GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

terça-feira, 18 de maio de 2010

DIGLET DIGLET, TRIO TRIO TRIO

Há coisas na vida que nos marcam para valer. Alguns vão falar de um grande amor, uma grande dor, uma viagem espetacular, um período sabático, um abraço de despedida, uma morte inesperada, um show inesquecível, ... Não tenho dúvidas de que isso tudo é marcante, afinal são coisas que tem uma capacidade admirável de abrir as gavetas mais protegidas das nossas memórias e ali se arquivarem, isso para não falar de quando esses grandes fatos são capazes de mudar o próprio curso de nossas vidas...

Admira-me, na verdade, é como certas coisas irrelevantes também ficam gravadas indelevelmente pelas paredes do túnel do tempo. A memória não tem boas razões para arquivá-la, os sentimentos não foram atingidos por aquela vivência, pode ter sido só mais um dado cotidiano da vida... não se sabe. Lembrar dessas coisas é quase indiferente à nossa existência, se não pelo fato de que, quando lembramos, ficamos pasmos por termos rememorado.

Confesso que sou nostálgico. Lembrar é tornar-se um expectador sensorial, sensível e anacrônico anacrônico de si mesmo. Às vezes é péssimo, mas, em geral, eu gosto. E gosto também quando trago à memória algumas coisas bestas e irrelevantes, que eu não sei porque ficaram armazenadas.

Eu e meus amigos lembramos - e o mesmo já havia acontecido com outros amigos - de um episódio de Pokémon situado em nossas vidas há mais de uma década. Não é um episódio dramático, decisivo, emblemático, nada. Era só mais um episódio, em que apareciam os Digletts e os Dugtrios. Você está lembrado?

O barulhinho que ambos faziam vinha na minha cabeça com perfeição e se repetia em coro. "Diglett, diglett, TRIO TRIO TRIO". A entonação era perfeita e eu era capaz de reproduzir. Ficamos algum tempo imitando os Digglets e Dugtrios em seu canto mágico, um pouco perplexos de termos lembrado de tal bobagem.

Recebi o vídeo no youtube da cena referida e minha maior surpresa foi ver os comentários. Acho que não fui o único a ter emoções com essa lembrança estranha. Houve um cara que escreveu "I'll probably remember this little tune until the day I die" e outro que colocou "I want it played on my funeral". Disseram também "everytime Pokemon is mentioned, someone has to sing this" e "this has been stuck in my head since it was first aired, memories". Teve ainda "Thanks for this video! It was stuck in my fiance's head so I got to annoy him with it."

Percebo que não sou o único a lembrar, nem a se estupefazer diante da lembrança...




sábado, 1 de maio de 2010

caritas et scientia

(homenagem ao colégio santo agostinho - leblon)




O azul do céu virou nostalgia desde que eu te deixei - daqui a não muito vai fazer três anos!
Como são tão parecidos, às vezes...

Tua foto colada em meu mural é a melhor máquina do tempo que eu já vi e vivi. Uma máquina do tempo sensorial, algumas vezes sinestésica. Não olho nos teus olhos, porque não tens olhos. Não vejo o teu sorriso, porque não sorris. Mesmo assim te encaro. Contemplar-te é, na verdade, ver a mim mesmo, um eu congelado no passado, mas que dialoga com o que aqui escreve. Tua imagem é como um espelho, estático, e por ser assim me serve de referencial: vejo como mudei... Entretanto, o menino que lá entrou aos 7 anos muito guarda em comum com o rapaz de 20 anos e algum juízo que aqui te escreve: te admira e te ama.

Meu primeiro dia entre seus muros, não me custa tanto lembrar, serviu-me para dimensionar o quão grande e imponente eras - e ainda és. Colossal em espaço para uma criança que só conhecia quintal: aquele pátio era um novo horizonte. Eu que havia sido o mais velho no jardim, virei o mais novo na imensidão daquela floresta de um só coqueiro, que dali a não muito nem mais existiu.

Aqueles onze anos foram da descoberta mais genuína que eu já vivi. Descobri a mim mesmo. Descobri a ti e a teus corredores. Descobri - e daí o meu amor - o quanto de ti existe em mim. Descobri até um pouquinho - se assim me permitir a modéstia - do quanto de mim também existe em ti.

Conheço cada um dos ladrilhos de tuas salas: azuis, verdes e brancos. Conheço tuas carteiras, os chicletes que elas guardam por debaixo, os rabiscos e desenhos daqueles que não conseguiram deixar suas marcas de outras formas, teus atalhos e teu (complicado) modus operandi. Conheço cada um de teus bebedouros e sei até qual tem a melhor água. Ah, a tua água...! Não há água melhor no mundo, confesso.

Conheço tua história, teus ritos, teus maneirismos institucionais e teus problemas - não são poucos, eu sei. Sei que se fosses perfeito, não serias perfeito para mim: não seria eu mesmo se não fossem teus problemas. Com eles aprendi e cresci. Também com meus problemas também cresci: superá-los foi muito mais fácil porque pude contar com as tuas soluções e tua dedicação determinada. A ti serei grato eternamente.

És ao mesmo tempo casa e família. Abrigas sob teu teto os que se amam (e te amam) e serves para sempre de pretexto - e contexto - para que se amem (e te amem) e se conheçam mais. Nos teus corredores quentes e em tuas salas gélidas (o ar-condicionado era sempre um problema...) fiz os melhores e mais fiéis amigos, e fiz a presunção esperançosa de que a amizade durará transcendentalmente pela existência. Quanto aos amigos que não fiz, sei que se esbarrar com eles pelos caminhos da vida teremos um traço comum muito marcante, que significará muito mais do que termos frequentado um mesmo lugar.

Se as amizades ficaram, ficarão e virão, não posso dizer o mesmo quanto às paixões. Ora fulgazes, ora longevas, não sei se pela adolescência ou pela essência do conceito de paixão, marcaram a poesia do meu sentimento. Nenhuma correspondida de verdade, eu lamento, mas vividas na intensidade que lhes é própria: tu eras para ser o cenário de meus romances nunca encenados.

A foto ainda me transporta. Só vejo tuas paredes, teu concreto, teus vidros do último andar e o corte que promoves no céu pela perspectiva que busquei. É... não imaginei quando te enquadrei em minha lente que dali sairia o teu retrato oficial para meu coração. Mas só capturei tuas paredes e teu concreto, opacos à primeira vista. Não é verdade: teu concreto é transparente e através dele eu vejo todos aqueles que eu aí conheci, para além dos colegas: vejo meus mestres, não apenas os de sala-de-aula, vejo os funcionários. Alguns já partiram, mas não tem problema. Tu também já partiste em alguma medida e nem por isso exististe menos para mim. Olho-os por através das paredes e é como se eles estivessem acenando para mim e eu para eles, todos nós emocionados. Consigo imaginar alguns sorrisos e sentir o carinho, embora pareça haver alguma distância (sei que estou imaginando) entre nós. Tenho vontade de dizer "quanto tempo!".

Ainda me lembro do último dia em que estive aí na qualidade de aluno. Foi dia 30 de novembro de 2007. Não que eu tenha deixado de ser teu aluno: hoje sou "antigo aluno". Foi um dia de nostalgia antecipada: por tanto que eu te amava, sabia o quanto doeria te deixar. Mas era uma dor gostosa, uma dor de missão cumprida, de sucesso e de plena satisfação. Chegara a hora de me irradiar para fora de teu domínio restrito, de teu ninho quentinho que nunca me deixou em apuros. Sabia - e reitero diariamente esse saber - que mesmo as águias mais altaneiras têm para onde voltar. És minha referência, minha melhor referência, porque és necessária, e não contingente. És essência, e não circunstância.

A foto é espelho e o seria do mesmo jeito ainda que o papel não refletisse a luz do dia ou o brilho dos meus olhos que se avolumam de água. Contemplo-me em ti e vejo meu coração, onde resta gravada indelevelmente a tua nobre divisa: amor e ciência. Os dias passam e ela só faz cada vez mais sentido em minha vida. Entôo teu emocionante hino, emocionado. Amor e ciência. Minha nostalgia é minha identificação: no que te sei, me sei. E por te saber, te amo.




1997

2007

Formatura

Esse cartaz se direcionava aos futuros alunos, mas a mensagem me serviu 110% bem.