Sua aparência expõe suas entranhas e não por acaso nos embrulha o estômago. Carne e sangue misturados, deformados. Reduzido a 2D, planificado contra sua vontade e carimbado no preto do asfalto, como uma efígie fúnebre num museu a céu-aberto.
Cerca-se dos mais variados públicos, entre os passantes que caminham apressados. Alguns nem percebem, porque distraídos. Outros percebem e desviam o olhar, enojados. Alguns percebem primeiro pelo tato: infortunados. Outros percebem e seguem admirando com certa curiosidade mórbida. A indiferença exige um esforço: a morte é muito distinta para se assimilar à paisagem.
Velado publicamente com a notoriedade que não tem um animal e muito menos um indigente, o pombo é finalmente recolhido para não se sabe lá onde e some na complexidade da cidade, depois dos seus 15 minutos de fama póstuma. Deixa com o mundo sua mensagem e, por meu intermédio, sai da vida para entrar numa história.
2 comentários:
O texto me lembrou "A hora da estrela"... :)
que honra
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