Aconteceu essa semana.
- É assim ó: uma bala redonda, pequena, vem de várias cores numa mesma embalagem, são enroladas num papelzinho assim... tô procurando há tempos e não acho.
- Ahn... acho que não tem não.
Aquela vontade de uma sobremesa que dá depois do almoço estava difícil de aguentar. Pior, quase como uma grávida, despontara para um desejo súbito, por algo específico, insubstituível. Procurava com meus amigos de baleiro em baleiro a tal bala.
- Moça, você tem uma balinha azedinha, pequenininha, vem de várias cores, ... - perguntava, tentando gesticular o formato da balinha.
Uma amiga minha, que também estava tentando lembrar a que bala eu me referia, falava nomes e tipos de bala, mas não acertava. Até que despontei com a brilhante associação.
- Ela é meio achatada, um disco bicôncavo... parece uma hemácia.
Risos gerais. Continuei procurando. Fui a cinco baleiros. A duas bancas de jornais. Ninguém sabia que bala era essa.
- Olha, se por acaso você achar a bala, traz o papelzinho aqui que a gente compra no distribuidor e vende, tudo bem? - falou uma vendedora de forma muito atenciosa.
Usando a última carta do baralho, fui à cantina do colégio. Ou era ali, ou não era mais. O momento recebeu a devida solenidade. Chegando à cantina, havia mais dois ou três alunos de séries mais baixas do Colégio, que ali faziam não sei o que.
- Oi moça, tenho uma missão difícil para você. Já procurei em tudo que é lugar, mas não acho. Quero uma balinha azedinha, pequenininha, achatada nos pontos, vem umas 12 por embalagem, ela é embalada que nem jujuba. Sabe qual é? - perguntei.
- Deve estar mentindo. - disse o moleque que me ouvira, já me olhando de forma insolente.
- Nada. - desconversei.
A moça me apareceu com uma jujuba. Não, eu não queria jujuba.
- É uma bala mesmo... tem certeza que não tem?
- Tem aí, "Cleiton"? - perguntou ao outro balconista.
- Tem não. - respondeu o colega.
- Ahn... então deixa. Obrigado. - lamentei, afinal, teria que ficar sem a tal balinha naquele dia.
Não iria escapar daquela só com essa frustração. A situação precisava de um gran finale, algo marcante, algo tocante, algo imprevisível, quiçá inesquecível. E a inserção inusitada daquele dia veio por parte do moleque, que destilou seu instinto zoador pré-adolescente, seu ódio, sua imaturidade, sua única forma de aparecer para o outro coleguinha.
- Se *udeu, haha! - pronunciou sua presunçosa, e suja, boca.
Pensei comigo num infinitésimo de segundo. Qual foi a daquele rapazinho? Protótipo de gente... Ainda tem muito pra ver na vida. Criança mal-amada? Criada pela empregada? Usando Adidas, correntinha... e se achando o máximo. Não sabe o que é largar a banana. Não sabe o que são reações orgânicas. Um grande merdinha.
Sou polido. Às vezes. Mas com quem não conheço, sou polido sempre. Se sou mal-amado, já não sou criança. Nunca tive empregada. Uso Adidas, mas não uso correntinha. Já larguei a banana. E já aprendi 80 reações orgânicas. Uns me acham um grande merdinha. Outros não. Sou polido. E fiz-me polido:
- Nossa, está exaltado esse rapaizinho, hein? - falei e fui embora.
Saí de fininho. Aquela pessoa não tinha nada a me acrescentar e distância é o que mais quero de energúmenos.
A balinha... realmente fiquei sem. E ainda levei essa desaforo pra casa. Sim, eu levo desaforo pra casa.
[após um longo e tenebroso inverno de dois dias...]
Estava hoje no Zona Sul, fui comprar um biscoito com uma amiga, que também me acompanhara no incidente da balinha dois dias antes. Na fila do caixa, conversávamos, até que meus olhos foram de encontro a algo em que custei a acreditar.
Jogado no meio de muitas balas nos penduricalhos que há no caixa, lá estava a balinha que tanto procurava. Um pacote com 8. Cada deles, com 12. 96 balinhas à minha disposição. Não hesitei e peguei. Era a balinha. A azedinha, a pequenininha, coloridinha, embalada feito jujuba, em forma de disco bicôncavo e parecendo uma hemácia. No Zona Sul, jogada, sozinha, com a embalagem meio empoeirada, até.
Paguei. 8 reais. Não valia tudo isso, eu sei. No Centro, compro pela metade do preço. Mas ali valia tudo. Pela balinha eu fazia tudo.
Moral da história:
Quem não procura, acha.
Sem moral da história:
O moleque.
GUIA DE LEITURA
Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):
Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
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Vigília
(os sonhos nos enganam...)
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Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
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(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)
(a nostalgia do que não tive)
6 comentários:
Hahahaha muito legal =)
Essa balinha eu costumava ganhar em viagens de onibus...acho q nem nome tem =P mas eu sei q vende em balero de cinema!
;*
hahah adorei.
nossa nem m lembrava dessa balinha...
realmente,qm ainda nao passou pelo segundo ano,nao sofreu com orlandino e paulo,nao sabe o real sentido da expressao 'se *udeu' ¬¬.
enfim,boa sorte nos vestibulares.
bj
É bala soft?
eu sei que bala é essa!!!!! No Zona Sul tem é? Bom saber!
Amei a moral, é isso mesmo. Sempre assim. Gostei, querido. E quanto à balinha né... cheguei toda feliz com o pacote pra te dar, um presente meu, do Miti e do Matheus, e vc... "aaah ja achei"... ¬¬ haha
beijo da irmã
essa balinha que parece uma hemácia chama se balas "soft". Bastante rara hoje em dia, ams se vc procurar bem ainda encontra. Bala com gosto de infância...heheh
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