GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

domingo, 18 de março de 2007

Aos prantos.

Começamos a vida chorando. Pais e familiares vibram com o nosso primeiro choro, afinal, é a primeira demonstração de saúde que damos. Na vida de recém-nascido, o choro é a nossa única maneira de expressarmos, ainda que de forma imprecisa, as sensações que nos importunam.
Da linguagem do choro até as primeiras palavras, ainda há muito chorinho a ser dado, principalmente naquela hora em que deixamos de ser os rapaizinhos e mocinhas de 3, 4 ou 5 anos que querem que sejamos e pedimos a mamadeira, a chupeta ou o denguinho na hora de dormir. É o choro de birra, por fome ou por sono.
Temos os nossos primeiros contatos sociais logo que entramos para a escolinha e, até que nos adaptemos satisfatoriamente ao novo ambiente, ainda há muito a se chorar. É o choro pelo qual se chama mamãe.
No entanto, tão logo estejamos integrados aos coleguinhas de pré-escola, chorar é um ato que traz humilhação, sendo alvo da primeira manifestação de escárnio possível, quase um embrião do "bullying": Seu bebê chorão!

A partir da adolescência, chorar ganha várias interpretações, por quem chora e por quem presencia o momento. O choro de desabafo caracteriza-se por poder servir como maravilhosa via de catarse, ou seja, uma forma de liberar tensões ou emoções reprimidas, a ser usada em horas escolhidas pelo usuário, tal qual um calmante. No entanto, é para muitos uma demonstração de instabilidade emocional e, em vez de se dizer "que bebê chorão", sugere-se que a pessoa vá ao analista.

O choro de desespero normalmente associa-se a gritos e a situações de estresse que aparecem inesperadamente e de maneira aguda. Uma mãe que vê seu filho sendo levado por seqüestradores (para não falar do caso recente do João Hélio) ou alguém que recebe uma trágica e arrebatadora notícia não se acanhará em gritar e espernear, como se pedisse ajuda, piedade ou coisa que o valha.

Não se esqueça o choro seco, por dentro. Aquele que quer sair, mas não consegue. Na verdade, traduz-se numa ânsia de choro, e acompanha tristeza, poucas palavras e feições serenas, expoentes de um desencanto com algo da vida ou com ela própria. Depressivo e negativamente contagiante.

Há também o choro social. Discreto, controlado e apresentável, mas nem por isso menos verdadeiro. São lágrimas que escorrem com discrição, óculos escuros em dias de chuva, lenços à mão, além da voz baixa e nefasta. Comum em enterros e missas de sétimo dia.

E como não falar, é claro, do choro de alegria? Um choro reconfortante, que alivia e enaltece, em geral conseqüência de uma boa notícia. Às vezes, confunde-se com o choro pós-susto.

No entanto, nem sempre chorar é uma atitude sincera. Para muitos indivíduos, o choro com lágrimas de crocodilo é um dos mais eficazes e apelativos métodos de exercer chantagem e manipulação.

Chorar também pode ser algo profissional. Acredite ou não, há mulheres que trabalham como carpideiras, pessoas contratadas para chorarem em velórios e enterros. Ah, claro, como poderia me esquecer da dramaturgia, cujos praticantes são especialistas em forjar choros dos mais naturais possíveis?

Nem todos sentem-se à vontade para chorar. O sexo masculino, principalmente, é socialmente impedido de tal ação, devido à conotação negativa que essa atitude ganhou, sendo habitualmente relacionada a desvios sexuais e fraquezas de espírito.

Chorar está relacionado de forma intrínseca ao ser humano. Alguns o fazem em maior quantidade, outros menos, outros não fazem. Alguns por motivos banais, outros por motivos razoáveis e outros por razões menores, bem menores.
De maneira geral, o choro é mais uma forma de exposição, às vezes liberação, do que sentimos, muitas vezes procurando ajuda no outro. Entretanto, nem sempre esse outro recebe de maneira aberta e solidária o clamor emitido. Não por acaso, há o ditado popular sobre cuja temática já escrevi anteriormente: "pimenta nos olhos dos outros é refresco". Se pudesse, trocaria a forma verbal "é" por "ocasionalmente pode ser". Afinal, se não fosse a solidariedade, que, embora hoje deturpada, é base e princípio da sociedade, o que seria de nós? Não sei, talvez fôssemos mais chorões do que já somos, apenas por não podermos contar uns com os outros.

12 comentários:

Anônimo disse...

enfim....chorei =P
hahahahaha
mto bom, mas acho que vc esqueceu aquele choro forçado, naquela situação onde as pessoas choram por conveniencia - filmes, brigas alheias, etc.
mas, de qualquer jeito...chorei!

Anônimo disse...

eu acho o choro uma boa forma de expressar a dor, a tristesa, a alegria, a raiva, a frustração... chorar é como sorrir, como gargalhar... tem choro que agride, que fere (os outros), mas tem choro que alivia, que lava a alma, e sem dúvida é uma boa forma de chamar atenção também, em qualquer fase da vida. Adorei o texto !

Anônimo disse...

Como você bem sabe, meu querido, eu choro por MUITA coisa. Mesmo. E para mim, tem um lado maravilhoso e outro péssimo. Eu sinto um alívio IMENSO quando eu choro, parece que estou me livrando de um peso que eu venho carregando há muito tempo. Mas, como tudo tem um porém, eu sou muito julgada pelas pessoas por isso; para falar a verdade, a maior parte das pessoas que não me conhece me trata como criança, e isso às vezes me irrita. Principalmente quando estou falando sério e ninguém me leva a sério. Às vezes eu sei que eu deveria me controlar, saber qual é a hora e o lugar mais adequado para chorar, mas eu ainda não consigo controlar esse meu defeito (ou qualidade, né, dependendo do ponto de vista). Mas eu bem que queria, e espero um dia conseguir. Enfim, Pizarro (amei! hehe), você não se lembrou de mim ao escrever esse texto, mas o seu inconsciente com certeza. Obrigada por permitir que eu me identificasse com tudo. Parabéns por todo o seu talento. SEMPRE. De uma das suas fãs nº1 e chorona MÓR =P

Marco Túlio disse...

e os EMOs ? ¬¬

Felipe Drummond disse...

foram propositalmente deixados de lado hahahaha

Anônimo disse...

Caro Felipe,
Gostei muito do seu tratado sobre o choro. Aí vai a minha contribuição de biólogo: o choro e o riso são expressões realizadas basicamente pelo mesmo conjunto de músculos faciais. O choro é mais primitivo e, como você mesmo disse, se manifesta imediatamente ao nascer. O riso aparece mais tarde, por volta do terceiro ou quarto mês de vida, sendo a primeira manifestação de reconhecimento da mãe. Depois, pouco a pouco, do reconhecimento de outras caras entendidas, pela criança, como úteis. Muitas vezes, por descontrole da citada musculatura, a criança chora quando devia rir e ri quando devia chorar – situação que pode ser observada também nos adultos que choram de felicidade ou, em situação de extremo desespero, têm ataque incontrolável de riso.

Unknown disse...

Grande Felipe,
Gostei do texto. Ia falar algo parecido com o que o Edson Boia, logo antes falou. Como estou sem tempo de pensar um pouco mais, deixo apenas que gostei da maneira que o texto foi escrito.

Agora... que a temática é meio EMO, vc não pode negar... :p (Afinal, rixa é rixa.)
Abração

Marcelo Cosentino disse...

"chora, não vou ligar, chegou a hora, vais me pagar, pode chorar, pode chorar!"

choro, chorar, isso é uma reação do psicológico. choro de emoção, alegria, tristeza, dor... tudo isso é possível, assim como tudo pode ser impossível. ou não.

abraço

Luiza Conde disse...

Drummond, esse p/ mim virou o meu preferido... Acho que vc realmente conseguiu cobrir praticamente todas as manifestações do choro de maneira sentimental (num ótimo sentido, não naquele sentido melodramático) e sucinta, sem deixar de fora nenhuma idéia necessária e intrínseca as diferentes situações de choro, mas tb sem incluir deliberações absurdas e inócuas que mtas vezes esses temas trazem e que são totalmente desnecessárias. Achei que vc conseguiu abordar o tema de uma maneira mto verdadeira, sem exagerar no sentimentalismo (aí sim no sentido melodramático) mas tb sem querer se distanciar emocionalmente, fazendo uma descrição racional de uma emoção, o que seria ridículo. Meus parabéns, está excelente! Qdo postar uma parte do meu romance no blog, te aviso, ok? Bjos!

Anônimo disse...

Eu acho que chorar faz bem!Liberar tudo de ruim que esta dentro de você pelo choro é otimo..Claro que tem gente que chora de mais porque se deprime muito facil,essas devem procurar analistas...Mas até admiro quem não tem vergonha de chorar,de mostrar o que esta sentindo,é algo dificil se livrar do orgulho.Chorar de alegria é muito bom =P
;* te amo lindo

Natália disse...

otimo tema.
muito bem abordado.

parabens!!

Lenin disse...

O conteúdo do texto está ótimo, tem uma idéias muito interessantes, especialmente quando vc faz paralelos com diferentes choros. Achei muito bom, só achei que linguagem poderia ter sido um pouco menos dissertativa por assim dizer, me pareceu que um texto mais fluido e poético se encaixaria melhor.
Abraços, vou tentar comentar mais!