GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

NO MORMAÇO DE UM DIA NUBLADO

Há dias cinzentos na vida: esse não é um problema. A vida é meio cinzenta. Nem sempre vamos para a cama com o cansaço gostoso de final de um dia maravilhoso, da mesma forma que nem sempre a cama, em gesto de resignação, se mostra a melhor solução para virar a página.

A graça dos extremos é o cinza. Porque o preto é o preto, o branco é o branco. E o cinza é só uma indeterminação entre pólos determinados: nunca se é um, nunca se é outro. Na verdade, se é um pouco de um, um pouco do outro... no fim, um pouco de si mesmo. Equilibradamente desequilibrado.

O cinza é o resultado de uma balança com ponteiros trêmulos. Engana-se e se traveste pela luz que nele incide. Nebuloso é percebê-lo. Ora é tão escuro que é preto, ora é tão claro que é branco. Nunca se revela por inteiro e deixa nos olhos uma dúvida sutil: faltou ver algo, porventura apagado pela escuridão ou ofuscado pela claridade?

O céu encoberto é a melhor paleta de cinzas que há. Um grande espelho a céu aberto, digo, a céu fechado. Neles se enxergam - e enxergam os seus dias - aqueles que não estão enebriados por júbilo nem afogados em penar, pois esses não conhecem os meios-termos.

O cinza é a virtude dos sãos, dos comedidos, dos côngruos, dos sóbrios, enfim, dos chatos para quem a vida nem sempre é sonho ou pesadelo. A virtude dos que conseguem ver seja o sol tentando aparecer por entre as nuvens, seja as nuvens carregadas encobrindo o brilho do sol, pois, mais do que sol ou chuva, vêem o mormaço perene e uniforme que queima, esquenta e ilumina. Sabem a obviedade - e por isso não sofrem por antecedência - de que, enquanto não escurecer de vez, ainda é dia.

2 comentários:

João Manoel Nonato disse...

O alento - ou desalento - da vida é saber que a maioria dos dias serão cinzas.

O que seriam dos dias claros sem os dias cinzas?

Unknown disse...

Realmente...

Adorei o tema e a direção do texto.

;*