GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sábado, 23 de junho de 2012

AMOR NOVINHO

Era dia dos namorados e eu já estava meio cansado das demonstrações publicas de afeto afeitas ao dia. Ora invejáveis, porque solteiro, ora apenas cafonas, porque o amor romântico é por si cafona quando somos terceiros, especialmente quando empatia não nos é o forte. Não me é o caso, para meu próprio desespero...

Eis que parei no sinal e começou a atravessar a rua um casal que devia ter lá seus 15 anos. Ela estava de uniforme escolar e segurava uma flor contra o peito. A outra mão dava ao garoto, que, vestido à paisana (em considerando que Abercrombie ainda não tenha virado um uniforme "laico" para a juventude carioca), destilava amor: tinha cara de que aquele era o primeiro dia dos namorados em que ele passava acompanhado. Quanto a ela, não tive duvidas: seu semblante era tão maravilhado que parecia suspirar.

Mergulhei meu olhar neles, que se entreolhavam com timidez e doçura, com uma cara de descoberta e arrebatamento. Não devem estar entendendo ainda porque aquela coisa tão linda faz tanta gente sofrer, chorar e até morrer. Seria encrenca de gente grande?

Se for o caso de que pensaram isso, não sei se ingênuos são eles ou se sou eu. Se ingênuos eles, aviso que desde logo os perdoo e os admiro por amarem sem as antecipações angustiantes que hajam carregado de desamores passados.

Se ingênuo eu, por estar praticamente babando diante de cena tão linda e pontual, reservo-me a defesa de que, independente das agruras que o amor esconda e reserve para o futuro dos amantes - e estatisticamente amores não dão certo para sempre -, o amor me comove esteticamente, especialmente se forem esses amores açucarados, retratados como polaróides dos melhores momentos, a desconsiderar o marasmo da rotina e as neuroses do passado. O amor é lindo mesmo.

De mãos dadas atravessaram a rua. Estavam tão distraídos e deslumbrados que me pareceram desfilar sobre um tapete vermelho imaginário. Acho que nem no casamento poderiam parecer tão plenos. Subiram a calçada como se subissem ao altar. A flor solitária era segurada como buquê. Os passantes de Ipanema eram os convidados. O uniforme virara branco. A Abercrombie virara paletó. O doze de junho agora era treze de junho. O barulho dos carros e a freada dos ônibus tocavam Elgar. Esperei jogarem arroz do alto das janelas, mas parecia que só eu percebia aquela cena.

O sinal abriu e foi como se eu aterrissasse. Buzinaram atrás de mim, como se o atraso dos outros fosse mais importante que meu devaneio romântico sobre amor alheio. As buzinas devem ter razão, mas peço logo que me perdoem: era dia dos namorados e, só, só estava indo para a faculdade.

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