GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Como uma pessoa se sente depois de matar alguém?

Fico imaginando o que se passa pela cabeça de alguém que mata outrém, da maneira que o for.

I.
Imagino um motorista que atropela e mata um pedestre sem intenção de fazê-lo. Ele sai do carro, vê a pessoa estatelada no chão, com um red glow circundante (para não dizer que havia sangue para tudo que é lado), sem movimentar-se, sem respirar, enfim, sem vida.
O que pensa a pessoa que não freou na hora certa,ou distraiu-se ouvindo o rádio e não notou que alguém cruzava a pista? O que ela pensa a respeito do outro cidadão que na correria do dia-a-dia viu sua vida literalmente atropelada? E se o rádio estivesse desligado e as atenções estivessem direcionadas ao volante? E se o acidentado tem filhos que o esperam e que dele dependem, esposa que o ama, pais que dele se orgulham, sonhos que o esperam... por quanto mais eles serão adiados? E se... tudo aquilo não tivesse acontecido?
E logo depois vêm os curiosos, todos naquele olhar mórbido, para ver o que aconteceu, para ter uma aula de anatomia cujo professor é a própria vida, para satisfazerem-se perversa e inconscientemente de que o morto não foi um deles, ... E logo depois vem a polícia, que burocraticamente encara o drama das pessoas e registra o caso como se fosse mais um - e não deixa de ser, para eles. E vem o Corpo de Bombeiro, ao som das sirenes ensurdecedoras, que alucinam e inserem combustível na cadeia de pensamento dos "e se..." e dos "e agora".
Pois é... e agora, José? Você matou um cara e está aí, ao lado do infeliz, ambos sem ação, um pela própria morte, outro pela morte alheia, pensando não apenas nos trâmites legais que você vai encarar, como também naquelas cenas horríveis que, infelizmente, tornar-se-ão inesquecíveis. Por que aquilo foi acontecer justo com a sua pessoa? E, pior, você não teve a intenção!


II.
Em seguida, imagino alguém que, só para aparecer, costuma andar armado pra sair na rua. Não é mau, não é perverso, tem boas intenções, mas não resiste a fazer uma pose de machão briguento. Certo dia, está no bar tomando umas cervejinhas com uns amigos e respectivas esposas, curtindo um futebol na televisão e rindo dos causos cotidianos que contam uns aos outros. Por azar, na outra mesa há um engraçadinho um tanto piadista que não para de fazer gracinhas à esposa do indivíduo machão e, certa hora, esse se irrita e começa uma clássica briga de bar, que em situações comuns terminaria numa pequena pancadaria, quebra de cadeiras e ânimos exaltados, se não fosse pela arma que o cara portava. Esqueci de dizer que ele era esquentadinho. Aliás, sangue quente e poder são componentes de uma mistura letal. Nunca dão certo. Xingamento vai, xingamento vem. A arma é sacada e, em poucos segundos, todos em volta se espantam, arregalam os olhos e assistem ao espetáculo de quando o dedo indicador faz o trágico movimento para trás e sela ali o destino de um abusadinho. Apenas um abusadinho.
A ficha logo cai para o "machão" que, ali, vê cair sua macheza quando o seu "e agora?" remete ao xadrez para o qual logo será enviado e onde terá de realizar algumas brincadeiras com seus companheiros de cela. Esse cidadão acaba de tirar a vida de outrém, por um motivo fútil. Não soube ouvir quieto, não soube ignorar, não soube dar a outra face. Danou-se por não levar desaforo para casa, danou-se por querer posar de "eu tenho a força", danou-se porque achou que valia a pena lutar pelo que chamam de honra e dizem ser importante, danou-se!
E, da mesma forma como aconteceu com o pobre do motorista, todos fazem uma roda em volta do agonizante abusadinho, e presenciam esse a titubear suas últimas palavras, não compreendendo, porém, se essas são xingamentos (jamais chegarão ao destino), lamúrias (jamais sensibilizarão quem as ouve) ou últimos pedidos de vida (jamais serão atendidos). Há o último suspiro. Novamente pergunto... e agora, José? Não tarda, a polícia vem, junto com sua sirene insuportável. Lá está você, olhando também para o morto, com um arrependimento que nem cabe na sua razão, com um desejo inexplicável de poder voltar ao tempo e remendar uma parte do recente passado infeliz, que sufoca seu presente e condena seu futuro. Você é algemado e tiram, assim, a sua liberdade, já que você tirou a vida de outrém e portanto oferece risco à sociedade. Mas você? Um cara cheio de boas intenções que só curtia posar de machão? Pois é, meu amigo. Você. A sorte o escolheu. Sua mulher o olha com nojo e se afasta. Seus amigos também afastam-se, com medo de não serem tomados como cúmplices no crime. Sozinho no mundo, a viatura o espera, com destino ao inferno. Sua vida ali acaba. Naquele dia, você matou alguém e cometeu suicídio com apenas uma bala.



III.
Logo depois imagino um matador de aluguel. Ele procura seu alvo, localiza, mira, puxa o gatilho, confere se a vítima já bateu as botas e, em seguida, vai embora friamente, como alguém que bate o ponto depois do expediente e segue para a casa.
E depois daí não consigo mais imaginar nada. Isso para mim não faz sentido algum. Não consigo abstrair a esse ponto. Perdoem-me, caros leitores.



(Ouvindo: Silêncio.)

13 comentários:

Anônimo disse...

Uow vc esta dramatico hj eihn ( e semi-sanguinario)=P
Mas eh verdade como será que se sente alguem q mata assim por aluguel..agora parei pra pensar...eh soh um trabalho...q horror =| mas da pena dos q atropelam por acidente.. =/
-----
Te amo ;* Bjus

Anônimo disse...

trágico... porém muito bem escrito... vc tem o dom cunhadinho... tem sim... xD
:*

Anônimo disse...

po drummond , esse eh o melhor post do blog( na minha leiga opinião). uma puta reflexão , e uma missão impossivel: pensar como outra pessoa.mas vc conseguiu , e o desfecho foi especialmente bom: realmente qualquer coisa q vc dissesse não caberia na mente de uma pessoa tão fria. A maior prova d q eu gostei eh q esse eh o primeiro post q eu faço um comentario sem discordar d nada.
abração muleke.

Anônimo disse...

Tá melhorando mt Drummond,mas discordo parcialmente de voçê em certos pontos
1-O kara que dirige desatento representa um risco para sociedade e se for comprovado que ele estava desatento ele vai preso.Afinal ao tirar sua carteira de motorista ele é obrigado a fazer diversos testes para se mostrar capacitado a assumir essa responssabilidade
2-O kara irritado que anda com uma arma representa um risco pra sociedade.Tanto que no seu exemplo ele mato alguem.Ele ao tirar o porte ele passa por testes mais complexo do que a de carteira de motorista e por isso é responsavel por seus atos e provavelmente ira preso maisnão ficara muito tempo preso.
3-Já o terceiro caso é diferente,mas você tem que entender que voçê é condicionado a achar que a vida humana vale alguma coisa geralmente essas pessoas vem de ambientes onde a vida humana não tem valor e é condicionado para não se importar com a vida alheia.E esse provavelmente não sera reo primário e vai pegar uma poa pena a menos que tenha um bom advogado e alegue insanidade.

Mas enfim apesar de não estar explícito acredito que voçê acredita que a pena deve somente ser corretiva e não punitiva.Discordo novamente parcialmente já que penso que o medo de uma punição é inibitivo então tambem funciona para reter a criminalidade

Anônimo disse...

Um puta texto reflexivo, Drummas!
O pior é que em cada uma das hipóteses, podemos gerar mais dezenas de situações...
O playboyzinho que foge após atropelar um cidadão enquanto andava em alta velocidade, o cara armado no transito, e por aí vai.
A única interrogação é, o que pensa um matador de aluguel?
Ele mata por obrigação, pois é forçado por um bandido maior?
Ele mata por dinheiro, mas mantém o remorso?
Ou ele mata por prazer, pois ganha dinheiro?

é, meu amigo Drummas...
Não consigo abstrair a esse ponto.

Anônimo disse...

e agora José?
para onde?

Curioso o fato de eu ver esse link no msn q vc me passou justamente depois de eu assistir um filme chamado "Heróis Imaginários" que trata de um tema semelhante, a morte e suas conseqüências.
Vale a pena ver!

Anônimo disse...

adorei, felipeeenho, seu jeito de escrever. muito claro, as idéias bem dispostas, dá prá acompanhar todo o seu raciocínio! morte é intrigante, não é? prá quem vai e prá quem fica ! difícil... e irreversível. depois vou ler os anteriores. beijocas.

Anônimo disse...

...
e agora José?
sem mais, este texto merece ser enviado pros jornais, porque se bobear eles te contratem.

abraço

Anônimo disse...

que profundo...é a primeira vez que eu penso sobre isso e fiquei curiosa...

voce escreve muito bem xD

=*

Anônimo disse...

você tira dez em todas as redações do colégio, né?

Anônimo disse...

eu já vi um documentário e um programa de tv da Oprah em que mostrava pessoas que mataram outras por acidente e como a vida delas mudou depois do fato, muitos muitas vezes são perdoados pelos parentes das vítimas, mas não coneseguem se perdoar, muito triste... :)

Anônimo disse...

Esse eh meu primeiro comentario no seu blog,espero q naum se incomode:

O texto tah mto bom cara, sempre me perguntei sobre isso.A parte q mais gostei foi a do machão, um cara simples q foi traido pela sua cabeça quente e seu orgulho, assim como o engraçadinho q fazia as piadas para se sentir superior, no final ambos se deram mal

obs:eu to lendo os textos numa ordem aleatória e esse foi o q mais chamou minha atençao, ateh agora o melhor topico q eu li, apezar d todos serem exelentes
parabéns pelo site.

Anônimo disse...

Nunca matei ninguém, mas sofri um acidente de moto que eu deixei minha ex esposa em estado gravíssimo no hospital.... agora ta mais ou menos... ela me largou depois de tudo... faz 2 anos o acidente... me sinto mal pelo acidente até hoje... Horrível sensação.... as vezes do nada da vontade de chorar, não pelo fato do divorcio ter sido consequência, mas sim pelo acidente em si... não recomendo a ninguém esse tipo de experiencia... Se ela se recuperou do gravíssimo imagina se ela tivesse morrido... acho que eu teria morrido junto... Até pensei em suicídio a um tempo atras... Mas a fase da depressão extrema passou, ja to bem... mas um pouco de peso fica, minha vida nunca mais foi a mesma...