GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

terça-feira, 29 de agosto de 2006

O TEMPO EM CINCO TEMPOS

Em virtude da comemoração dos 60 anos de minha escola e do dia de Santo Agostinho, lançou-se no CSA um concurso de poemas, cujo tema a ser desenvolvido era o tempo.
Confesso que escrever poemas não é uma atividade que me atraia bastante, mas resolvi escrever alguma coisa. E saiu isso aí abaixo.
______________________________________

O TEMPO EM CINCO TEMPOS.

Tempo de parar,
parar para pensar.
Tempo de pensar,
pensar no seu passar.

Se parar, porém, não poderei aproveitar:
o carpe diem, não terei como praticar.
Resta-me apenas pensar
no tempo que tudo há de trazer e de levar.

Há tempo para dar e receber amor,
esse que transforma instante em eternidade.
Há tempo para plantar e para colher,
e nesse ciclo perpetuar a continuidade.

Há tempo para se dar ao próprio tempo,
e ter, assim, o melhor remédio.
Cada um tem seu próprio tempo,
e, para aqueles que ele é lento, há o tédio.

O tempo passa e os dias vão.
O tempo passa e os dias vêm.
Sou um constante mutante na vida,
essa louca espera do dia em que irei também.

______________________________________

(A propósito, estou entre os dez finalistas do concurso, cujo resultado final sairá na quinta-feira, mas duvido que ganhe, pois os outros poemas no páreo estão bem melhores)

(Ouvi ao fazer o poema:
Angra - Time
Pink Floyd - Time ... sugestivo não?)

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Como uma pessoa se sente depois de matar alguém?

Fico imaginando o que se passa pela cabeça de alguém que mata outrém, da maneira que o for.

I.
Imagino um motorista que atropela e mata um pedestre sem intenção de fazê-lo. Ele sai do carro, vê a pessoa estatelada no chão, com um red glow circundante (para não dizer que havia sangue para tudo que é lado), sem movimentar-se, sem respirar, enfim, sem vida.
O que pensa a pessoa que não freou na hora certa,ou distraiu-se ouvindo o rádio e não notou que alguém cruzava a pista? O que ela pensa a respeito do outro cidadão que na correria do dia-a-dia viu sua vida literalmente atropelada? E se o rádio estivesse desligado e as atenções estivessem direcionadas ao volante? E se o acidentado tem filhos que o esperam e que dele dependem, esposa que o ama, pais que dele se orgulham, sonhos que o esperam... por quanto mais eles serão adiados? E se... tudo aquilo não tivesse acontecido?
E logo depois vêm os curiosos, todos naquele olhar mórbido, para ver o que aconteceu, para ter uma aula de anatomia cujo professor é a própria vida, para satisfazerem-se perversa e inconscientemente de que o morto não foi um deles, ... E logo depois vem a polícia, que burocraticamente encara o drama das pessoas e registra o caso como se fosse mais um - e não deixa de ser, para eles. E vem o Corpo de Bombeiro, ao som das sirenes ensurdecedoras, que alucinam e inserem combustível na cadeia de pensamento dos "e se..." e dos "e agora".
Pois é... e agora, José? Você matou um cara e está aí, ao lado do infeliz, ambos sem ação, um pela própria morte, outro pela morte alheia, pensando não apenas nos trâmites legais que você vai encarar, como também naquelas cenas horríveis que, infelizmente, tornar-se-ão inesquecíveis. Por que aquilo foi acontecer justo com a sua pessoa? E, pior, você não teve a intenção!


II.
Em seguida, imagino alguém que, só para aparecer, costuma andar armado pra sair na rua. Não é mau, não é perverso, tem boas intenções, mas não resiste a fazer uma pose de machão briguento. Certo dia, está no bar tomando umas cervejinhas com uns amigos e respectivas esposas, curtindo um futebol na televisão e rindo dos causos cotidianos que contam uns aos outros. Por azar, na outra mesa há um engraçadinho um tanto piadista que não para de fazer gracinhas à esposa do indivíduo machão e, certa hora, esse se irrita e começa uma clássica briga de bar, que em situações comuns terminaria numa pequena pancadaria, quebra de cadeiras e ânimos exaltados, se não fosse pela arma que o cara portava. Esqueci de dizer que ele era esquentadinho. Aliás, sangue quente e poder são componentes de uma mistura letal. Nunca dão certo. Xingamento vai, xingamento vem. A arma é sacada e, em poucos segundos, todos em volta se espantam, arregalam os olhos e assistem ao espetáculo de quando o dedo indicador faz o trágico movimento para trás e sela ali o destino de um abusadinho. Apenas um abusadinho.
A ficha logo cai para o "machão" que, ali, vê cair sua macheza quando o seu "e agora?" remete ao xadrez para o qual logo será enviado e onde terá de realizar algumas brincadeiras com seus companheiros de cela. Esse cidadão acaba de tirar a vida de outrém, por um motivo fútil. Não soube ouvir quieto, não soube ignorar, não soube dar a outra face. Danou-se por não levar desaforo para casa, danou-se por querer posar de "eu tenho a força", danou-se porque achou que valia a pena lutar pelo que chamam de honra e dizem ser importante, danou-se!
E, da mesma forma como aconteceu com o pobre do motorista, todos fazem uma roda em volta do agonizante abusadinho, e presenciam esse a titubear suas últimas palavras, não compreendendo, porém, se essas são xingamentos (jamais chegarão ao destino), lamúrias (jamais sensibilizarão quem as ouve) ou últimos pedidos de vida (jamais serão atendidos). Há o último suspiro. Novamente pergunto... e agora, José? Não tarda, a polícia vem, junto com sua sirene insuportável. Lá está você, olhando também para o morto, com um arrependimento que nem cabe na sua razão, com um desejo inexplicável de poder voltar ao tempo e remendar uma parte do recente passado infeliz, que sufoca seu presente e condena seu futuro. Você é algemado e tiram, assim, a sua liberdade, já que você tirou a vida de outrém e portanto oferece risco à sociedade. Mas você? Um cara cheio de boas intenções que só curtia posar de machão? Pois é, meu amigo. Você. A sorte o escolheu. Sua mulher o olha com nojo e se afasta. Seus amigos também afastam-se, com medo de não serem tomados como cúmplices no crime. Sozinho no mundo, a viatura o espera, com destino ao inferno. Sua vida ali acaba. Naquele dia, você matou alguém e cometeu suicídio com apenas uma bala.



III.
Logo depois imagino um matador de aluguel. Ele procura seu alvo, localiza, mira, puxa o gatilho, confere se a vítima já bateu as botas e, em seguida, vai embora friamente, como alguém que bate o ponto depois do expediente e segue para a casa.
E depois daí não consigo mais imaginar nada. Isso para mim não faz sentido algum. Não consigo abstrair a esse ponto. Perdoem-me, caros leitores.



(Ouvindo: Silêncio.)

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Sofrer por antecedência

Quando o limite entre o poder ser e o de fato ser é inconscientemente desprezado.


Começarei exagerando:

Quem nunca se desesperou com a simples expectativa de vir a morrer?

Não é preciso ir tão longe (ou tão perto, como diriam os mais pessimistas ou, mesmo paradoxalmente, os que estão de bem com a vida e com a morte), basta imaginar-se estar diante de uma situação de difícil de resolução que o espírito murídeo (sim, eu estou de sacanagem, vão procurar no dicionário o que é isso) rapidamente baixa e lá se vão as unhas.

As más expectativas nos desesperam, nos enervam e fazem com que pensemos na sucessão de más fatos que decorrerão do primeiro azar. E, pior, acabamos sentindo de fato as sensações que antes apenas imaginávamos. É pensar em estar triste e aí ficar triste.

Sofrer por antecedência muitas vezes nos consome as forças para lutar contra a realidade que está por vir. É gastar tinta demais pra pintar o diabo maior do que ele é.

Por outro lado, há quem sabe lidar com esse sofrimento antecipado e o usa para obter alívio, nos moldes do que eu descrevi no post Ufa!, escrito anteriormente para esse blog. Eu explico: fulaninho sofre, descabela-se, imagina-se na pior das situações, mas nem por isso se deixa abater e, no final, contorna triunfantemente o problema apenas para poder sentir-se aliviado e vencedor da grandiosa batalha. Um tanto wannabe vítima-coitado e também masoquista, não?

Aliás, em relação a tudo isso cabe um belo provérbio que certa vez li em um fórum de jogos e nunca mais me saiu da cabeça:

"Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez"


Grande abraço,
Felipe Drummond

PS: Perdoem-me pelo atraso em postar novas mensagens. Aconteceu que as aulas recomeçaram, a preguiça voltou, certas coisas boas me aconteceram e, de certa maneira, elas me impedem de pensar nas questões bastante profundas. Como disse Clarisse Lispector, é a "leve embriaguez do amor".

(Ouvindo: Franz Ferdinand- Walk Away)