GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Pimenta nos olhos dos outros é refresco.

Era sábado, acabara de sair da aula, e vinha caminhando com meu amigo desde o colégio em direção a minha casa. Depois de passarmos em um comitê eleitoral de um candidato a senador e interpelarmos fortemente o seu representante, que também nos deu material promocional de um tucano que realmente parece um tucano e quer ser presidente, cruzávamos a Praça Nossa Senhora da Paz quando me deparei com uma cena tanto esquisita quanto natural.

No chão, ao sol, havia um pombo dentro de uma gaiola que mal comportava o bicho, que batia asas, piava, se mexia, enfim, parecia desesperado. Ao seu lado, um senhor de uns 60 anos fumava e observava a praça. Em sua volta, mais de 30 pombos, alguns em posição de chocar, outros indo de um lado pra outro. O que mais intrigava, porém, é que a esmagadora maioria daquela pombarada toda voltava seus olhos para o pobre engaiolado. Aliás, muitos deles estavam tão concentrados que mais pareciam assistir a um espetáculo.

Juro que fiquei espantado com a cena. Não que eu tenha me comovido ou me enternecido, mas num ímpeto decidi ir falar com o senhor que trouxera o pombo para a humilhação em praça pública. Mas a reflexão inerente à situação veio antes.

Pergunto: estariam os pombos num pífio sentimento de impotência, parados, vidrados, diante da impossiblidade de algo fazer para ajudar o seu semelhante? Estariam os pombos apenas satisfazendo-se com o sofrimento alheio? Estariam os pombos no auge de uma curiosidade columbídea (sou sacana: do mesmo jeito que fiz com o murídeo de outro post, vão ao dicionário!) quase-mórbida?

Não sei. Por um instante, eles me pareceram humanos. Aliás, quero dizer que esse por um instante foi meramente estilístico, eles de fato pareceram e continuam me parecendo humanos nesse aspecto.

Creio que muitos de imediato vão levantar o braço e dizer que tudo que eu estou escrevendo aqui é bobagem. Não tem problema, eu respeito. No entanto, continuo a achar que o ser humano muitas vezes fica saciado com o penar do outro. Muitas vezes, ou seja, nem sempre. Esse sentimento tem seus quês de sadismo (numa extensão de sentido), de "ainda bem que não é comigo" e de "vamos ver até onde isso vai". Exemplifico cada um.

I.
Certa vez ouvi de um amigo o chamado Princípio de Conservação da Auto-estima. Explico: a auto-estima em um ambiente se conserva. Portanto, se alguém está ganhando auto-estima, com certeza tem alguém que a está perdendo. Dessa maneira, se tem alguém se danando, há outrem que se enaltece.

II
Muitas vezes é inconsciente e passa despercebido o pensamento de "ainda bem que não é comigo". Aconteceu com algum conhecido uma tragédia, daquelas que ocorrem de 1 em 1 milhão e, às vezes, são tão improváveis quanto ganhar a loteria chutando em todas as casas o mesmo número. Pois é... o que pensar? Ó, coitado de Fulano!!! Pergunto se não passou pela cabeça: Nossa, sou um cara de sorte! (ou de falta de azar, como quiserem)

III.
Acontece simplesmente quando se quer ver o circo pegar fogo. Para quê? Para saber como um circo pega fogo, para ter o espetáculo de fogo, chamas e cheiro de lona queimada. Sensações raramente vivenciadas. Usam-se os outros e as experiências alheias para construir-se experiência própria, como usam-se cobaias em testes científicos.

E o que vocês pensam?

E com vocês, o final da história.
Entramos eu e meu amigo na praça e fomos perguntar ao senhor que trouxe a gaiola com o pombo por que ele o fizera. Ele, muito educado, logo tratou de apagar o cigarro e de conversar simpaticamente conosco. Contou que aquele pombo aparecera em sua janela, doente, com o bico machucado, e que desde então ele pegou o bichinho, levou-o ao veterinário, alimentou-o direito, e estava preparando a ressocialização do animal, que em breve aconteceria, daí ele ter levado o pombo à praça.
(Isso inclusive dará margem em breve a outro assunto nesse blog, as conclusões precipitadas, visto que eu achava que o senhor tinha más intenções com sua ação e, no final, percebi que não era nada disso.)


Até a próxima.
Felipe

(Ouvindo: Beatles - A day in the life)



10 comentários:

Anônimo disse...

Esse principio da conservação da auto-estima me parece familiar... :p

Mas, aguardo o post sobre as conclusões precipitadas, que, me parece, será um bom desdobramento desse. Afinal, eu não defendo os animais, nem mesmo os velhinhos. (hehehe :p)

Anônimo disse...

ótimo texto :D

pena que em relação a esse não me vem nada a cabeça para comentar. XD

Anônimo disse...

Esse final traz uma conclusão importante mesmo: não pressupor nada. É difícil. Chego a me perguntar se não é contra-instintivo.

Pressupor baseado na experiência passada nos permite "acessar" uma quantidade de informações muito maior pra tomar determinada decisão. Todo ser humano faz isso inconscientemente, quase instintivamente mesmo... é inegável que isso é vantajoso. Mas, como tudo na vida, tem seu outro lado (no caso, negativo).

O negócio é a gente tomar consciência de que nem todas as informações que temos a respeito de uma situação são confiáveis, e procurar dar pesos à essas informações proporcionais à certeza de suas fontes.

Hm... ainda tem alguém acordado aí? =P

Anônimo disse...

Oi Felipe !!
Gostei muito do texto, não só pela conclusão que ele traz, mas pela sua origem. É raro ver hj em dia gente q olha ao redor, vê a poesia das coisas, não está focalizado somente nas suas obrigações e objetivos individuais. Não são só textos que devem ser interpretados. A natureza nos passa uma mensagem, assim como a sociedade em que vivemos. Devemos nos interessar em decifrá-la ! Assim pombos são muito mais que meros transmissores de doenças. Quem vive desse jeito nunca cairá no tédio, porque sempre haverá algo novo pra descobrir.
Tá.. me empolguei um pouco hahahaha
beeijos.

Anônimo disse...

Mt profundo o texto...gostei ...uma boa forma de comparaçao da sociedade humana com a dos pombos...como a nossa raça nao é tão mais evoluida assim....
E o velhinho era bonzinho nossa...no começo achei q ele fosse algum tipo de cientista q investigava o comportamento dos pombos..ou sei lá um feiticeiro =PP hauahu
Bjus ;***

Catarina Chagas disse...

Que bom que o velhinho tinha boas intenções. Mas realmente, sobre a reação dos pombos, não tenho muitos dados científicos para opinar... :o)
Beijos

Anônimo disse...

hum.. um amigo meu mandou seu blog, há um tempo estou acompanhando as postagens.. nunca tinha pensado em comentar, nem tinha muito a ver, nem te conheço.. mas essa realmente me surpreendeu! hahá! achei muito boa a história, realmente, dá pra parar e refletir, e essa parte das conclusões precipitadas dá um bom assunto também. é isso..

acho que vc escreve muito bem.. está de parabéns! ;)

Anônimo disse...

ja tinha visto esse cara umas duas vezes e eu e minha mae ficamos pensando: "que diabos esse homem faz com um pombo na gaiola...sera que ele cria pombos...urrhhg que nojo!" =PP

muito profunda e um pouco nojenta a comparaçao dos seres humanos com os pombos...mas ta muito legal xDD

=*

Anônimo disse...

Hey man. First of all, I do realize how awkward it is, for me to speak to someone I haven't met in ages, specially in english, but having known you, I'm aware of your expertise in this area, so this should not pose any problems whatsoever.

So it all starts up like this: I'm randomly browsing the net one day, when I suddenly feel like finding out wtf happened to all those guys I met in my early days of youth. So I log in to Orkut (Yeah, that crap has its uses sometimes), and start looking for old friends. So yeah, I came accross your profile, and found a link to this blog.

You still seem to be the same 'geek' (not meant as an offense) you used to be lol, and judging by your writings - which are pretty good actually - one could tell you seem to have enhanced your skills a lot.

I was rather surprised to find out that we even like the same bands! Shaaman, Angra, Dream Theater, they all kick ass!

I'm also aware that you had quite a few computer skills back then, and you've probably improved then a lot, so I'm looking forward to speaking to you so we can share knowledge and retrieve forsaken memories...

I'll leave my identidy concealed for now, but you should be able to work out who I am. We used to take english classes together (Many years ago).

Add me on msn - vhfal@hotmail.com, I feel like we have lots to talk about.

~ NightWolf

Anônimo disse...

a princípio lendo o texto também achei que o Sr. não fosse uma boa pessoa, como julgamos de forma errada as pessoas...:)