GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

sábado, 11 de abril de 2009

O INSETO QUE BATE CONTRA A JANELA

A aula era de direitos e garantias individuais e coletivos. Liberdade disso, daquilo, prestações negativas do Estado e esse juridiquês bonito que no final quer dizer que não viveremos numa ditadura.
Preso dentro da sala gélida, porém, estava um inseto de porte médio que passeava livremente entre os alunos concentrados e o professor de oratória irretocável e mãos eloqüentes. Mas o bichinho simplesmente me desviou a atenção. Não que eu tenha ficado contemplando sua solidão, que no fundo também era um pouco a minha, mas principalmente saltou-me aos olhos seu desespero ao querer sair da sala rumo pela janela. Estava a janela fechada, e ficou o bicho esbarrando no vidro, várias e várias vezes. Buscava uma fresta, mas ela não existia. Batia cada vez com mais força e tentava subir para procurar outra escapatória, no que chegava ao ar-condicionado com um fluxo congelante que o jogava para longe, escorregando tridimensionalmente em movimento caótico.
O inseto não desistia e tentava repetir o movimento, como se esperasse que em algum momento o ar condicionado simplesmente parasse, a janela simplesmente abrisse e ele pudesse conquistar sua liberdade assim facilmente. Afinal, a liberdade de um inseto não é direito fundamental. E quem vai garanti-la?
Somente uma boa alma poderia livrá-lo de tanto sofrimento, embora com algum custo: levantar-se para abrir a janela desviaria a atenção dos vários alunos compenetradíssimos, quase que enfeitiçados, pela aula maravilhosa. O professor também poderia ficar chateado, se seu espírito não compreendesse a metáfora existente em dar liberdade ao bicho preso. Na verdade, seria mais que metafórico: seria metonímico!
Mas simplesmente não aconteceu. O professor falou nas formas de avaliação e cobrança - uma prova e um trabalho  (talvez possa ser em grupo!) - e lá se foi toda a atenção no bicho, que simplesmente tornou-se invisível aos olhos ofuscados pelo vamos-ver de um futuro não tão distante.
Não que o bicho seja menos importante, né...