Não mais apertarei todos os botões para ficar ali só mais um pouquinho, curtindo o momento de transgressor.
Não mais pularei com os amigos e nem balançarei os quadris para que o elevador trema.
Não mais colocarei a mão entre as aberturas da porta pantográfica, como se brincasse com a sorte diante do aviso em contrário "mantenha-se afastado".
Não mais apagarei as luzes sorrateiramente, para fingir-me num filme de terror ou para assustar minha mãe. Nem apertarei o botão de emergência para simular que o elevador parou.
Não mais beijarei no elevador, aproveitando a privacidade e curtindo a adrenalina de o elevador poder parar e sermos surpreendidos.
Não mais me debulharei como um maníaco sobre a tal lei municipal de 1996 e as não sei lá quantas UFIRs cominadas aos infratores, o que talvez tenha sido meu primeiro contato com algum texto legal, daí alguma obsessão.
Não mais começarei a me despir antes de chegar em casa, quando o calor for muito, quando o desconforto da roupa for demais ou quando for preciso agilizar o processo para satisfazer o quanto antes imperativos fisiológicos invencíveis.
Não mais encostarei a cabeça na parede do elevador olhando para baixo nos dias tristes, ou olhando para cima nos dias cansados, nos quais o trajeto do térreo até o nono andar é um precioso momento de descanso.
Não mais viverei genuinamente a solidão do elevador, nem sua introspecção típica ao olhar para o nada daquelas paredes cubiculares, porque o nada estará me fazendo companhia e se fazendo perceber, apesar de ser nada. É que nessas horas o nada se faz tudo, e me olha, e me observa, e me constrange.
Tentarei encará-lo. E, quando olhar para o nada materializado em câmera, verei ainda meu próprio reflexo, como uma tácita chamada de consciência: "se toca!!!".
E depois disso tudo ainda querem que eu sorria...
10 comentários:
Genial. Odeio essas câmeras dos tempos de violência. Era tão bom quando a gente tinha esses momentos a sós com nós mesmos...
A presença da câmera não o impede de fazer tudo isso. É questão de bom senso, e amor à sua vida social.
Mas curiosamente nunca morei em prédio com câmera no elevador (ou era bem escondida)...
você sempre fala de necessidades fisiológicas nos textos.
é porque os textos, se não são uma delas, muito se assemelham a uma delas :P
a terra onde mora o peter pan fica entre a vila e o maracanã
Não mais... Sorrirei em resposta, sem propósito. =)
Não gostaria de morar no mesmo prédio que você.
Não antes da câmera, pelo menos ;)
Foucault discorda de você
Que massa! huhuhu =]
Eu gosto das cores do seu blog.
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