(E OUTRAS OBSERVAÇÕES)
Um passeio pelo Centro da capital fluminense é sem dúvidas algo bastante produtivo para quem quer observar pessoas. Não o fiz com essa intenção, mas, uma vez estando por lá para resolver outras coisas, prestei atenção em alguns detalhes que recheiam o coração financeiro da cidade.
O mercado informal foi, sem dúvida, a área que mais me saltou aos olhos. Fiquei exuberado com a capacidade das pessoas de, apesar de não possuírem um emprego, terem e honrarem um trabalho. Cada um procura ganhar sua sobrevivência como dá e da melhor maneira possível. Não obstante terem que trabalhar sob chuva e sol, sem direito a férias, décimo-terceiro ou folga remunerada, o enorme contingente de trabalhadores informais mantém a cabeça erguida e o sorriso no rosto, e não raramente dão show de vendas e simpatia.
O vendedor de tira-bolinhas-de-roupa. Esse é capaz de dar muita inveja a muitos salesmen por aí. Sem nenhuma inibição, chama os pedestres de maneira carinhosa e, com muita lábia e sorrisos desdentados, consegue expôr a eles seu produto. Ressalta de maneira ímpar as vantagens do aparelho e ainda permite um test-drive. Sua garantia, dispensa termos, contratos ou assinaturas, sendo só de três palavras: "estou sempre aqui". Vende bem e, quando não vende, conquista a simpatia de quem passa, que dele faz uma boa imagem. O mesmo efeito de uma boa propaganda.
A moça que faz batata frita no meio da rua. Pode parecer ridículo, mas fiquei observando clinicamente o cuidado com que ela colocava as batatas na frigideira, mexia-as, tirava-as, colocava no saquinho, dava tapinhas no saquinho para caber mais, colocava mais batata, pegava um guardanapo e servia-a ao cliente de cara aberta, ainda oferecendo em tom muito solícito ketchup ou mostarda. Ainda que aquele não fosse o melhor ofício do mundo ou o que lhe permitisse melhores condições de vida, fazia-o com prazer. E só isso já valia.
O casal que vende bebidas. Tem uma barraquinha bem arranjada, com guarda-sol para caso de sol ou de chuva, uma "vitrine" com frascos vazios e muita disposição para encarar o número significativo de vendas. Está ali desde cedo até depois do entardecer, atendendo pedidos, botando a mão no isopor com as bebidas, dando o troco e agradecendo a preferência. Oferece os preços mais baixos das redondezas a fim de atrair clientes, mesmo sem conhecer formalmente a lei da oferta e da procura.
A vendedora de canetas de um real. Magra e baixinha, desfruta o auge de seus quase 40 anos ao sol escaldante da Av. Rio Branco trajando calça jeans, camisa jovem e mochila desportiva. Instala sobre um papelão em formato retangular uma bandeja de tamanho médio, sobre a qual coloca várias canetas dos mais variados tipos, tamanhos e cores. Todas por um real, tal qual anuncia a cartolina desenhada à mão e pregada dos lados da bandeja. Atende, em geral, o público feminino e ainda dá conselhos sobre qual caneta combina mais com a cor da carteira ou da bolsa. Concluída a venda, embolsa um real, mas abre um sorriso de ganhadora da mega-sena e dispara um "obrigada" verdadeiro e atencioso. De nada.
Maximizar a produtividade não é objetivo exclusivo de empresas formais. Chamou-me a atenção uma "empresa" de venda de DVDs copiados que se instala diariamente às 6 horas sob a marquise de um grande prédio. Estabeleceram ali algo como uma linha de montagem, contando com uma especialização da atividade de cada funcionário com organização de fazer jus às melhores proposições fordistas. Na verdade, ficou faltando a esteira.
A primeira funcionária é a responsável pela "vitrine". Expõe no chão os vários títulos de filmes e shows que disponibilizavam, atende diretamente aos clientes respondendo a eventuais perguntas e, após a escolha do freguês, direciona o mesmo a próxima funcionária. A segunda vendedora é a responsável por pegar, numa caixa imensa com inúmeros dvd´s, o título escolhido e o encarte correspondente. Coloca-o na caixinha e emite um papel com o valor a ser cobrado. Munido desse papel, o cliente dirige-se à próxima funcionária, que recebe o dinheiro, anota-o em um livro caixa e preenche o cartão de garantia, que dá um prazo de 15 dias para troca. A passagem pela quarta funcionária é facultativa, mas nunca ignorada, pois, afinal, é importante testar o disco comprado para não correr o risco de se decepcionar posteriormente, só que sem ter o PROCON para recorrer.
Pausa para observações. As quatro funcionárias andam muito bem vestidas, levemente maquiadas, são muito sorridentes e ainda falam português correto, sem apelações da informalidade, portando-se à imagem e semelhança das vendedoras das butiques de madame que movem o caríssimo Shopping Leblon. E tudo isso sem a presença de uma supervisora que só conhece o modo imperativo e não se cansa das sugestões enfáticas "sorria", "diga boa-tarde", "diga obrigado", "seja paciente" e etc.
São esses alguns poucos exemplos do trabalho que, embora muitas vezes perpasse por atos ilícitos e condenáveis, é levado a sério e com dedicação. (Favor não comparar com traficantes de drogas ou criminosos de alta periculosidade. Não quero entrar no mérito da questão, mas as diferença são notáveis) Trabalho esse que muitas vezes não é valorizado como deve, apenas por estar a margem das estatísticas ou de olhares políticos. Trabalho esse que encaro como forma de superação - quase apelação para sobrevivência - de muitos que estão excluídos do acesso ao emprego, cercado de todas as garantias e merecidos benefícios que lhe cabem.
Ressalte-se aqui a quantidade de pessoas que estão bem empregadas, mas não fazem jus a isso. Trabalham sem vontade, sem prazer, atendem mal, não dão o melhor de si. Isso acontece especialmente no funcionalismo público, embora haja muitos servidores nessa área que trabalham por dois, por três ou pela equipe toda. Mais desalentador ainda é ouvir gente nova dizendo querer fazer concurso público porque ganha bem e não faz nada. Ora ora, para onde estamos caminhando?
Pois é, centro da cidade é isso. Gente que não tem emprego e trabalha, gente que tem emprego e trabalha e gente que tem emprego e não trabalha. Esqueci alguém? Ah, claro... gente que não tem emprego nem trabalha. Olhe-me aí, mas só por enquanto, tá?
GUIA DE LEITURA
Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):
Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)
(a nostalgia do que não tive)
domingo, 11 de fevereiro de 2007
domingo, 28 de janeiro de 2007
A morte (alheia) - sic.
Se me perguntarem o porquê do sic ou dos parênteses na palavra alheia, respondo que é redundante dizer que falar sobre morte é referir-se à alheia, ou, do contrário, ousaria colocar-me no lugar nada verossímil de Brás Cubas, ao relatar suas próprias memórias póstumas no eterno clássico machadiano.
Vejo o quanto pretensioso seria eu falar sobre a morte em si, tanto se fosse para dizer que ela é um fim como se fosse para dizer que ela é um novo começo. Não falar sobre ela talvez trouxesse problema também, afinal, tem gente que encara sua própria morte com total indiferença. Mesmo assim não falarei, pois não quero expôr concepções que são mera questão de fé e fazer desse espaço um blog puramente catequista.
Falarei sobre a morte para quem fica, mas de um jeito leviano. Se querem saber, não tenho propriedade nenhuma para falar sobre esse assunto e escrevo por mero impulso. Ainda não perdi nenhuma pessoa próxima e, portanto, prometo que, se ainda mantiver esse blog quando isso acontecer, dar-me-ei ao trabalho de escrever sobre o mesmo assunto.
Dizem que quem fica é que sofre. Quem fica sofre, de fato, mas... quem garante que quem partiu não está sofrendo também? Essa questão é de jurisdição das religiões, e cada uma prega uma visão diferente sobre o assunto.
Quem fica, sofre. Mesmo. A sensação de perda evoca também outros pensamentos bastante penosos, dentre os quais destaco as saudades e o arrependimento.
Saudades. Por curiosidade, foi eleita recentemente a 7ª palavra mais difícil de se traduzir. Também deve ser difícil verbalizar as saudades em relação a um ente que se foi. São saudades bem duras, porque se sabe que a falta da pessoa tende a crescer com o tempo, porém nunca poderá ser saciada. Novamente, muitas religiões trazem perspectivas reconfortantes e consoladoras no tocante a essa questão, dizendo, por exemplo, que após a morte todos se encontram no paraíso.
Arrependimento. Nesse caso, do que se fez e do que deixou de se fazer. Sinceramente, não sei qual é o pior - nem se são diferentes. Emergem lembranças: palavras atravessadas, transfixantes, lançadas em momentos de raiva; brigas desnecessárias, que desgastaram a relação; mentiras que esperaram - e ainda esperarão, até quando? - esclarecimentos.
Vêm à tona os programas desmarcados por preguiça ou existência de outras prioridades, as vezes em que se preferiu ver TV ou sair de casa a ter a companhia do outro ou os desejos que eram sempre adiados.
Comparecer ao velório, ao enterro e às celebrações póstumas. Desnecessário descrever o quanto esse roteiro é penoso, especialmente nas suas duas primeiras etapas. Aparece a vontade - e a impotência - de devolver a vida à matéria já organizada, como alguém que, apertando o ON, energiza e liga um equipamento elétrico. Reles mortais não podem fazer isso. Por fim, há o último adeus, que, infelizmente, é sem resposta.
Igualmente ruim, deve ser lidar com os pertences do querido falecido. Olhar para a cama onde a pessoa dormia, para a escova de dentes que usava, para o guarda-roupas com muitas peças que marcaram dias especiais, para os manuscritos, documentos e outros cacarecos guardados para algum dia em que fossem precisos. Sentir o exímio poder do olfato de revolver lembranças ao , por exemplo, sentir o perfume que a pessoa usava.
Depois, as questões de herança, às vezes temperadas com desgostosas brigas familiares. Provar a lentidão da justiça com os trâmites do processo de inventário e ter mais esse aborrecimento.
Se o tempo não for o melhor remédio, certamente é um dos melhores. Com o passar dos meses e anos, o trauma do acontecido vai passando. As lágrimas que dele decorrem vão escasseando, embora as lembranças da pessoa e as saudades não se apaguem.
Preferimos nossa própria morte à daqueles que realmente amamos, afinal, sabemos que a segunda é suficientemente dolorosa, mas nada conhecemos em relação à primeira. No fundo, talvez haja alguma curiosidade em ver o que vem depois, se é que esse depois existe. Levando isso em conta, pode até soar egoísta preferir a própria morte à alheia, pois faremos os outros sofrerem.
Paro por aqui com essa vã discussão. Afinal, não importa quando, a morte inevitavelmente vai acontecer, e com direito a toda essa repercussão.
Para isso, Noel Rosa andou se precavendo. Em 1933, declarou não querer, quando morrer, nem choro, nem vela, mas uma fita amarela gravada com o nome de sua amada. Foi ele atendido?
(Ouvindo: Chico Buarque, Cazuza e etc.)
Vejo o quanto pretensioso seria eu falar sobre a morte em si, tanto se fosse para dizer que ela é um fim como se fosse para dizer que ela é um novo começo. Não falar sobre ela talvez trouxesse problema também, afinal, tem gente que encara sua própria morte com total indiferença. Mesmo assim não falarei, pois não quero expôr concepções que são mera questão de fé e fazer desse espaço um blog puramente catequista.
Falarei sobre a morte para quem fica, mas de um jeito leviano. Se querem saber, não tenho propriedade nenhuma para falar sobre esse assunto e escrevo por mero impulso. Ainda não perdi nenhuma pessoa próxima e, portanto, prometo que, se ainda mantiver esse blog quando isso acontecer, dar-me-ei ao trabalho de escrever sobre o mesmo assunto.
Dizem que quem fica é que sofre. Quem fica sofre, de fato, mas... quem garante que quem partiu não está sofrendo também? Essa questão é de jurisdição das religiões, e cada uma prega uma visão diferente sobre o assunto.
Quem fica, sofre. Mesmo. A sensação de perda evoca também outros pensamentos bastante penosos, dentre os quais destaco as saudades e o arrependimento.
Saudades. Por curiosidade, foi eleita recentemente a 7ª palavra mais difícil de se traduzir. Também deve ser difícil verbalizar as saudades em relação a um ente que se foi. São saudades bem duras, porque se sabe que a falta da pessoa tende a crescer com o tempo, porém nunca poderá ser saciada. Novamente, muitas religiões trazem perspectivas reconfortantes e consoladoras no tocante a essa questão, dizendo, por exemplo, que após a morte todos se encontram no paraíso.
Arrependimento. Nesse caso, do que se fez e do que deixou de se fazer. Sinceramente, não sei qual é o pior - nem se são diferentes. Emergem lembranças: palavras atravessadas, transfixantes, lançadas em momentos de raiva; brigas desnecessárias, que desgastaram a relação; mentiras que esperaram - e ainda esperarão, até quando? - esclarecimentos.
Vêm à tona os programas desmarcados por preguiça ou existência de outras prioridades, as vezes em que se preferiu ver TV ou sair de casa a ter a companhia do outro ou os desejos que eram sempre adiados.
Comparecer ao velório, ao enterro e às celebrações póstumas. Desnecessário descrever o quanto esse roteiro é penoso, especialmente nas suas duas primeiras etapas. Aparece a vontade - e a impotência - de devolver a vida à matéria já organizada, como alguém que, apertando o ON, energiza e liga um equipamento elétrico. Reles mortais não podem fazer isso. Por fim, há o último adeus, que, infelizmente, é sem resposta.
Igualmente ruim, deve ser lidar com os pertences do querido falecido. Olhar para a cama onde a pessoa dormia, para a escova de dentes que usava, para o guarda-roupas com muitas peças que marcaram dias especiais, para os manuscritos, documentos e outros cacarecos guardados para algum dia em que fossem precisos. Sentir o exímio poder do olfato de revolver lembranças ao , por exemplo, sentir o perfume que a pessoa usava.
Depois, as questões de herança, às vezes temperadas com desgostosas brigas familiares. Provar a lentidão da justiça com os trâmites do processo de inventário e ter mais esse aborrecimento.
Se o tempo não for o melhor remédio, certamente é um dos melhores. Com o passar dos meses e anos, o trauma do acontecido vai passando. As lágrimas que dele decorrem vão escasseando, embora as lembranças da pessoa e as saudades não se apaguem.
Preferimos nossa própria morte à daqueles que realmente amamos, afinal, sabemos que a segunda é suficientemente dolorosa, mas nada conhecemos em relação à primeira. No fundo, talvez haja alguma curiosidade em ver o que vem depois, se é que esse depois existe. Levando isso em conta, pode até soar egoísta preferir a própria morte à alheia, pois faremos os outros sofrerem.
Paro por aqui com essa vã discussão. Afinal, não importa quando, a morte inevitavelmente vai acontecer, e com direito a toda essa repercussão.
Para isso, Noel Rosa andou se precavendo. Em 1933, declarou não querer, quando morrer, nem choro, nem vela, mas uma fita amarela gravada com o nome de sua amada. Foi ele atendido?
(Ouvindo: Chico Buarque, Cazuza e etc.)
quarta-feira, 24 de janeiro de 2007
A razão de tanta ausência. E as RAPIDINHAS 2.
Não acredito que consegui ficar pouco mais de um mês sem colocar absolutamente nada nesse blog. Quase entrando em depressão, confesso que minha criatividade e pensatividade não andam em suas melhores épocas. Mas não foi só por isso. Para você que leu o título dessa postagem e está ávido por saber qual foi de fato a razão de tanta ausência, prepare-se.
Penso com meus botões... caí em minha própria crítica e agora estou aqui com uma pontinha de arrependimento de ter esculachado tanto um clichê, que, apesar dos pesares, até que faz sentido. Bem... erm... digamos que o verão me tirou desse blog. Ahhhh, o verão...
Sim, fui curtir o verão e as minhas férias. Arrisquei-me, fiz coisas novas, algumas estrepolias, mas nada extravagante, como já era de se esperar. Estava em ritmo de festa e de viagem e só hoje parei com um instinto quase avassalador de escrever alguma besteira. E cá estou.
RAPIDINHAS 2.
PAPOS ESCATOLÓGICOS À MESA
Eu não participo desta opinião, mas há tanta gente que se irrita com papos escatológicos à mesa. Concordo que a bomba de metano ou substâncias pastosas castanhas podem não ser o melhor assunto enquanto se degusta alguma iguaria sem igual, mas, já que esses assuntos são tão naturais ao ser humano quanto comer, chegando a constituírem o início e o fim do mesmo processo metabólico, qual o problema em se falar neles? Como diria Kléber Bam Bam, que atualmente ganha a vida animando festinhas de 15 anos, "faiz parte, gente".
Por falar nisso, estou colecionando eufemismos para o ato de defecar. Só não posto aqui, pois posso ser acusado de racismo, e isso não seria muito legal. Aliás, nunca fiz coleção de nada, essa é a primeira. Comecei bem, não?
METRÔ. (merdô)
A cada vez que ando de metrô pela cidade, impressiono-me ainda mais com a falta de respeito e cidadania dos usuários desse serviço público. Algumas pessoas levam ao máximo a cultura do querer tirar vantagem sobre qualquer coisa, utilizando-se de qualquer meio.
1.Acho intolerável as pessoas que entram apressadamente no vagão do metrô assim que a porta abre sem esperar que os querem sair saiam. Por que diabos vão se atropelando uns aos outros igual a uma horda de esfomeados que, no deserto, vislubram um oásis?
2.Pior do que isso são aqueles infelizes que ocupam a escada rolante inteira com seus volumes (geralmente traseiros) esparramados pelo já curto espaço, impedindo quem está com pressa de subir a escada rolante pelo lado vago. Por favor, fiquem do lado direito da escada rolante!
3.O que mais me mata de raiva, porém, são os vagabundos, pilantras, desumanos e sem-vergonhas que sentam nos assentos especiais destinados a deficientes, idosos, gestantes e lactantes, e simplesmente ignoram a presença de algum desses beneficiários no vagão. Com fones de ouvido, livros e outras artimanhas, fingem que não vêem nem o sofrimento daquelas velhinhas e velhinhos, já cansados pelo trabalho de uma vida inteira, em se manterem de pé nem a complicação que é viajar com criança de colo num coletivo lotado. Emissários do desrespeito, aqui vai minha mensagem: tirem seus fones de ouvido que os alienam, parem de ler o livrinho que parece torná-los cultos, e, finalmente, levantem essa cauda folgada e cedam o lugar. Quem realmente precisa, agradece. Mesmo.
SACODINDO O LEGO NA CAIXA
Tão bom quanto presenciar o nascer do sol (prefiro-o ao pôr do sol) ou vislumbrar uma bela paisagem é ouvir sons agradáveis. Há gente que delira ao ouvir canto de pássaros, o bater das ondas ou, usando um exemplo bem fácil, ouvindo uma boa música.
Enquanto criança, as pecinhas de Lego eram o que me proporcionava esse prazer. Poucas coisas se comparavam a pegar a caixinha do brinquedo, encostá-la no ouvido e chacoalhá-la sem parar para ouvir aquele barulhinho tão gostoso. Fazia isso sempre que ganhava um novo, aliás, esse era o método que eu usava para perceber, sem desfazer o embrulho do presente, que ali havia Lego, na época meu brinquedo preferido. Método infalível: Lego sacodido tem um som único, inconfundível.
(Ouvindo: AC/DC- Back in Black)
Penso com meus botões... caí em minha própria crítica e agora estou aqui com uma pontinha de arrependimento de ter esculachado tanto um clichê, que, apesar dos pesares, até que faz sentido. Bem... erm... digamos que o verão me tirou desse blog. Ahhhh, o verão...
Sim, fui curtir o verão e as minhas férias. Arrisquei-me, fiz coisas novas, algumas estrepolias, mas nada extravagante, como já era de se esperar. Estava em ritmo de festa e de viagem e só hoje parei com um instinto quase avassalador de escrever alguma besteira. E cá estou.
RAPIDINHAS 2.
PAPOS ESCATOLÓGICOS À MESA
Eu não participo desta opinião, mas há tanta gente que se irrita com papos escatológicos à mesa. Concordo que a bomba de metano ou substâncias pastosas castanhas podem não ser o melhor assunto enquanto se degusta alguma iguaria sem igual, mas, já que esses assuntos são tão naturais ao ser humano quanto comer, chegando a constituírem o início e o fim do mesmo processo metabólico, qual o problema em se falar neles? Como diria Kléber Bam Bam, que atualmente ganha a vida animando festinhas de 15 anos, "faiz parte, gente".
Por falar nisso, estou colecionando eufemismos para o ato de defecar. Só não posto aqui, pois posso ser acusado de racismo, e isso não seria muito legal. Aliás, nunca fiz coleção de nada, essa é a primeira. Comecei bem, não?
METRÔ. (merdô)
A cada vez que ando de metrô pela cidade, impressiono-me ainda mais com a falta de respeito e cidadania dos usuários desse serviço público. Algumas pessoas levam ao máximo a cultura do querer tirar vantagem sobre qualquer coisa, utilizando-se de qualquer meio.
1.Acho intolerável as pessoas que entram apressadamente no vagão do metrô assim que a porta abre sem esperar que os querem sair saiam. Por que diabos vão se atropelando uns aos outros igual a uma horda de esfomeados que, no deserto, vislubram um oásis?
2.Pior do que isso são aqueles infelizes que ocupam a escada rolante inteira com seus volumes (geralmente traseiros) esparramados pelo já curto espaço, impedindo quem está com pressa de subir a escada rolante pelo lado vago. Por favor, fiquem do lado direito da escada rolante!
3.O que mais me mata de raiva, porém, são os vagabundos, pilantras, desumanos e sem-vergonhas que sentam nos assentos especiais destinados a deficientes, idosos, gestantes e lactantes, e simplesmente ignoram a presença de algum desses beneficiários no vagão. Com fones de ouvido, livros e outras artimanhas, fingem que não vêem nem o sofrimento daquelas velhinhas e velhinhos, já cansados pelo trabalho de uma vida inteira, em se manterem de pé nem a complicação que é viajar com criança de colo num coletivo lotado. Emissários do desrespeito, aqui vai minha mensagem: tirem seus fones de ouvido que os alienam, parem de ler o livrinho que parece torná-los cultos, e, finalmente, levantem essa cauda folgada e cedam o lugar. Quem realmente precisa, agradece. Mesmo.
SACODINDO O LEGO NA CAIXA
Tão bom quanto presenciar o nascer do sol (prefiro-o ao pôr do sol) ou vislumbrar uma bela paisagem é ouvir sons agradáveis. Há gente que delira ao ouvir canto de pássaros, o bater das ondas ou, usando um exemplo bem fácil, ouvindo uma boa música.
Enquanto criança, as pecinhas de Lego eram o que me proporcionava esse prazer. Poucas coisas se comparavam a pegar a caixinha do brinquedo, encostá-la no ouvido e chacoalhá-la sem parar para ouvir aquele barulhinho tão gostoso. Fazia isso sempre que ganhava um novo, aliás, esse era o método que eu usava para perceber, sem desfazer o embrulho do presente, que ali havia Lego, na época meu brinquedo preferido. Método infalível: Lego sacodido tem um som único, inconfundível.
(Ouvindo: AC/DC- Back in Black)
sábado, 23 de dezembro de 2006
CLICHÊS DE ORKUT II - O RETORNO
Não é porque são clichês que eles estão imunes à ação do tempo. Clichês vão e vêm, a medida que novos surgem também. (rimou!)
Por conta disso, os clichês de Orkut que eu listei nos primórdios do blog estão, em certa parte, defasados. Nada melhor do que atualizar o catálogo para a primavera-verão 2006-2007 no Orkut, não?
Agradecimentos ao Marco Tulio e à Ligia, que citaram alguns desses clichês nos comentários do Clichês I e também ao poeta RUBEL BRISOLLA pela mesma ajuda. (Vale lembrar que o Rubel criou há pouco um blog e sua leitura está recomendadíssima ;-)
Ahhhhh, o verão...
Essa é para aqueles que realmente curtem a vida, tiram onda legal e aproveitam ao máximo todos os momentos, situações e experiências novas, sacou lek? Carpe diem pô!
Ahhh, o verão!
Enfrentar as praias lotadas, com cheiro de maconha pra tudo que é lado. Besuntar-se de protetor solar, para não ficar igual um camarão. Ser vítima de arrastões, crime mais frequente nessa época do ano. Chegar em casa e estourar a conta de luz por ter que ligar o ar condicionado. Dormir seco e acordar suado. Assistir à proliferação de mosquitos transmissores de doenças e, por que não pegar uma dengue, já que a onda é aproveitar todas as novas sensações da estação?
O pior do verão, porém, é aturar o mais novo clichê de Orkut, "Ahhh, o verão!"
Tenham piedade.
(essa foi para o meu "about" do Orkut)
"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis". Fernando Pessoa
Deturparam a frase de um grande poeta transformando-a em símbolo do ideário imediatista e "de momento" que andam vivendo. Acho que essa é candidata ao grande clichê do ano, afinal, é o coringa das legendas de fotos e dos "quem sou eu".
"O topo é meu" (na ridícula briguinha por prevalência em testimoniais)
Certa vez, li a seguinte frase"Virei alpinista, só o cume interessa".
Ok.
GÊMEAS (em legendas de fotos)
Audaz. Exagerado. Só não sei se é pior que o já manjado "bff". Será que é uma influência do mais novo filme da Xuxa sobre a população juvenil, num revival da infância desúditos da Rainha dos Baixinhos? Acho que não. Mas já que insistem, só me resta uma pergunta: são bivitelinas, né?
QUARTETO
Essa legenda geralmente acompanha foto de quatro meninas em posições alusivas ao filme "As Panteras", metidas a formar uma trupe perigosa. Não esqueçam, jovens meninas, que mais de três já é crime por formação de quadrilha, segundo o Art. 288 do Código Penal, aqui transcrito: "Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes".
INCOMPARÁVEIS, INSUBSTITUÍVEIS
Até que se arrume um(a) melhor, é claro. Freud diria que é uma denegação, isto é, inconscientemente a pessoa quis dizer "descartável".
NOVAS TENDÊNCIAS...
1.Ficar com álbum zerado
Recurso utilizado por muitos que gostam de parecer reservados, difíceis e recatados. Quase um charme a mais. Alguns diriam que é c*-doce.
2. Colocar fotos sem legenda.
Para os seguidores da máxima "uma imagem vale mais que mil palavras". (Como não concordo nem discordo dessa frase, fiz um blog e um fotolog, tá?)
3. Ficar em no máximo 9 comunidades.
Será que é porque 9 é o quadrado de 3, que significa plenitude? Ou é apenas uma tentativa de dar visibilidade às comunidades mais importantes?
4. Definir-se enquanto apolítico ou libertário (essa é velha, mas...)
Apolítico porque "política virou coisa de nerd, já que o Brasil não tem mais jeito e é todo mundo corrupto mesmo, vou mesmo é me mudar para os Estados Unidos. É sempre a mesma pilantragem e nada se resolve, odeio política". Assim se desperta um ataque de pelanca rebordosa em Aristóteles.
Libertário porque "po lek tem que liberar mesmo, tem que ser todo mundo na paz, sem conflito, só na harmonia. Paz e amor, bicho. Libera geral mesmo." A inspiração? Acho que veio de Viva La Revolucion do For Fun, a música dos revolucionários de butique da geração MTV, que querem pagar de politizados e socialmente conscientes. Para esses, um professor meu diria, sem mais delongas: "tolinhos".
Chega. Cansei.
Volto na próxima estação com a sátira de "ahhh, o inverno...", quem sabe...
(Ouvindo: Ronco da minha avó. Barulho da digitação no teclado. De vez em quando alguns cliques e também fungadas... resquícios de um recente resfriado. E só.)
Por conta disso, os clichês de Orkut que eu listei nos primórdios do blog estão, em certa parte, defasados. Nada melhor do que atualizar o catálogo para a primavera-verão 2006-2007 no Orkut, não?
Agradecimentos ao Marco Tulio e à Ligia, que citaram alguns desses clichês nos comentários do Clichês I e também ao poeta RUBEL BRISOLLA pela mesma ajuda. (Vale lembrar que o Rubel criou há pouco um blog e sua leitura está recomendadíssima ;-)
Ahhhhh, o verão...
Essa é para aqueles que realmente curtem a vida, tiram onda legal e aproveitam ao máximo todos os momentos, situações e experiências novas, sacou lek? Carpe diem pô!
Ahhh, o verão!
Enfrentar as praias lotadas, com cheiro de maconha pra tudo que é lado. Besuntar-se de protetor solar, para não ficar igual um camarão. Ser vítima de arrastões, crime mais frequente nessa época do ano. Chegar em casa e estourar a conta de luz por ter que ligar o ar condicionado. Dormir seco e acordar suado. Assistir à proliferação de mosquitos transmissores de doenças e, por que não pegar uma dengue, já que a onda é aproveitar todas as novas sensações da estação?
O pior do verão, porém, é aturar o mais novo clichê de Orkut, "Ahhh, o verão!"
Tenham piedade.
(essa foi para o meu "about" do Orkut)
"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis". Fernando Pessoa
Deturparam a frase de um grande poeta transformando-a em símbolo do ideário imediatista e "de momento" que andam vivendo. Acho que essa é candidata ao grande clichê do ano, afinal, é o coringa das legendas de fotos e dos "quem sou eu".
"O topo é meu" (na ridícula briguinha por prevalência em testimoniais)
Certa vez, li a seguinte frase"Virei alpinista, só o cume interessa".
Ok.
GÊMEAS (em legendas de fotos)
Audaz. Exagerado. Só não sei se é pior que o já manjado "bff". Será que é uma influência do mais novo filme da Xuxa sobre a população juvenil, num revival da infância desúditos da Rainha dos Baixinhos? Acho que não. Mas já que insistem, só me resta uma pergunta: são bivitelinas, né?
QUARTETO
Essa legenda geralmente acompanha foto de quatro meninas em posições alusivas ao filme "As Panteras", metidas a formar uma trupe perigosa. Não esqueçam, jovens meninas, que mais de três já é crime por formação de quadrilha, segundo o Art. 288 do Código Penal, aqui transcrito: "Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes".
INCOMPARÁVEIS, INSUBSTITUÍVEIS
Até que se arrume um(a) melhor, é claro. Freud diria que é uma denegação, isto é, inconscientemente a pessoa quis dizer "descartável".
NOVAS TENDÊNCIAS...
1.Ficar com álbum zerado
Recurso utilizado por muitos que gostam de parecer reservados, difíceis e recatados. Quase um charme a mais. Alguns diriam que é c*-doce.
2. Colocar fotos sem legenda.
Para os seguidores da máxima "uma imagem vale mais que mil palavras". (Como não concordo nem discordo dessa frase, fiz um blog e um fotolog, tá?)
3. Ficar em no máximo 9 comunidades.
Será que é porque 9 é o quadrado de 3, que significa plenitude? Ou é apenas uma tentativa de dar visibilidade às comunidades mais importantes?
4. Definir-se enquanto apolítico ou libertário (essa é velha, mas...)
Apolítico porque "política virou coisa de nerd, já que o Brasil não tem mais jeito e é todo mundo corrupto mesmo, vou mesmo é me mudar para os Estados Unidos. É sempre a mesma pilantragem e nada se resolve, odeio política". Assim se desperta um ataque de pelanca rebordosa em Aristóteles.
Libertário porque "po lek tem que liberar mesmo, tem que ser todo mundo na paz, sem conflito, só na harmonia. Paz e amor, bicho. Libera geral mesmo." A inspiração? Acho que veio de Viva La Revolucion do For Fun, a música dos revolucionários de butique da geração MTV, que querem pagar de politizados e socialmente conscientes. Para esses, um professor meu diria, sem mais delongas: "tolinhos".
Chega. Cansei.
Volto na próxima estação com a sátira de "ahhh, o inverno...", quem sabe...
(Ouvindo: Ronco da minha avó. Barulho da digitação no teclado. De vez em quando alguns cliques e também fungadas... resquícios de um recente resfriado. E só.)
sábado, 9 de dezembro de 2006
PISANDO EM FEZES.
(está longo, mas vale a pena ;-)
Andar pelas ruas é, sem dúvida, um prato cheio para fazer observações antropológicas de todo tipo. Fazê-lo em Ipanema então, nem se fala. São dondocas, executivos, estudantes, funcionários itinerantes (office boys), camelôs, fazedores de porra nenhuma e até mesmo marginais desfilando sobre as calçadas desse famoso bairro da Zona Sul carioca. Isso sem falar, é claro, nos cachorros, tanto os vadios quanto os de madame, que não raramente empesteiam as ruas com seus dejetos mal-cheirosos e horrivelmente pastosos.
E eles foram os culpados. Caminhava com um amigo no sentido Copacabana quando quase preenchi com substância castanha as reentrâncias da sola de meu tênis. Por sorte, percebi o que havia no chão e desviei a tempo. Ainda assim, me surpreendi, afinal, não é todo dia que se encontra uma senhora quantidade de fezes caninas no meio da calçada da principal rua de Ipanema, a Visconde de Pirajá.
Meu instinto sádico-observador, que em raras vezes se manifesta, aflorou na mesma hora. Com a quantidade de gente que passava, fatalmente "alguéns" iriam pisar naquela caca toda e, quando isso acontecesse, poderia presenciar a reação de cada pessoa e descrevê-la aqui no blog, com direito aos detalhes mais sórdidos. Tratamos de entrar numa galeria que tinha uma sacada da qual podíamos assistir, de camarote, o desfile alheio rumo à bosta. Só faltava pipoca e refrigerante.
Aquela massa castanha clara concentrava-se em duas porções razoavelmente grandes, situadas próximas uma da outra, que reluziam levemente a um sol vespertino de quase-verão carioca. Nossa mãe... quem fora o dono mal-educado e infeliz que deixou seu cachorro defecar ali e, pior, nem teve o cuidado de limpar o feito? Não me importava, no momento.
Estávamos ansiosos e assistíamos àquele espetáculo como quem via uma partida de futebol: emoções e mais emoções.
Primeiro, os chutes para fora: na correria do dia-a-dia, muitos passaram por ali sem dar a mínima para onde pisavam mas, por sorte, não pisaram no cocô. Ahhhh!
Depois, os chutes na trave: havia quem chegasse bem perto mesmo, quase em tangente, mas não o suficiente para fazer estrago. Uhhh!
Por último, defesa brilhante do goleiro: houve um cidadão que conseguiu pisar, precisamente, no limpo espacinho entre as duas porções do material... salvo pelo anjo da guarda!
Passaram dondocas, estudantes, fazedores de porra-nenhuma, pessoas com carrinhos de criança, idosos (gostaríamos de poder poupar esses dois últimos do dissabor de uma bela pisada) e nenhum assumiu a artilharia. O desempate, porém, ainda estava por vir.
Homem, 30 anos, talvez drogado, talvez prostitúido... não sei. Vestia roupas escuras e andava bastante rápido, em largas passadas. Estava em rota de choque e não percebeu, até que deu mau passo (não interpretem mal, por favor). Queria ter uma microcâmera situada próxima ao local do ato para ver o sapato do moço indo de encontro a maciez pastosa do barro e, se possível, também um microfone, a fim de captar aquele barulho que vocês conhecem muito bem e para o qual não encontrei nenhuma onomatopéia aceitável (talvez ploft?).
Goooool! E ele não saiu para a comemoração. Aliás, quem comemorou fomos nós, sádicos espectadores daquele show escatológico que, àquela altura do campeonato, fazia-nos rir sem parar. A pressa do elemento era tão grande que, mesmo percebendo que pisara onde não devia, não se permitiu parar de andar para olhar a sola de seu calçado, mas, enquanto caminhava, levantou o pé rapidamente e olhou de relance para o material que ali se acomodara. Por uma fração de segundo, fez cara feia, proferiu algum palavrão indecifrável e continuou sua marcha como se nada tivesse acontecido. Deixou para limpar depois, talvez quisesse perfumar algum ambiente com aquele cheiro bastante aprazível. Mas a bola bateria na rede mais uma vez...
O próximo infeliz entrou em palco meio desajeitado, cansado, trajando uniforme de carteiro e portando encomendas à mão. Parou na calçada e olhou em volta como se procurasse o número do prédio. Não conseguindo ler, deu um passo a frente, colocando um de seus pés bem do lado de uma das porções do digníssimo excremento, sem ali encostar, porém. Posicionou-se diante do gol para cobrar um pênalti. Novamente, olhou para o número do prédio e, dessa vez, conseguiu fazê-lo. Aliás, naquele mesmo prédio ele faria sua entrega.
Decidira para que canto do gol iria cobrar a penalidade máxima. para dali provavelmente partir para a comemoração. De rumo tomado, só faltava dar o primeiro passo. O carteiro ajeitou o pé, levantou-o lentamente para, em seguida, confirmar o placar de 2x0 após uma belíssima pisada, da qual não se deu conta.
Nosso carteiro atacante seguiu em direção ao prédio sem olhar para o sapato ou sentir o fétido odor do produto final do metabolismo digestório canino (bela perífrase para cheiro de m**da). O gol fora marcado por acaso e continuava despercebido.
A torcida, confortável e cheirosa em seu camarote, continuava a rir sem parar, mas o espetáculo ia terminando por ali. Depois de duas pisadas homéricas, registradas de maneira científica na memória e, agora, nesse blog, era hora de ir embora e seguir nosso rumo anterior, não sem, antes, tirar com o celular uma foto daquela caca toda. (não postei a foto por preguiça de pegar o cabo do celular e etc, perdoem-me!)
O texto poderia acabar aqui, como mais uma descrição de fatos cotidianos, a exemplo do que vinha fazendo nas últimas mensagens. No entanto, vou acrescentar alguma coisa.
II. BREVES ACRÉSCIMOS
Comparar o caso de pisar em fezes com as adversidades que a vida nos traz (ou presenteia, como diriam alguns) pode soar muito forçado, aliás, eu mesmo acho isso de leve. No entanto, foi uma metáfora que encaixou minimamente naquilo que lhes trago hoje.
No curso da vida, cada vez mais rápida, somos eventualmente atrapalhados por obstáculos. Alguns deles nos param de verdade. Alguns lerdam nossa caminhada. Outros não atrapalham de cara, mas "grudam" e continuam ali, latentes, para, a qualquer hora, virem à tona e "federem".
Esses que grudam e ficam latentes são os que, em geral, nos pedem decisão, situação essa que não é das mais fáceis.
Tem gente que prefere seguir adiante com o problema, fingindo que ele não existe. Por preguiça, medo ou domínio da situação (ou a impressão de), arrisca-se a deixar que o problema se potencialize, cresça, e depois vire uma grande questão a ser resolvida.
Tem gente que adota medidas paliativas, tirando o excesso do problema (em linguagem metafórica, tira-se o excesso dos lados, mas deixa "algo" na reentrância da sola do tênis), mas deixando parte significativa lá, que continua na ameaça de eclodir e deflagrar uma crise. Talvez, seja a medida mais sensata, desde que, depois, na hora apropriada, resolva-se a questão por inteiro.
Há, ainda, os prevenidos (talvez perfeccionistas), que, mesmo sem estarem se incomodando diretamente com o problema latente, param tudo na hora e se dedicam a resolvê-lo totalmente, a extingui-lo por completo e eliminar qualquer chance futura de complicação. Cortam o mal pela raiz, mas muitas vezes o fazem em horas inoportunas e dão ao caso prioridade desnecessária, o que não raramente atrapalha outros passos da caminhada.
Cada problema, porém, pede uma conduta individual, e decidi-la requer bom senso, experiência e conhecimento da questão, o que muitas vezes acaba constituindo-se num novo problema. Vale, portanto, o conselho Hipoglós: "é melhor prevenir do que remediar".
Em outras palavras, meus caros leitores, olhem para o chão e desviem da m****.
_________________
PS: Desculpem-me o atraso para novas postagens, mas atualmente estou lento para escrever, mas acredito que tem coisa boa vindo por aí.
(Ouvindo: muita, muita coisa)
Andar pelas ruas é, sem dúvida, um prato cheio para fazer observações antropológicas de todo tipo. Fazê-lo em Ipanema então, nem se fala. São dondocas, executivos, estudantes, funcionários itinerantes (office boys), camelôs, fazedores de porra nenhuma e até mesmo marginais desfilando sobre as calçadas desse famoso bairro da Zona Sul carioca. Isso sem falar, é claro, nos cachorros, tanto os vadios quanto os de madame, que não raramente empesteiam as ruas com seus dejetos mal-cheirosos e horrivelmente pastosos.
E eles foram os culpados. Caminhava com um amigo no sentido Copacabana quando quase preenchi com substância castanha as reentrâncias da sola de meu tênis. Por sorte, percebi o que havia no chão e desviei a tempo. Ainda assim, me surpreendi, afinal, não é todo dia que se encontra uma senhora quantidade de fezes caninas no meio da calçada da principal rua de Ipanema, a Visconde de Pirajá.
Meu instinto sádico-observador, que em raras vezes se manifesta, aflorou na mesma hora. Com a quantidade de gente que passava, fatalmente "alguéns" iriam pisar naquela caca toda e, quando isso acontecesse, poderia presenciar a reação de cada pessoa e descrevê-la aqui no blog, com direito aos detalhes mais sórdidos. Tratamos de entrar numa galeria que tinha uma sacada da qual podíamos assistir, de camarote, o desfile alheio rumo à bosta. Só faltava pipoca e refrigerante.
Aquela massa castanha clara concentrava-se em duas porções razoavelmente grandes, situadas próximas uma da outra, que reluziam levemente a um sol vespertino de quase-verão carioca. Nossa mãe... quem fora o dono mal-educado e infeliz que deixou seu cachorro defecar ali e, pior, nem teve o cuidado de limpar o feito? Não me importava, no momento.
Estávamos ansiosos e assistíamos àquele espetáculo como quem via uma partida de futebol: emoções e mais emoções.
Primeiro, os chutes para fora: na correria do dia-a-dia, muitos passaram por ali sem dar a mínima para onde pisavam mas, por sorte, não pisaram no cocô. Ahhhh!
Depois, os chutes na trave: havia quem chegasse bem perto mesmo, quase em tangente, mas não o suficiente para fazer estrago. Uhhh!
Por último, defesa brilhante do goleiro: houve um cidadão que conseguiu pisar, precisamente, no limpo espacinho entre as duas porções do material... salvo pelo anjo da guarda!
Passaram dondocas, estudantes, fazedores de porra-nenhuma, pessoas com carrinhos de criança, idosos (gostaríamos de poder poupar esses dois últimos do dissabor de uma bela pisada) e nenhum assumiu a artilharia. O desempate, porém, ainda estava por vir.
Homem, 30 anos, talvez drogado, talvez prostitúido... não sei. Vestia roupas escuras e andava bastante rápido, em largas passadas. Estava em rota de choque e não percebeu, até que deu mau passo (não interpretem mal, por favor). Queria ter uma microcâmera situada próxima ao local do ato para ver o sapato do moço indo de encontro a maciez pastosa do barro e, se possível, também um microfone, a fim de captar aquele barulho que vocês conhecem muito bem e para o qual não encontrei nenhuma onomatopéia aceitável (talvez ploft?).
Goooool! E ele não saiu para a comemoração. Aliás, quem comemorou fomos nós, sádicos espectadores daquele show escatológico que, àquela altura do campeonato, fazia-nos rir sem parar. A pressa do elemento era tão grande que, mesmo percebendo que pisara onde não devia, não se permitiu parar de andar para olhar a sola de seu calçado, mas, enquanto caminhava, levantou o pé rapidamente e olhou de relance para o material que ali se acomodara. Por uma fração de segundo, fez cara feia, proferiu algum palavrão indecifrável e continuou sua marcha como se nada tivesse acontecido. Deixou para limpar depois, talvez quisesse perfumar algum ambiente com aquele cheiro bastante aprazível. Mas a bola bateria na rede mais uma vez...
O próximo infeliz entrou em palco meio desajeitado, cansado, trajando uniforme de carteiro e portando encomendas à mão. Parou na calçada e olhou em volta como se procurasse o número do prédio. Não conseguindo ler, deu um passo a frente, colocando um de seus pés bem do lado de uma das porções do digníssimo excremento, sem ali encostar, porém. Posicionou-se diante do gol para cobrar um pênalti. Novamente, olhou para o número do prédio e, dessa vez, conseguiu fazê-lo. Aliás, naquele mesmo prédio ele faria sua entrega.
Decidira para que canto do gol iria cobrar a penalidade máxima. para dali provavelmente partir para a comemoração. De rumo tomado, só faltava dar o primeiro passo. O carteiro ajeitou o pé, levantou-o lentamente para, em seguida, confirmar o placar de 2x0 após uma belíssima pisada, da qual não se deu conta.
Nosso carteiro atacante seguiu em direção ao prédio sem olhar para o sapato ou sentir o fétido odor do produto final do metabolismo digestório canino (bela perífrase para cheiro de m**da). O gol fora marcado por acaso e continuava despercebido.
A torcida, confortável e cheirosa em seu camarote, continuava a rir sem parar, mas o espetáculo ia terminando por ali. Depois de duas pisadas homéricas, registradas de maneira científica na memória e, agora, nesse blog, era hora de ir embora e seguir nosso rumo anterior, não sem, antes, tirar com o celular uma foto daquela caca toda. (não postei a foto por preguiça de pegar o cabo do celular e etc, perdoem-me!)
O texto poderia acabar aqui, como mais uma descrição de fatos cotidianos, a exemplo do que vinha fazendo nas últimas mensagens. No entanto, vou acrescentar alguma coisa.
II. BREVES ACRÉSCIMOS
Comparar o caso de pisar em fezes com as adversidades que a vida nos traz (ou presenteia, como diriam alguns) pode soar muito forçado, aliás, eu mesmo acho isso de leve. No entanto, foi uma metáfora que encaixou minimamente naquilo que lhes trago hoje.
No curso da vida, cada vez mais rápida, somos eventualmente atrapalhados por obstáculos. Alguns deles nos param de verdade. Alguns lerdam nossa caminhada. Outros não atrapalham de cara, mas "grudam" e continuam ali, latentes, para, a qualquer hora, virem à tona e "federem".
Esses que grudam e ficam latentes são os que, em geral, nos pedem decisão, situação essa que não é das mais fáceis.
Tem gente que prefere seguir adiante com o problema, fingindo que ele não existe. Por preguiça, medo ou domínio da situação (ou a impressão de), arrisca-se a deixar que o problema se potencialize, cresça, e depois vire uma grande questão a ser resolvida.
Tem gente que adota medidas paliativas, tirando o excesso do problema (em linguagem metafórica, tira-se o excesso dos lados, mas deixa "algo" na reentrância da sola do tênis), mas deixando parte significativa lá, que continua na ameaça de eclodir e deflagrar uma crise. Talvez, seja a medida mais sensata, desde que, depois, na hora apropriada, resolva-se a questão por inteiro.
Há, ainda, os prevenidos (talvez perfeccionistas), que, mesmo sem estarem se incomodando diretamente com o problema latente, param tudo na hora e se dedicam a resolvê-lo totalmente, a extingui-lo por completo e eliminar qualquer chance futura de complicação. Cortam o mal pela raiz, mas muitas vezes o fazem em horas inoportunas e dão ao caso prioridade desnecessária, o que não raramente atrapalha outros passos da caminhada.
Cada problema, porém, pede uma conduta individual, e decidi-la requer bom senso, experiência e conhecimento da questão, o que muitas vezes acaba constituindo-se num novo problema. Vale, portanto, o conselho Hipoglós: "é melhor prevenir do que remediar".
Em outras palavras, meus caros leitores, olhem para o chão e desviem da m****.
_________________
PS: Desculpem-me o atraso para novas postagens, mas atualmente estou lento para escrever, mas acredito que tem coisa boa vindo por aí.
(Ouvindo: muita, muita coisa)
sábado, 18 de novembro de 2006
RAPIDINHAS 1.
Não é o que vocês estão pensando.
Bem, senti a necessidade de postar algumas coisas breves, que não exigem comentários longos nem análises profundas. São apenas pensamentos rápidos, instantâneos, que passam pela minha tela mental e dela saem rapidamente, mas que eu gostaria de relatar. Na verdade, eu deveria criar um blog paralelo chamado SO WHAT´S ABOVE? (valeu pela idéia, Zé), mas a preguiça me impediu e só me restou esse pífio recurso.
Com vocês, as rapidinhas (prometo ser breve - ou não).
SUBMUNDO
Semana passada, a banda de uns amigos meus fez um show num lugar aqui na Zona Sul ao qual nunca havia ido. Quando vi o ingresso, pensei que o lugar teria uma fachada apresentável, uma porta grande, um mural com alvarás de funcionamento e telefones úteis (Disque Denúncia: 2253-1177), além de um armário, digo segurança, de traje passeio completo, verificando identidades e falando "Estou só fazendo meu trabalho" quando alguém tentasse romper a censura, se ela houvesse.
O fato é que quando cheguei ao endereço do local, o choque entre imaginação e realidade foi estupendo, voou x para tudo que é lado. (x = o que constitui pensamento e realidade). O que vi não foi fachada, não foi porta grande, não foi mural, não foi armário, ops, segurança!
O lugar era uma casa semi-abandonada, com paredes amarelas mal-pintadas, já descascadas, sem porta principal, e com resquícios de obra por tudo que é lado. Madeiras podres encostadas em degraus de uma escada, pregos enferrujados espalhados pelo chão com bactérias de tétano clamando por contato e poeira de obra no chão e no ar, como se tivessem acabado de ali marretar uma parede.
O lugar não possuía fachada, de maneira que passaria despercebido como mais uma obra de reforma inacabada, se não fosse pelas pessoas que se concentravam em sua entrada. Os que lá estavam pela primeira vez também olhavam meio espantados e comentavam incessantemente sobre o lugar esdrúxulo, para muitos também inóspito. A porta de entrada, discreta e estreita, mais parecia uma porta de fundos, daquelas por onde sai o lixo e transitam cargas pesadas.
No lugar não havia mural com alvarás de funcionamento. Talvez nem alvará tivesse, dadas as pífias condições de evacuação em caso de emergência, planejamento quase nulo de programas anti-incêndio, anti-pânico e etc. Telefone do Disque-Denúncia, então... seria auto-destruição! Nas paredes, só quadros quase eróticos, que mais despertavam risadas debochadas do que qualquer outra coisa.
O lugar não tinha armário, digo segurança, mas sim um dos organizadores do minievento, que era quem controlava a entrada de ingressos e de pessoas. Sujeito de média estatura, franzino, não mais que 20 anos, sorriso no rosto, traje casual, quase playsson, e vocabulário bastante jovem. E também estava só fazendo o trabalho dele.
Ah sim... e o show foi bem legal!
A CHAVE PEQUENA, A FECHADURA, A DISPUTA E AS LAMÚRIAS
Descera com um amigo para comer um cachorro quente e voltava para a casa do meu pai, onde estávamos fazendo p. nenhuma no MSN. Ao chegar à portaria, verifiquei que o porteiro não estava em seu posto habitual, mas sim fora do prédio conversando com entusiasmo com outros porteiros. Assim, decidi pegar minha chave para abrir o portão, a fim de não incomodar o momento de prazer do prezado funcionário. Como estava bastante enrolado, com um copo pendurado na boca, duas paçocas na mão, e tentando abrir uma delas para comer, peguei o chaveiro e dei-o para meu amigo abrir a porta. Por algum acaso do destino, entreguei-lhe o chaveiro segurando especificamente uma maldita chave, a da tranca da bicicleta, que é pequenina e tragicamente maleável. Não percebendo que era uma chave de bicicleta, meu amigo enfiou a chave na fechadura e tentou abrir. Quando rodou, a chave havia quebrado lá dentro, e um pedaço dela jazia no interior da fechadura, enquanto o resto ainda estava na mão dele, sendo observada com duas caras de espanto do tipo "e agora?".
Nessa hora, o porteiro veio ver o que havia acontecido e chamou sua esposa dentro do prédio para abrir a porta pelo lado de dentro. Constatando que um pedaço da chave estava ali entalada, tentou retirá-lo com as mãos, em vão. Depois, pegou a verdadeira chave daquela porta e catucou ali, também em vão. Quando olhei em volta, três outros porteiros da rua que com ele conversavam, também vieram ver o que ali se passava. Cada um deu seu palpite sobre o assunto, sugerindo uma maneira de resolver a questão. Pareciam disputar quem ia futucar primeiro a fechadura, para ali tentar sua vitória sobre os demais.
Enquanto isso, a esposa do porteiro falava incessantemente palavras de desânimo. Deu uma senhora bronca no seu marido, em palavras quase incompreensíveis. "Que que ocê tava fazendo do lado di fora?" O marido respondeu: "Viajando, mulé!". A senhora retrucou: "Não podi ficá do lado di fora não". E depois ela insistiu em seu pessimismo, desencorajando também os demais a tentarem a sorte: "Vai tê qui chamá o chavêro memo, pódi desistir" "A porta vai ficá aberta i vai chamá ladrão". Confesso que sua cara amarrada e sua voz profética realmente me deixaram desacreditados quanto a uma rápida solução para tudo aquilo, mas, quando ia me afogar nessa descrença, fui subitamente surpreendido por um gritinho de orgulho do tipo eu-humilho.
Um dos porteiros havia conseguido, com um arame, colocar o toquinho de chave para fora, e iniciava uma dancinha de vitória fazendo com a boca um estranho barulho, quase um urro, como se quisesse dizer "sou vitorioso". De fato ganhara a guerra: vencera a disputa e suplantara a desesperança.
FÉRIAS!
Poucas coisas se comparam à sensação de falta de pendências, que é um dos prazeres que só consigo ter durante as férias. Aquela sensação de dever cumprido, de poder ficar de pernas pro ar, de poder respirar aliviado, enfim. Acho que a melhor parte é a de poder acordar tarde, sem ouvir o barulho desagradável do despertador, que anuncia o fim do descanso.
No entanto, lá para janeiro, essas e outras sensações começam a disputar espaço com o tédio e com o desejo de presenciar novas emoções durante o ano letivo, de rever os amigos, de voltar ao aprendizado, enfim, de voltar às aulas. E nem por isso o despertador deixa de ser odíavel.
Ai, se eu ainda estudasse à tarde...
(Ouvindo: Helloween - The Dark Ride)
Bem, senti a necessidade de postar algumas coisas breves, que não exigem comentários longos nem análises profundas. São apenas pensamentos rápidos, instantâneos, que passam pela minha tela mental e dela saem rapidamente, mas que eu gostaria de relatar. Na verdade, eu deveria criar um blog paralelo chamado SO WHAT´S ABOVE? (valeu pela idéia, Zé), mas a preguiça me impediu e só me restou esse pífio recurso.
Com vocês, as rapidinhas (prometo ser breve - ou não).
SUBMUNDO
Semana passada, a banda de uns amigos meus fez um show num lugar aqui na Zona Sul ao qual nunca havia ido. Quando vi o ingresso, pensei que o lugar teria uma fachada apresentável, uma porta grande, um mural com alvarás de funcionamento e telefones úteis (Disque Denúncia: 2253-1177), além de um armário, digo segurança, de traje passeio completo, verificando identidades e falando "Estou só fazendo meu trabalho" quando alguém tentasse romper a censura, se ela houvesse.
O fato é que quando cheguei ao endereço do local, o choque entre imaginação e realidade foi estupendo, voou x para tudo que é lado. (x = o que constitui pensamento e realidade). O que vi não foi fachada, não foi porta grande, não foi mural, não foi armário, ops, segurança!
O lugar era uma casa semi-abandonada, com paredes amarelas mal-pintadas, já descascadas, sem porta principal, e com resquícios de obra por tudo que é lado. Madeiras podres encostadas em degraus de uma escada, pregos enferrujados espalhados pelo chão com bactérias de tétano clamando por contato e poeira de obra no chão e no ar, como se tivessem acabado de ali marretar uma parede.
O lugar não possuía fachada, de maneira que passaria despercebido como mais uma obra de reforma inacabada, se não fosse pelas pessoas que se concentravam em sua entrada. Os que lá estavam pela primeira vez também olhavam meio espantados e comentavam incessantemente sobre o lugar esdrúxulo, para muitos também inóspito. A porta de entrada, discreta e estreita, mais parecia uma porta de fundos, daquelas por onde sai o lixo e transitam cargas pesadas.
No lugar não havia mural com alvarás de funcionamento. Talvez nem alvará tivesse, dadas as pífias condições de evacuação em caso de emergência, planejamento quase nulo de programas anti-incêndio, anti-pânico e etc. Telefone do Disque-Denúncia, então... seria auto-destruição! Nas paredes, só quadros quase eróticos, que mais despertavam risadas debochadas do que qualquer outra coisa.
O lugar não tinha armário, digo segurança, mas sim um dos organizadores do minievento, que era quem controlava a entrada de ingressos e de pessoas. Sujeito de média estatura, franzino, não mais que 20 anos, sorriso no rosto, traje casual, quase playsson, e vocabulário bastante jovem. E também estava só fazendo o trabalho dele.
Ah sim... e o show foi bem legal!
A CHAVE PEQUENA, A FECHADURA, A DISPUTA E AS LAMÚRIAS
Descera com um amigo para comer um cachorro quente e voltava para a casa do meu pai, onde estávamos fazendo p. nenhuma no MSN. Ao chegar à portaria, verifiquei que o porteiro não estava em seu posto habitual, mas sim fora do prédio conversando com entusiasmo com outros porteiros. Assim, decidi pegar minha chave para abrir o portão, a fim de não incomodar o momento de prazer do prezado funcionário. Como estava bastante enrolado, com um copo pendurado na boca, duas paçocas na mão, e tentando abrir uma delas para comer, peguei o chaveiro e dei-o para meu amigo abrir a porta. Por algum acaso do destino, entreguei-lhe o chaveiro segurando especificamente uma maldita chave, a da tranca da bicicleta, que é pequenina e tragicamente maleável. Não percebendo que era uma chave de bicicleta, meu amigo enfiou a chave na fechadura e tentou abrir. Quando rodou, a chave havia quebrado lá dentro, e um pedaço dela jazia no interior da fechadura, enquanto o resto ainda estava na mão dele, sendo observada com duas caras de espanto do tipo "e agora?".
Nessa hora, o porteiro veio ver o que havia acontecido e chamou sua esposa dentro do prédio para abrir a porta pelo lado de dentro. Constatando que um pedaço da chave estava ali entalada, tentou retirá-lo com as mãos, em vão. Depois, pegou a verdadeira chave daquela porta e catucou ali, também em vão. Quando olhei em volta, três outros porteiros da rua que com ele conversavam, também vieram ver o que ali se passava. Cada um deu seu palpite sobre o assunto, sugerindo uma maneira de resolver a questão. Pareciam disputar quem ia futucar primeiro a fechadura, para ali tentar sua vitória sobre os demais.
Enquanto isso, a esposa do porteiro falava incessantemente palavras de desânimo. Deu uma senhora bronca no seu marido, em palavras quase incompreensíveis. "Que que ocê tava fazendo do lado di fora?" O marido respondeu: "Viajando, mulé!". A senhora retrucou: "Não podi ficá do lado di fora não". E depois ela insistiu em seu pessimismo, desencorajando também os demais a tentarem a sorte: "Vai tê qui chamá o chavêro memo, pódi desistir" "A porta vai ficá aberta i vai chamá ladrão". Confesso que sua cara amarrada e sua voz profética realmente me deixaram desacreditados quanto a uma rápida solução para tudo aquilo, mas, quando ia me afogar nessa descrença, fui subitamente surpreendido por um gritinho de orgulho do tipo eu-humilho.
Um dos porteiros havia conseguido, com um arame, colocar o toquinho de chave para fora, e iniciava uma dancinha de vitória fazendo com a boca um estranho barulho, quase um urro, como se quisesse dizer "sou vitorioso". De fato ganhara a guerra: vencera a disputa e suplantara a desesperança.
FÉRIAS!
Poucas coisas se comparam à sensação de falta de pendências, que é um dos prazeres que só consigo ter durante as férias. Aquela sensação de dever cumprido, de poder ficar de pernas pro ar, de poder respirar aliviado, enfim. Acho que a melhor parte é a de poder acordar tarde, sem ouvir o barulho desagradável do despertador, que anuncia o fim do descanso.
No entanto, lá para janeiro, essas e outras sensações começam a disputar espaço com o tédio e com o desejo de presenciar novas emoções durante o ano letivo, de rever os amigos, de voltar ao aprendizado, enfim, de voltar às aulas. E nem por isso o despertador deixa de ser odíavel.
Ai, se eu ainda estudasse à tarde...
(Ouvindo: Helloween - The Dark Ride)
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
Frases feitas
Não tem jeito. Elas estão em ímãs de geladeiras, em peças publicitárias, em agendinhas femininas, na última edição da Revista Capricho ou até mesmo em discussões inteligentes das quais se espera uma mínima argumentação lógica e coerente. Afinal, nem tudo é perfeito. (há!!!)
Começo por aí a falar das frases feitas, redondas, embaladas, portadas em embalagem prática onde só falta o "abra aqui" ou o "serve fácil". Frases feitas rapidamente tornam-se máximas, como se fossem frutos de um conhecimento universal e irrefutável que a qualquer hora pode ser utilizado para, com um breve dizer, destruir qualquer outro pensamento que vinha sendo construído.
Não há nada mais decepcionante do que, em uma discussão qualquer, ser interrompido por máximas isoladas e apresentadas de maneira simples, como "tudo é relativo", "toda unanimidade é burra", "nem tudo é perfeito", entre outras.
Tão irritantes quanto são os clichês que as feministas-de-butique usam. (O feminismo-de-butique é um assunto que eu quero tratar em breve, portanto, pouparei-os da falação.) Quem nunca ouviu "todo homem é canalha", "homem é tudo igual", "os homens são a cabeça, mas as mulheres o pescoço" para fazer a defesa de piadinhas machistas muitas vezes lançadas por puríssima brincadeira?
Os clichês de política também são recorrentes e geralmente começam com "A culpa é de...". Ah sim, a culpa geralmente é do governo ou então da mídia. A culpa nunca é da massa ignorante que não sabe eleger políticos ou de acasos do destino que prejudicam o sucesso do país.
Uma das frases feitas mais manjadas é geralmente usada quando se fazem generalizações quaisquer. Dou uma bala para quem acertar a frase, que é contraditória em si. Ganhou a bala quem disse que "para toda regra há uma exceção". E qual é a exceção dessa regra? Ganha uma Coca-cola quem me convencer de algo.
Prefiro uma macarronada italiana servida numa cantina a um Cup Noodles esquentado no microondas e comido às pressas no caminho para o trabalho. Sim, às vezes ele cai bem, mas o prato da nonna é indubitavelmente melhor. Ele dá mais trabalho? Dá. É menos prático que o macarrão instantâneo? É. Entretanto, todo o trabalho, a elaboração e o requinte compensam, no final.
O mesmo acontece com as frases feitas, que de feitas, elaboradas nada têm. Apesar de serem práticas, pouquíssimo trabalhosas, servirem fácilnão chegam aos pés de idéias bem desenvolvidas, fundamentadas e elaboradas com cuidado.
E aí... qual delas lhe apetece mais?
(Ouvindo:
Masterplan- Enlighten me
Franz Ferdinand - Darts Of Pleasure
Linkin Park - Crawling)
Começo por aí a falar das frases feitas, redondas, embaladas, portadas em embalagem prática onde só falta o "abra aqui" ou o "serve fácil". Frases feitas rapidamente tornam-se máximas, como se fossem frutos de um conhecimento universal e irrefutável que a qualquer hora pode ser utilizado para, com um breve dizer, destruir qualquer outro pensamento que vinha sendo construído.
Não há nada mais decepcionante do que, em uma discussão qualquer, ser interrompido por máximas isoladas e apresentadas de maneira simples, como "tudo é relativo", "toda unanimidade é burra", "nem tudo é perfeito", entre outras.
Tão irritantes quanto são os clichês que as feministas-de-butique usam. (O feminismo-de-butique é um assunto que eu quero tratar em breve, portanto, pouparei-os da falação.) Quem nunca ouviu "todo homem é canalha", "homem é tudo igual", "os homens são a cabeça, mas as mulheres o pescoço" para fazer a defesa de piadinhas machistas muitas vezes lançadas por puríssima brincadeira?
Os clichês de política também são recorrentes e geralmente começam com "A culpa é de...". Ah sim, a culpa geralmente é do governo ou então da mídia. A culpa nunca é da massa ignorante que não sabe eleger políticos ou de acasos do destino que prejudicam o sucesso do país.
Uma das frases feitas mais manjadas é geralmente usada quando se fazem generalizações quaisquer. Dou uma bala para quem acertar a frase, que é contraditória em si. Ganhou a bala quem disse que "para toda regra há uma exceção". E qual é a exceção dessa regra? Ganha uma Coca-cola quem me convencer de algo.
Prefiro uma macarronada italiana servida numa cantina a um Cup Noodles esquentado no microondas e comido às pressas no caminho para o trabalho. Sim, às vezes ele cai bem, mas o prato da nonna é indubitavelmente melhor. Ele dá mais trabalho? Dá. É menos prático que o macarrão instantâneo? É. Entretanto, todo o trabalho, a elaboração e o requinte compensam, no final.
O mesmo acontece com as frases feitas, que de feitas, elaboradas nada têm. Apesar de serem práticas, pouquíssimo trabalhosas, servirem fácilnão chegam aos pés de idéias bem desenvolvidas, fundamentadas e elaboradas com cuidado.
E aí... qual delas lhe apetece mais?
(Ouvindo:
Masterplan- Enlighten me
Franz Ferdinand - Darts Of Pleasure
Linkin Park - Crawling)
quarta-feira, 8 de novembro de 2006
A inflação, a esmola e a vida do mendigo.

Dada a situação social calamitosa do país, as cidades brasileiras vivem lotadas de pedintes, que, assolados pela miséria e marginalidade, vêem na benevolência alheia a única - ou a melhor - maneira de sobreviverem dignamente.
No entanto, é cada vez mais difícil sobreviver de esmolas na rua. Somada a outros fatores, há a inflação e a falta de reajuste esmolal. Mas como? Eu explico. Ah, sim... antes de qualquer coisa, esclareço não sou economista, analista econômico nem praticante de qualquer outro ofício que lide profissionalmente com o assunto.
Quando se dá uma esmola, é tendência natural dar a menor quantia razoável possível ao pedinte. Em termos de Brasil, isso quase sempre corresponde (e correspondeu) ao famosíssimo R$ 1,00 (um real), seja em moeda ou em nota. Raramente vejo alguém dando dois reais ou mais, ou então dando alguns poucos centavos.
Tanto há 12 anos, quando foi criado o Plano Real, quanto hoje, depois de muitas reviravoltas da economia brasileira, a esmola básica sempre é de um real. E ele é sempre prático, acessível, razoável. Um real é a primeira nota que aparece na carteira, a primeira que sai do bolso, enfim... é o mais manjado dos "dinheiros".
Mas a cada dia vale menos. É verdade, há 10 anos , compravam-se muito mais coisas com um real do que hoje. A desvalorização da moeda acarretou um aumento de preços e, portanto, numa compensação com o aumento de salários. Vejamos: o salário mínimo, em 1996, era de 100 reais, enquanto que, hoje, é de 350 reais. Aumento de 250% em 10 anos.
E a esmola? Essa sempre foi de um real. Ninguém a reajustou de acordo com o aumento do salário mínimo ou do encarecimento da cesta básica. Ninguém aplicou nela os mil índices inflacionários de institutos-renomados-de-economia-e-variação-de-preços-para-o-consumidor.
"Reajustar para quê? Já é uma esmola mesmo, de cavalo dado não se olham os dentes." diriam alguns. Também não sei para que reajustar. Dizem que a esmola vicia o cidadão e o impede/inibe de ir à luta por emprego ou melhores condições. Outros defendem-na, dizendo que ela resolve paliativamente o problema emergencial dos altamente necessitados.
Querendo ou não, o fato é que os pedintes de todo meu Brasil precisam "pedir" três vezes mais do que faziam há 10 anos para fazerem uma mesma aquisição, seja de comida, roupas ou drogas. E se estiverem insatisfeitos com suas condições de x (a maioria das palavras traria impropriedade vocabular, mas espero que entendam a idéia), não há sindicatos e não vale fazer greve. Muito menos pedir demissão.
(Foto e efeito por mim mesmo)
terça-feira, 24 de outubro de 2006
Dinheiro na mão é vendaval
Por que razão as pessoas costumam dar nomes especiais ao dinheiro? Há quem o chama de grana, trocado, bufunfa, cobre, tostão, ... Sem ele, estamos duros, quebrados ou até mesmo falidos. Com ele, temos bala na agulha (imagine!).
Mais engraçados ainda são os apelidinhos que as cédulas recebem. Abaixo, segue o nome de algumas, com fotos que tirei ontem, quando pus-me a clicar miudezas que via pela frente.
Ah, e claro... não venham me dizer que eu sou um porco capitalista ou que a ganância é minha parceira pessoal, porque não é verdade.
Cinqüentinha

Dez Mangos

Dôrreal

Por enquanto é só. Perdoem-me a superficialidade de hoje :-)
Felipe.
Mais engraçados ainda são os apelidinhos que as cédulas recebem. Abaixo, segue o nome de algumas, com fotos que tirei ontem, quando pus-me a clicar miudezas que via pela frente.
Ah, e claro... não venham me dizer que eu sou um porco capitalista ou que a ganância é minha parceira pessoal, porque não é verdade.
Cinqüentinha

Dez Mangos

Dôrreal

Por enquanto é só. Perdoem-me a superficialidade de hoje :-)
Felipe.
quinta-feira, 12 de outubro de 2006
O mundo e os gordinhos.
Estava eu no ônibus, absorto em meus pensamentos, quando me toquei de que eu havia deixado de ser uma pessoa observadora. Pois é verdade: de uns tempos para cá, as coisas acontecem e muitas vezes eu não as percebo. Entretanto, na hora em que tive esse estalo, a consequência foi natural: "vou passar a observar mais".
Na mesma hora, entrou no ônibus uma notável senhora de uns 30 anos, com algumas sacolas de compra e os dois reais da tarifa à mão. Esperou a fila para a roleta, até que sua hora chegou e, após entregar as duas moedas à cobradora, iniciou sua via crucis de meio metro.
Sua largura era sua cruz. O espaço entre a roleta e o vidro, seu calvário. A roleta e o vidro, seus algozes. Lentamente, a mulher levantou suas sacolas para cima da roleta, passou-as para o outro lado, deixou o braço abaixar. Com um pequeno passo a frente, enfiava toda sua saúde naquele espaço mínimo pelo qual precisava passar.
Era necessário que ela se comprimisse. Tratou de encolher a barriga, mas o traseiro era preponderante e não havia jeito de passar se não amassando-o contra o vidro. A medida em que ela passava, só se via aquela abundância hemisférica, literalmente falando, planificando-se contra a superfície polida do vidro, e distorcendo-se diante de meus olhos.
Para não ficar entalada e assim obter um constrangimento inimaginável dentro do coletivo, a moça iniciou um movimento giratório alternado, facilitado por sua roupa de tecido razoavelmente deslizante. Após algumas rodadinhas que deslocaram a roleta, foi possível que a senhora por ela passasse, triunfante, e alcançasse o não tão espaçoso corredor do ônibus, numa cena que facilmente comportaria como trilha sonora Chariots of Fire, do grande Vangelis.
Esse caso ilustra uma das muitas dificuldades que a população de grande inércia - ou com ela mal distribuída - enfrenta diariamente. São passagens estreitas, poltronas de cinema subdimensionadas, olhares asquerosos, roupas que dificilmente caem bem, cadeiras de plástico que se espatifam,...
Sem falar na constante pressão que os gordinhos sofrem por conta do bombardeio midiático em cima do corpo escultural, magro, perfeito, simbolizado por beldades de uma finura que chega a ser patológica.
O contexto não é favorável aos gordinhos. Paradoxalmente, o tamanho notável lhes é aviltante, torna-os menores. Marginalizados, alguns muitas vezes recorrem a soluções aparentemente milagrosas, que inundam a TV com promessas incríveis de rápido emagrecimento. Outros preferem ir ao analista. Outros simplesmente fecham a boca. Outros isolam-se na internet sob a forma de avatares.
Em escala minoritária, estão os menos encucados, que ignoram solenemente o fato de serem gordinhos, e conseguem levar uma vida comum. Há até quem saiba aproveitar de seu tamanho para fazer-se uma figura única, autêntica, destacada dos demais.
Infelizmente, porém, os que sabem lidar com os alguns (ou muitos) quilos a mais são poucos. A maioria ainda se incomoda bastante com isso. Assim, podem acabar por relegar a segundo plano aspectos do ser realmente importantes.
Aspectos do ser realmente importantes. Sim, são aqueles que quase sempre são invisíveis aos olhos. Aqueles que só o coração percebe. Aqueles que garantem uma amizade, um casamento, um carinho, um amor, uma vida, e não podem ser quantificados, muito menos por balanças mal-aferidas, pessimistas e repressoras.
(Ouvindo: Muse - Sing for Absolution)
Na mesma hora, entrou no ônibus uma notável senhora de uns 30 anos, com algumas sacolas de compra e os dois reais da tarifa à mão. Esperou a fila para a roleta, até que sua hora chegou e, após entregar as duas moedas à cobradora, iniciou sua via crucis de meio metro.
Sua largura era sua cruz. O espaço entre a roleta e o vidro, seu calvário. A roleta e o vidro, seus algozes. Lentamente, a mulher levantou suas sacolas para cima da roleta, passou-as para o outro lado, deixou o braço abaixar. Com um pequeno passo a frente, enfiava toda sua saúde naquele espaço mínimo pelo qual precisava passar.
Era necessário que ela se comprimisse. Tratou de encolher a barriga, mas o traseiro era preponderante e não havia jeito de passar se não amassando-o contra o vidro. A medida em que ela passava, só se via aquela abundância hemisférica, literalmente falando, planificando-se contra a superfície polida do vidro, e distorcendo-se diante de meus olhos.
Para não ficar entalada e assim obter um constrangimento inimaginável dentro do coletivo, a moça iniciou um movimento giratório alternado, facilitado por sua roupa de tecido razoavelmente deslizante. Após algumas rodadinhas que deslocaram a roleta, foi possível que a senhora por ela passasse, triunfante, e alcançasse o não tão espaçoso corredor do ônibus, numa cena que facilmente comportaria como trilha sonora Chariots of Fire, do grande Vangelis.
Esse caso ilustra uma das muitas dificuldades que a população de grande inércia - ou com ela mal distribuída - enfrenta diariamente. São passagens estreitas, poltronas de cinema subdimensionadas, olhares asquerosos, roupas que dificilmente caem bem, cadeiras de plástico que se espatifam,...
Sem falar na constante pressão que os gordinhos sofrem por conta do bombardeio midiático em cima do corpo escultural, magro, perfeito, simbolizado por beldades de uma finura que chega a ser patológica.
O contexto não é favorável aos gordinhos. Paradoxalmente, o tamanho notável lhes é aviltante, torna-os menores. Marginalizados, alguns muitas vezes recorrem a soluções aparentemente milagrosas, que inundam a TV com promessas incríveis de rápido emagrecimento. Outros preferem ir ao analista. Outros simplesmente fecham a boca. Outros isolam-se na internet sob a forma de avatares.
Em escala minoritária, estão os menos encucados, que ignoram solenemente o fato de serem gordinhos, e conseguem levar uma vida comum. Há até quem saiba aproveitar de seu tamanho para fazer-se uma figura única, autêntica, destacada dos demais.
Infelizmente, porém, os que sabem lidar com os alguns (ou muitos) quilos a mais são poucos. A maioria ainda se incomoda bastante com isso. Assim, podem acabar por relegar a segundo plano aspectos do ser realmente importantes.
Aspectos do ser realmente importantes. Sim, são aqueles que quase sempre são invisíveis aos olhos. Aqueles que só o coração percebe. Aqueles que garantem uma amizade, um casamento, um carinho, um amor, uma vida, e não podem ser quantificados, muito menos por balanças mal-aferidas, pessimistas e repressoras.
(Ouvindo: Muse - Sing for Absolution)
segunda-feira, 18 de setembro de 2006
10 mudanças que o Orkut provocou na minha vida.
Ele realmente mudou minha vida.
Entrei no Orkut no final de julho de 2004 e logo me deparei com aquela mensagem profética, embora eu não tenha dado me conta disso na hora:
Passados mais de dois anos desde a primeira vez que dei de cara com o azulzinho do qual desde então sou frequentador assíduo, farei um balanço das mudanças na minha vida que ele me proporcionou.
1. Descobri que não sou o único a gostar de certas coisas e a ter certos hábitos dos mais banais possíveis que antes eu considerava bizarros e "extremissimamente" raros entre a população. Não sei se isso me consolou quanto às minhas loucuras e manias, mas que me fez rir muitas vezes, fez. Aliás, para isso até criaram a comunidade: "sou normal, descobri no Orkut".
2. Virou a primeira coisa que eu acesso tão logo entro na internet. Não é a página inicial, porque a tenho em branco, mas é sempre o primeiro site que eu abro.
3. Percebi ainda mais o carinho e a consideração que algumas pessoas nutrem por mim, através, é claro, dos testimoniais, e também pude demonstrar o mesmo em relação a elas.. Por mais que às vezes os depoimentos soem hipócritas e descaradamente posers, na maioria das vezes eles têm seu valor. É como dizer "eu te amo" para a sua esposa. Ela já sabe, mas nunca custa reforçar.
4. No Orkut, encontrei gente da minha família, primos próximos, aos quais me aproximei mais e mais através da internet. Quem diria?
5. Vagando de profile em profiles, encontrei muitas pessoas do meu colégio com gostos muito parecidos e também afinidade, e de muitas dessas pessoas eu virei amigo mesmo. Quem diria... se não fosse o Orkut, continuaria naquele "Fulano? Só conheço de vista." De fato, o Orkut me permitiu e muito aumentar meu círculo social, de maneira que, uns 50% dos amigos que eu mais prezo hoje, eu conheci pelo Orkut.
6. Muitas comunidades me propiciaram discussões bastante inteligentes e enriquecedoras. O Orkut tem isso: é um imenso fórum de discussões. Pena que com sua extrema popularização ele venha perdendo esse caráter, haja vista que os fóruns estão lotados de publicidades vazias e exaustivas.
7. Fuxicar. Sem dúvida, o Orkut é prato cheio para quem gosta de dar uma olhadinha na vida e nos contatos do próximo. Seria hipócrita em dizer que eu não faço isso, mas esse lado paparazzi do Orkut, para mim, não é uma doença.
8. Apresentar pessoas pelo Orkut é bastante prático. Quando você está falando de alguém para algum outro amigo que não conhece essa pessoa, nada melhor do que enviar enviar o profile do indivíduo referido. O kit já vem completo: interesses, auto-descrição e fotos. Sim, fotos!
9. Fotos! É mesmo! Talvez uma das grandes graças do Orkut seja o álbum fotográfico. Quem não gosta de ver álbuns de fotos? (Todos digam que sim, vai!) Virtualmente, o Orkut dá conta desse recado.
10. Reencontrar velhos amigos/conhecidos também foi uma excelente experiência que meu caro azulzinho me proporcionou. Retomei contato com várias pessoas com quem tinha estudado durante a pré-escola (há mais de uma década), e com outros que já saíram da minha escola atual. Sem dúvida alguma, esse foi o lance mais legal do Orkut, pois me permitiu (re)conhecer minha atual namorada e, por meio dela, dezenas de outras pessoas muito legais. Vale lembrar que ela havia estudado comigo há 10 anos atrás e, depois de reencontrá-la no Orkut num lance meio inusitado (digamos que rolou de primeira uma forte simpatia - os franceses diriam um coup en foudre -, já que, nos idos 1996, eu já tinha uma quedinha de criança por ela), começamos a conversar bastante e... deu no que deu!
É por essas e por outras que eu digo, sem titubear, que o Orkut mudou minha vida. E completamente pra melhor. A tal profecia da página inicial concretizou-se, enfim.
Trago à mesa outra questão: a Internet e seus serviços afastam as pessoas?
Não quero deixar a pergunta no ar e, portanto, darei minha singela opinião. Como diriam os Mamonas Assassinas, a Internet é uma faca de dois legumes.
Há quem usa a Internet e nela se fecha em um mundinho particular, virtual, de solidão, isolando-se do mundo e d"a tanta vida lá fora" (citando Pais e Filhos de Renato Russo), como também há quem sabe usar a Internet para conhecer novas pessoas, fazer novos amigos, conhecer novas maneiras de pensar, entre outros, e consegue trazer essas conquistas "virtuais" para a vida real, realíssima, de carne e osso, cara a cara, olho a olho e etc.
Make it worth =)
Felipe Drummond
(Ouvindo: Franz Ferdinand- Jacqueline)
PS2: Próximo post será coisa séria, eu espero.
Entrei no Orkut no final de julho de 2004 e logo me deparei com aquela mensagem profética, embora eu não tenha dado me conta disso na hora:
é uma comunidade online que conecta pessoas através de uma rede de amigos confiáveis.
Proporcionamos um ponto de encontro online com um ambiente de confraternização, onde é possível fazer novos amigos e conhecer pessoas que têm os mesmos interesses.
Participe dopara ampliar o diâmetro do seu círculo social.
Passados mais de dois anos desde a primeira vez que dei de cara com o azulzinho do qual desde então sou frequentador assíduo, farei um balanço das mudanças na minha vida que ele me proporcionou.
1. Descobri que não sou o único a gostar de certas coisas e a ter certos hábitos dos mais banais possíveis que antes eu considerava bizarros e "extremissimamente" raros entre a população. Não sei se isso me consolou quanto às minhas loucuras e manias, mas que me fez rir muitas vezes, fez. Aliás, para isso até criaram a comunidade: "sou normal, descobri no Orkut".
2. Virou a primeira coisa que eu acesso tão logo entro na internet. Não é a página inicial, porque a tenho em branco, mas é sempre o primeiro site que eu abro.
3. Percebi ainda mais o carinho e a consideração que algumas pessoas nutrem por mim, através, é claro, dos testimoniais, e também pude demonstrar o mesmo em relação a elas.. Por mais que às vezes os depoimentos soem hipócritas e descaradamente posers, na maioria das vezes eles têm seu valor. É como dizer "eu te amo" para a sua esposa. Ela já sabe, mas nunca custa reforçar.
4. No Orkut, encontrei gente da minha família, primos próximos, aos quais me aproximei mais e mais através da internet. Quem diria?
5. Vagando de profile em profiles, encontrei muitas pessoas do meu colégio com gostos muito parecidos e também afinidade, e de muitas dessas pessoas eu virei amigo mesmo. Quem diria... se não fosse o Orkut, continuaria naquele "Fulano? Só conheço de vista." De fato, o Orkut me permitiu e muito aumentar meu círculo social, de maneira que, uns 50% dos amigos que eu mais prezo hoje, eu conheci pelo Orkut.
6. Muitas comunidades me propiciaram discussões bastante inteligentes e enriquecedoras. O Orkut tem isso: é um imenso fórum de discussões. Pena que com sua extrema popularização ele venha perdendo esse caráter, haja vista que os fóruns estão lotados de publicidades vazias e exaustivas.
7. Fuxicar. Sem dúvida, o Orkut é prato cheio para quem gosta de dar uma olhadinha na vida e nos contatos do próximo. Seria hipócrita em dizer que eu não faço isso, mas esse lado paparazzi do Orkut, para mim, não é uma doença.
8. Apresentar pessoas pelo Orkut é bastante prático. Quando você está falando de alguém para algum outro amigo que não conhece essa pessoa, nada melhor do que enviar enviar o profile do indivíduo referido. O kit já vem completo: interesses, auto-descrição e fotos. Sim, fotos!
9. Fotos! É mesmo! Talvez uma das grandes graças do Orkut seja o álbum fotográfico. Quem não gosta de ver álbuns de fotos? (Todos digam que sim, vai!) Virtualmente, o Orkut dá conta desse recado.
10. Reencontrar velhos amigos/conhecidos também foi uma excelente experiência que meu caro azulzinho me proporcionou. Retomei contato com várias pessoas com quem tinha estudado durante a pré-escola (há mais de uma década), e com outros que já saíram da minha escola atual. Sem dúvida alguma, esse foi o lance mais legal do Orkut, pois me permitiu (re)conhecer minha atual namorada e, por meio dela, dezenas de outras pessoas muito legais. Vale lembrar que ela havia estudado comigo há 10 anos atrás e, depois de reencontrá-la no Orkut num lance meio inusitado (digamos que rolou de primeira uma forte simpatia - os franceses diriam um coup en foudre -, já que, nos idos 1996, eu já tinha uma quedinha de criança por ela), começamos a conversar bastante e... deu no que deu!
É por essas e por outras que eu digo, sem titubear, que o Orkut mudou minha vida. E completamente pra melhor. A tal profecia da página inicial concretizou-se, enfim.
Trago à mesa outra questão: a Internet e seus serviços afastam as pessoas?
Não quero deixar a pergunta no ar e, portanto, darei minha singela opinião. Como diriam os Mamonas Assassinas, a Internet é uma faca de dois legumes.
Há quem usa a Internet e nela se fecha em um mundinho particular, virtual, de solidão, isolando-se do mundo e d"a tanta vida lá fora" (citando Pais e Filhos de Renato Russo), como também há quem sabe usar a Internet para conhecer novas pessoas, fazer novos amigos, conhecer novas maneiras de pensar, entre outros, e consegue trazer essas conquistas "virtuais" para a vida real, realíssima, de carne e osso, cara a cara, olho a olho e etc.
Make it worth =)
Felipe Drummond
(Ouvindo: Franz Ferdinand- Jacqueline)
PS2: Próximo post será coisa séria, eu espero.
terça-feira, 5 de setembro de 2006
Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Era sábado, acabara de sair da aula, e vinha caminhando com meu amigo desde o colégio em direção a minha casa. Depois de passarmos em um comitê eleitoral de um candidato a senador e interpelarmos fortemente o seu representante, que também nos deu material promocional de um tucano que realmente parece um tucano e quer ser presidente, cruzávamos a Praça Nossa Senhora da Paz quando me deparei com uma cena tanto esquisita quanto natural.
No chão, ao sol, havia um pombo dentro de uma gaiola que mal comportava o bicho, que batia asas, piava, se mexia, enfim, parecia desesperado. Ao seu lado, um senhor de uns 60 anos fumava e observava a praça. Em sua volta, mais de 30 pombos, alguns em posição de chocar, outros indo de um lado pra outro. O que mais intrigava, porém, é que a esmagadora maioria daquela pombarada toda voltava seus olhos para o pobre engaiolado. Aliás, muitos deles estavam tão concentrados que mais pareciam assistir a um espetáculo.
Juro que fiquei espantado com a cena. Não que eu tenha me comovido ou me enternecido, mas num ímpeto decidi ir falar com o senhor que trouxera o pombo para a humilhação em praça pública. Mas a reflexão inerente à situação veio antes.
Pergunto: estariam os pombos num pífio sentimento de impotência, parados, vidrados, diante da impossiblidade de algo fazer para ajudar o seu semelhante? Estariam os pombos apenas satisfazendo-se com o sofrimento alheio? Estariam os pombos no auge de uma curiosidade columbídea (sou sacana: do mesmo jeito que fiz com o murídeo de outro post, vão ao dicionário!) quase-mórbida?
Não sei. Por um instante, eles me pareceram humanos. Aliás, quero dizer que esse por um instante foi meramente estilístico, eles de fato pareceram e continuam me parecendo humanos nesse aspecto.
Creio que muitos de imediato vão levantar o braço e dizer que tudo que eu estou escrevendo aqui é bobagem. Não tem problema, eu respeito. No entanto, continuo a achar que o ser humano muitas vezes fica saciado com o penar do outro. Muitas vezes, ou seja, nem sempre. Esse sentimento tem seus quês de sadismo (numa extensão de sentido), de "ainda bem que não é comigo" e de "vamos ver até onde isso vai". Exemplifico cada um.
I.
Certa vez ouvi de um amigo o chamado Princípio de Conservação da Auto-estima. Explico: a auto-estima em um ambiente se conserva. Portanto, se alguém está ganhando auto-estima, com certeza tem alguém que a está perdendo. Dessa maneira, se tem alguém se danando, há outrem que se enaltece.
II
Muitas vezes é inconsciente e passa despercebido o pensamento de "ainda bem que não é comigo". Aconteceu com algum conhecido uma tragédia, daquelas que ocorrem de 1 em 1 milhão e, às vezes, são tão improváveis quanto ganhar a loteria chutando em todas as casas o mesmo número. Pois é... o que pensar? Ó, coitado de Fulano!!! Pergunto se não passou pela cabeça: Nossa, sou um cara de sorte! (ou de falta de azar, como quiserem)
III.
Acontece simplesmente quando se quer ver o circo pegar fogo. Para quê? Para saber como um circo pega fogo, para ter o espetáculo de fogo, chamas e cheiro de lona queimada. Sensações raramente vivenciadas. Usam-se os outros e as experiências alheias para construir-se experiência própria, como usam-se cobaias em testes científicos.
E o que vocês pensam?
E com vocês, o final da história.
Entramos eu e meu amigo na praça e fomos perguntar ao senhor que trouxe a gaiola com o pombo por que ele o fizera. Ele, muito educado, logo tratou de apagar o cigarro e de conversar simpaticamente conosco. Contou que aquele pombo aparecera em sua janela, doente, com o bico machucado, e que desde então ele pegou o bichinho, levou-o ao veterinário, alimentou-o direito, e estava preparando a ressocialização do animal, que em breve aconteceria, daí ele ter levado o pombo à praça.
(Isso inclusive dará margem em breve a outro assunto nesse blog, as conclusões precipitadas, visto que eu achava que o senhor tinha más intenções com sua ação e, no final, percebi que não era nada disso.)
Até a próxima.
Felipe
(Ouvindo: Beatles - A day in the life)
No chão, ao sol, havia um pombo dentro de uma gaiola que mal comportava o bicho, que batia asas, piava, se mexia, enfim, parecia desesperado. Ao seu lado, um senhor de uns 60 anos fumava e observava a praça. Em sua volta, mais de 30 pombos, alguns em posição de chocar, outros indo de um lado pra outro. O que mais intrigava, porém, é que a esmagadora maioria daquela pombarada toda voltava seus olhos para o pobre engaiolado. Aliás, muitos deles estavam tão concentrados que mais pareciam assistir a um espetáculo.
Juro que fiquei espantado com a cena. Não que eu tenha me comovido ou me enternecido, mas num ímpeto decidi ir falar com o senhor que trouxera o pombo para a humilhação em praça pública. Mas a reflexão inerente à situação veio antes.
Pergunto: estariam os pombos num pífio sentimento de impotência, parados, vidrados, diante da impossiblidade de algo fazer para ajudar o seu semelhante? Estariam os pombos apenas satisfazendo-se com o sofrimento alheio? Estariam os pombos no auge de uma curiosidade columbídea (sou sacana: do mesmo jeito que fiz com o murídeo de outro post, vão ao dicionário!) quase-mórbida?
Não sei. Por um instante, eles me pareceram humanos. Aliás, quero dizer que esse por um instante foi meramente estilístico, eles de fato pareceram e continuam me parecendo humanos nesse aspecto.
Creio que muitos de imediato vão levantar o braço e dizer que tudo que eu estou escrevendo aqui é bobagem. Não tem problema, eu respeito. No entanto, continuo a achar que o ser humano muitas vezes fica saciado com o penar do outro. Muitas vezes, ou seja, nem sempre. Esse sentimento tem seus quês de sadismo (numa extensão de sentido), de "ainda bem que não é comigo" e de "vamos ver até onde isso vai". Exemplifico cada um.
I.
Certa vez ouvi de um amigo o chamado Princípio de Conservação da Auto-estima. Explico: a auto-estima em um ambiente se conserva. Portanto, se alguém está ganhando auto-estima, com certeza tem alguém que a está perdendo. Dessa maneira, se tem alguém se danando, há outrem que se enaltece.
II
Muitas vezes é inconsciente e passa despercebido o pensamento de "ainda bem que não é comigo". Aconteceu com algum conhecido uma tragédia, daquelas que ocorrem de 1 em 1 milhão e, às vezes, são tão improváveis quanto ganhar a loteria chutando em todas as casas o mesmo número. Pois é... o que pensar? Ó, coitado de Fulano!!! Pergunto se não passou pela cabeça: Nossa, sou um cara de sorte! (ou de falta de azar, como quiserem)
III.
Acontece simplesmente quando se quer ver o circo pegar fogo. Para quê? Para saber como um circo pega fogo, para ter o espetáculo de fogo, chamas e cheiro de lona queimada. Sensações raramente vivenciadas. Usam-se os outros e as experiências alheias para construir-se experiência própria, como usam-se cobaias em testes científicos.
E o que vocês pensam?
E com vocês, o final da história.
Entramos eu e meu amigo na praça e fomos perguntar ao senhor que trouxe a gaiola com o pombo por que ele o fizera. Ele, muito educado, logo tratou de apagar o cigarro e de conversar simpaticamente conosco. Contou que aquele pombo aparecera em sua janela, doente, com o bico machucado, e que desde então ele pegou o bichinho, levou-o ao veterinário, alimentou-o direito, e estava preparando a ressocialização do animal, que em breve aconteceria, daí ele ter levado o pombo à praça.
(Isso inclusive dará margem em breve a outro assunto nesse blog, as conclusões precipitadas, visto que eu achava que o senhor tinha más intenções com sua ação e, no final, percebi que não era nada disso.)
Até a próxima.
Felipe
(Ouvindo: Beatles - A day in the life)
terça-feira, 29 de agosto de 2006
O TEMPO EM CINCO TEMPOS
Em virtude da comemoração dos 60 anos de minha escola e do dia de Santo Agostinho, lançou-se no CSA um concurso de poemas, cujo tema a ser desenvolvido era o tempo.
Confesso que escrever poemas não é uma atividade que me atraia bastante, mas resolvi escrever alguma coisa. E saiu isso aí abaixo.
______________________________________
parar para pensar.
Tempo de pensar,
pensar no seu passar.
Se parar, porém, não poderei aproveitar:
o carpe diem, não terei como praticar.
Resta-me apenas pensar
no tempo que tudo há de trazer e de levar.
Há tempo para dar e receber amor,
esse que transforma instante em eternidade.
Há tempo para plantar e para colher,
e nesse ciclo perpetuar a continuidade.
Há tempo para se dar ao próprio tempo,
e ter, assim, o melhor remédio.
Cada um tem seu próprio tempo,
e, para aqueles que ele é lento, há o tédio.
O tempo passa e os dias vão.
O tempo passa e os dias vêm.
Sou um constante mutante na vida,
essa louca espera do dia em que irei também.
______________________________________
(A propósito, estou entre os dez finalistas do concurso, cujo resultado final sairá na quinta-feira, mas duvido que ganhe, pois os outros poemas no páreo estão bem melhores)
(Ouvi ao fazer o poema:
Angra - Time
Pink Floyd - Time ... sugestivo não?)
Confesso que escrever poemas não é uma atividade que me atraia bastante, mas resolvi escrever alguma coisa. E saiu isso aí abaixo.
______________________________________
O TEMPO
Tempo de parar,
parar para pensar.
Tempo de pensar,
pensar no seu passar.
Se parar, porém, não poderei aproveitar:
o carpe diem, não terei como praticar.
Resta-me apenas pensar
no tempo que tudo há de trazer e de levar.
Há tempo para dar e receber amor,
esse que transforma instante em eternidade.
Há tempo para plantar e para colher,
e nesse ciclo perpetuar a continuidade.
Há tempo para se dar ao próprio tempo,
e ter, assim, o melhor remédio.
Cada um tem seu próprio tempo,
e, para aqueles que ele é lento, há o tédio.
O tempo passa e os dias vão.
O tempo passa e os dias vêm.
Sou um constante mutante na vida,
essa louca espera do dia em que irei também.
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(A propósito, estou entre os dez finalistas do concurso, cujo resultado final sairá na quinta-feira, mas duvido que ganhe, pois os outros poemas no páreo estão bem melhores)
(Ouvi ao fazer o poema:
Angra - Time
Pink Floyd - Time ... sugestivo não?)
quarta-feira, 23 de agosto de 2006
Como uma pessoa se sente depois de matar alguém?
Fico imaginando o que se passa pela cabeça de alguém que mata outrém, da maneira que o for.
I.
Imagino um motorista que atropela e mata um pedestre sem intenção de fazê-lo. Ele sai do carro, vê a pessoa estatelada no chão, com um red glow circundante (para não dizer que havia sangue para tudo que é lado), sem movimentar-se, sem respirar, enfim, sem vida.
O que pensa a pessoa que não freou na hora certa,ou distraiu-se ouvindo o rádio e não notou que alguém cruzava a pista? O que ela pensa a respeito do outro cidadão que na correria do dia-a-dia viu sua vida literalmente atropelada? E se o rádio estivesse desligado e as atenções estivessem direcionadas ao volante? E se o acidentado tem filhos que o esperam e que dele dependem, esposa que o ama, pais que dele se orgulham, sonhos que o esperam... por quanto mais eles serão adiados? E se... tudo aquilo não tivesse acontecido?
E logo depois vêm os curiosos, todos naquele olhar mórbido, para ver o que aconteceu, para ter uma aula de anatomia cujo professor é a própria vida, para satisfazerem-se perversa e inconscientemente de que o morto não foi um deles, ... E logo depois vem a polícia, que burocraticamente encara o drama das pessoas e registra o caso como se fosse mais um - e não deixa de ser, para eles. E vem o Corpo de Bombeiro, ao som das sirenes ensurdecedoras, que alucinam e inserem combustível na cadeia de pensamento dos "e se..." e dos "e agora".
Pois é... e agora, José? Você matou um cara e está aí, ao lado do infeliz, ambos sem ação, um pela própria morte, outro pela morte alheia, pensando não apenas nos trâmites legais que você vai encarar, como também naquelas cenas horríveis que, infelizmente, tornar-se-ão inesquecíveis. Por que aquilo foi acontecer justo com a sua pessoa? E, pior, você não teve a intenção!
II.
Em seguida, imagino alguém que, só para aparecer, costuma andar armado pra sair na rua. Não é mau, não é perverso, tem boas intenções, mas não resiste a fazer uma pose de machão briguento. Certo dia, está no bar tomando umas cervejinhas com uns amigos e respectivas esposas, curtindo um futebol na televisão e rindo dos causos cotidianos que contam uns aos outros. Por azar, na outra mesa há um engraçadinho um tanto piadista que não para de fazer gracinhas à esposa do indivíduo machão e, certa hora, esse se irrita e começa uma clássica briga de bar, que em situações comuns terminaria numa pequena pancadaria, quebra de cadeiras e ânimos exaltados, se não fosse pela arma que o cara portava. Esqueci de dizer que ele era esquentadinho. Aliás, sangue quente e poder são componentes de uma mistura letal. Nunca dão certo. Xingamento vai, xingamento vem. A arma é sacada e, em poucos segundos, todos em volta se espantam, arregalam os olhos e assistem ao espetáculo de quando o dedo indicador faz o trágico movimento para trás e sela ali o destino de um abusadinho. Apenas um abusadinho.
A ficha logo cai para o "machão" que, ali, vê cair sua macheza quando o seu "e agora?" remete ao xadrez para o qual logo será enviado e onde terá de realizar algumas brincadeiras com seus companheiros de cela. Esse cidadão acaba de tirar a vida de outrém, por um motivo fútil. Não soube ouvir quieto, não soube ignorar, não soube dar a outra face. Danou-se por não levar desaforo para casa, danou-se por querer posar de "eu tenho a força", danou-se porque achou que valia a pena lutar pelo que chamam de honra e dizem ser importante, danou-se!
E, da mesma forma como aconteceu com o pobre do motorista, todos fazem uma roda em volta do agonizante abusadinho, e presenciam esse a titubear suas últimas palavras, não compreendendo, porém, se essas são xingamentos (jamais chegarão ao destino), lamúrias (jamais sensibilizarão quem as ouve) ou últimos pedidos de vida (jamais serão atendidos). Há o último suspiro. Novamente pergunto... e agora, José? Não tarda, a polícia vem, junto com sua sirene insuportável. Lá está você, olhando também para o morto, com um arrependimento que nem cabe na sua razão, com um desejo inexplicável de poder voltar ao tempo e remendar uma parte do recente passado infeliz, que sufoca seu presente e condena seu futuro. Você é algemado e tiram, assim, a sua liberdade, já que você tirou a vida de outrém e portanto oferece risco à sociedade. Mas você? Um cara cheio de boas intenções que só curtia posar de machão? Pois é, meu amigo. Você. A sorte o escolheu. Sua mulher o olha com nojo e se afasta. Seus amigos também afastam-se, com medo de não serem tomados como cúmplices no crime. Sozinho no mundo, a viatura o espera, com destino ao inferno. Sua vida ali acaba. Naquele dia, você matou alguém e cometeu suicídio com apenas uma bala.
III.
Logo depois imagino um matador de aluguel. Ele procura seu alvo, localiza, mira, puxa o gatilho, confere se a vítima já bateu as botas e, em seguida, vai embora friamente, como alguém que bate o ponto depois do expediente e segue para a casa.
E depois daí não consigo mais imaginar nada. Isso para mim não faz sentido algum. Não consigo abstrair a esse ponto. Perdoem-me, caros leitores.
(Ouvindo: Silêncio.)
I.
Imagino um motorista que atropela e mata um pedestre sem intenção de fazê-lo. Ele sai do carro, vê a pessoa estatelada no chão, com um red glow circundante (para não dizer que havia sangue para tudo que é lado), sem movimentar-se, sem respirar, enfim, sem vida.
O que pensa a pessoa que não freou na hora certa,ou distraiu-se ouvindo o rádio e não notou que alguém cruzava a pista? O que ela pensa a respeito do outro cidadão que na correria do dia-a-dia viu sua vida literalmente atropelada? E se o rádio estivesse desligado e as atenções estivessem direcionadas ao volante? E se o acidentado tem filhos que o esperam e que dele dependem, esposa que o ama, pais que dele se orgulham, sonhos que o esperam... por quanto mais eles serão adiados? E se... tudo aquilo não tivesse acontecido?
E logo depois vêm os curiosos, todos naquele olhar mórbido, para ver o que aconteceu, para ter uma aula de anatomia cujo professor é a própria vida, para satisfazerem-se perversa e inconscientemente de que o morto não foi um deles, ... E logo depois vem a polícia, que burocraticamente encara o drama das pessoas e registra o caso como se fosse mais um - e não deixa de ser, para eles. E vem o Corpo de Bombeiro, ao som das sirenes ensurdecedoras, que alucinam e inserem combustível na cadeia de pensamento dos "e se..." e dos "e agora".
Pois é... e agora, José? Você matou um cara e está aí, ao lado do infeliz, ambos sem ação, um pela própria morte, outro pela morte alheia, pensando não apenas nos trâmites legais que você vai encarar, como também naquelas cenas horríveis que, infelizmente, tornar-se-ão inesquecíveis. Por que aquilo foi acontecer justo com a sua pessoa? E, pior, você não teve a intenção!
II.
Em seguida, imagino alguém que, só para aparecer, costuma andar armado pra sair na rua. Não é mau, não é perverso, tem boas intenções, mas não resiste a fazer uma pose de machão briguento. Certo dia, está no bar tomando umas cervejinhas com uns amigos e respectivas esposas, curtindo um futebol na televisão e rindo dos causos cotidianos que contam uns aos outros. Por azar, na outra mesa há um engraçadinho um tanto piadista que não para de fazer gracinhas à esposa do indivíduo machão e, certa hora, esse se irrita e começa uma clássica briga de bar, que em situações comuns terminaria numa pequena pancadaria, quebra de cadeiras e ânimos exaltados, se não fosse pela arma que o cara portava. Esqueci de dizer que ele era esquentadinho. Aliás, sangue quente e poder são componentes de uma mistura letal. Nunca dão certo. Xingamento vai, xingamento vem. A arma é sacada e, em poucos segundos, todos em volta se espantam, arregalam os olhos e assistem ao espetáculo de quando o dedo indicador faz o trágico movimento para trás e sela ali o destino de um abusadinho. Apenas um abusadinho.
A ficha logo cai para o "machão" que, ali, vê cair sua macheza quando o seu "e agora?" remete ao xadrez para o qual logo será enviado e onde terá de realizar algumas brincadeiras com seus companheiros de cela. Esse cidadão acaba de tirar a vida de outrém, por um motivo fútil. Não soube ouvir quieto, não soube ignorar, não soube dar a outra face. Danou-se por não levar desaforo para casa, danou-se por querer posar de "eu tenho a força", danou-se porque achou que valia a pena lutar pelo que chamam de honra e dizem ser importante, danou-se!
E, da mesma forma como aconteceu com o pobre do motorista, todos fazem uma roda em volta do agonizante abusadinho, e presenciam esse a titubear suas últimas palavras, não compreendendo, porém, se essas são xingamentos (jamais chegarão ao destino), lamúrias (jamais sensibilizarão quem as ouve) ou últimos pedidos de vida (jamais serão atendidos). Há o último suspiro. Novamente pergunto... e agora, José? Não tarda, a polícia vem, junto com sua sirene insuportável. Lá está você, olhando também para o morto, com um arrependimento que nem cabe na sua razão, com um desejo inexplicável de poder voltar ao tempo e remendar uma parte do recente passado infeliz, que sufoca seu presente e condena seu futuro. Você é algemado e tiram, assim, a sua liberdade, já que você tirou a vida de outrém e portanto oferece risco à sociedade. Mas você? Um cara cheio de boas intenções que só curtia posar de machão? Pois é, meu amigo. Você. A sorte o escolheu. Sua mulher o olha com nojo e se afasta. Seus amigos também afastam-se, com medo de não serem tomados como cúmplices no crime. Sozinho no mundo, a viatura o espera, com destino ao inferno. Sua vida ali acaba. Naquele dia, você matou alguém e cometeu suicídio com apenas uma bala.
III.
Logo depois imagino um matador de aluguel. Ele procura seu alvo, localiza, mira, puxa o gatilho, confere se a vítima já bateu as botas e, em seguida, vai embora friamente, como alguém que bate o ponto depois do expediente e segue para a casa.
E depois daí não consigo mais imaginar nada. Isso para mim não faz sentido algum. Não consigo abstrair a esse ponto. Perdoem-me, caros leitores.
(Ouvindo: Silêncio.)
quarta-feira, 9 de agosto de 2006
Sofrer por antecedência
Quando o limite entre o poder ser e o de fato ser é inconscientemente desprezado.
Começarei exagerando:
Quem nunca se desesperou com a simples expectativa de vir a morrer?
Não é preciso ir tão longe (ou tão perto, como diriam os mais pessimistas ou, mesmo paradoxalmente, os que estão de bem com a vida e com a morte), basta imaginar-se estar diante de uma situação de difícil de resolução que o espírito murídeo (sim, eu estou de sacanagem, vão procurar no dicionário o que é isso) rapidamente baixa e lá se vão as unhas.
As más expectativas nos desesperam, nos enervam e fazem com que pensemos na sucessão de más fatos que decorrerão do primeiro azar. E, pior, acabamos sentindo de fato as sensações que antes apenas imaginávamos. É pensar em estar triste e aí ficar triste.
Sofrer por antecedência muitas vezes nos consome as forças para lutar contra a realidade que está por vir. É gastar tinta demais pra pintar o diabo maior do que ele é.
Por outro lado, há quem sabe lidar com esse sofrimento antecipado e o usa para obter alívio, nos moldes do que eu descrevi no post Ufa!, escrito anteriormente para esse blog. Eu explico: fulaninho sofre, descabela-se, imagina-se na pior das situações, mas nem por isso se deixa abater e, no final, contorna triunfantemente o problema apenas para poder sentir-se aliviado e vencedor da grandiosa batalha. Um tanto wannabe vítima-coitado e também masoquista, não?
Aliás, em relação a tudo isso cabe um belo provérbio que certa vez li em um fórum de jogos e nunca mais me saiu da cabeça:
"Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez"
Grande abraço,
Felipe Drummond
PS: Perdoem-me pelo atraso em postar novas mensagens. Aconteceu que as aulas recomeçaram, a preguiça voltou, certas coisas boas me aconteceram e, de certa maneira, elas me impedem de pensar nas questões bastante profundas. Como disse Clarisse Lispector, é a "leve embriaguez do amor".
(Ouvindo: Franz Ferdinand- Walk Away)
Começarei exagerando:
Quem nunca se desesperou com a simples expectativa de vir a morrer?
Não é preciso ir tão longe (ou tão perto, como diriam os mais pessimistas ou, mesmo paradoxalmente, os que estão de bem com a vida e com a morte), basta imaginar-se estar diante de uma situação de difícil de resolução que o espírito murídeo (sim, eu estou de sacanagem, vão procurar no dicionário o que é isso) rapidamente baixa e lá se vão as unhas.
As más expectativas nos desesperam, nos enervam e fazem com que pensemos na sucessão de más fatos que decorrerão do primeiro azar. E, pior, acabamos sentindo de fato as sensações que antes apenas imaginávamos. É pensar em estar triste e aí ficar triste.
Sofrer por antecedência muitas vezes nos consome as forças para lutar contra a realidade que está por vir. É gastar tinta demais pra pintar o diabo maior do que ele é.
Por outro lado, há quem sabe lidar com esse sofrimento antecipado e o usa para obter alívio, nos moldes do que eu descrevi no post Ufa!, escrito anteriormente para esse blog. Eu explico: fulaninho sofre, descabela-se, imagina-se na pior das situações, mas nem por isso se deixa abater e, no final, contorna triunfantemente o problema apenas para poder sentir-se aliviado e vencedor da grandiosa batalha. Um tanto wannabe vítima-coitado e também masoquista, não?
Aliás, em relação a tudo isso cabe um belo provérbio que certa vez li em um fórum de jogos e nunca mais me saiu da cabeça:
"Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez"
Grande abraço,
Felipe Drummond
PS: Perdoem-me pelo atraso em postar novas mensagens. Aconteceu que as aulas recomeçaram, a preguiça voltou, certas coisas boas me aconteceram e, de certa maneira, elas me impedem de pensar nas questões bastante profundas. Como disse Clarisse Lispector, é a "leve embriaguez do amor".
(Ouvindo: Franz Ferdinand- Walk Away)
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