Eu olhei para o brócolis e tive vontade de escrever um texto, mas fiquei me indagando sobre o que meus caros leitores teriam a dizer sobre isso depois de mais de um mês que eu fiquei sem escrever, digo, sem publicar.
O brócolis não tem lá muitos atributos que mereçam ser poeticamente entronizados, se lá é verdade que a poesia é capaz disso tudo. O brócolis é verde como qualquer planta, é relativamente macio, como qualquer alimento e é saboroso como qualquer coisa que se põe à boca quando se está com fome. E ele também é rugoso. Rugoso de um jeito que chega a incomodar, mas na aula de biologia a gente aprendeu que é só para aumentar a superfície de contato, então vamos relevar essa marca da mãe natureza.
Mas o brócolis hoje foi digno de um texto. Do mesmo jeito que outros assuntos frequentemente aqui o são. Não porque sejam em si dignos ou indignos, românticos ou não-românticos, tocantes ou não tocantes. Amor em si não é poesia. Decepção em si não é poesia. Nem poesia em si é poesia, oras!
O brócolis também não é poesia em si. E para que se torne, não basta que eu fique aqui elogiando suas curvas, seu sabor, seu traço geométrico, ... É preciso que eu tire dele algo para além dele mesmo. Talvez seja essa a graça da poesia: não estar em si, não ser ínsita ao objeto poético. Ela dialoga com quem lê ou com outra coisa qualquer que quem lê percebe.
O brócolis hoje talvez não faça sentido nenhum a vocês. Nem a mim faz muito, para dizer a verdade. Mas foi fantástico olhar para o brócolis e ter o ímpeto de fazer com que ele não fosse só mais um brócolis comido, digerido e expurgado na minha vida. Foi fantástico fazer com o brócolis o mesmo que eu faço com outras coisas mais nobres da vida. Tudo bem que o brócolis não é tão nobre nem tão inspirador quanto a paixão, a desilusão e esses sentimentos arrebatadores que comumente me encantam. Fato é que esses sentimentos são tão mais brócolis do que eu pensava quanto o brócolis é tão mais esses sentimentos quanto eu supunha.
No "papel", tudo cabe...
9 comentários:
Isso me soou demasiado parnasiano, ainda que em prosa... =P
Já eu não achei parnasiano.
Penso que, se fosse parnasiano, limitar-se-ia (!) à descrição do brócolis. O que, aliás, soa cômico.
O texto discorre não sobre o brócolis em si, mas sobre o chamado inelutável da escrita, a explosão poética, que o mesmo causou no escritor.
Mostra, assim - penso eu -, que a poesia repousa em tudo, até no brócolis. Ou em nada.
No final, dá no mesmo. A poesia está nos olhos de quem lê.
Perfeito João Manoel. O texto me soou como uma discorrência vazia sobre o chamado inelutável da escrita. Pode ser que se me ocorressem explosões poéticas ao olhar um brócolis o texto me fosse mais verdadeiro.
Eu gosto de brócolis.
Decisão acertada não ter feito Letras.
o brócolis foi só a primeira coisa que me deu vontade de escrever após o esforço que está sendo não escrever sobre alguns temas. mas o brócolis foi tão um instrumento para não escrever sobre aquilo que eu escapei necessariamente de falar do brócolis como só um brócolis.
eu também discordo que seja parnasiano. a singularização parnasiana é muito diferente (e na maioria das vezes superficial... ). acho que foi muito mais um "metatexto" que resultou na reflexão que alguém fez acima: não importa a origem da inspiração ou a ausência dela,no final o que vale é a interação entre as palavras escritas e aquele que se propõe a ler.
Voltando ao brócolis...
Geometricamente, sua forma é bastante curiosa: tem dimensão de 2,66.
Não sei se é parnasianismo, mas ele merece.
http://hypertextbook.com/facts/2002/broccoli.shtml
Hugo Monteiro Spinelli
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