Você que mendigou o comentário.

E ainda deixou a opção de falar qualquer merda.

Se o texto é bom, não precisa, só pra inflar o ego do meu caro amigo.


Abraços.

Anônimo disse...

Aahh, daí que veio a piadinha hahaha! Não comento há muito tempo, tem uns textos muito bons aqui. Aliás, achei "O Novo Bloco de Carnaval" bem misterioso, não consegui decifrá-lo muito bem não haha. Esse "CHUTANDO A "PEDRA NO MEIO DO CAMINHO" eu gostei mesmo, acho que muita gente nunca tinha parado pra pensar que burlar também pode ser uma coisa inteligente a se fazer. Afinal, tem muita regra sem sentido por aí. Parabéns pelos textos, abraço.

Anônimo disse...

Burlar

Será que o bufão,
Por ser burlesco, burla?
Ou então,
Por ser fresco, frescura?

Será que, ao inventar esse verbo,
Burlo?
Eu frescuro, tu frescuras,
Ele frescura?

Será que, nesse país,
“Sem frescura”
Não é mais grossura?
E pra educar bebê
Valem coisas vis
Como soltar puns na tevê?

Será que a burla mais arrojada,
Pra vencer a desgraçada –
Oh, que burla adorável! –
Seja desligar a tevê
E burlar o BBB?

Edson Boia do Nascimento
março de 2007

Unknown disse...

É, meu amigo, sempre o melhor em tudo o que faz. Impressionante. É aquela história de você saber até que ponto é saudável você se manter passivo a tudo e a todos, ou até que ponto chegou a hora de sair da sua posição e transgredir. Tem a questão de depender de um impulso de cada um também, e da seu culhão para correr riscos e assumir os mesmos. Adorei. Precisa pedir para que continue, Drummondzinho? Hehe, beijooo!

Danda disse...

Olá, estava zapeando por fotologs aleatoriamente e achei o seu. e do seu fotolog achei o blog.

Enfim, resolvi comentar porque achei muito interessantes seus textos.
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sobre o texto:
Há quem diga que as regras foram feitas pra serem burladas...
Eu ainda acredito que elas devem ser seguidas sim, mas que muitas mereciam adaptação a realidade, pois são improváveis no mundo em que vivemos.

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Dá uma passada no meu blog \o/
abçs.

Lenin disse...

Pra mim o mais interessante do texto é quando vc dá destaque às pequenas inmfrações do dia-a-dia e depois fala sobre como burlar acaba sendo útil num sentido mais amplo de mudar (uma legislação sem povo não o é). Mas a piada accabou com a impolgação do texto... hehehe
um abraço

Anônimo disse...

Ainda acho que as leis devem ser mudadas, mas não burladas. Existem mecanismos democráticos que permitem que o povo mude as leis que não convêm à sociedade como um todo. Se assim não fosse, a quem caberia decidir quais leis devem ser burladas? Qualquer psicopata poderia declarar legítimo sair por aí matando as pessoas. Eu não gostaria de ser a primeira, acho que ninguém gostaria, mas até aí ele já teria burlado/mudado a lei. Que Revolução.