GUIA DE LEITURA

Se você me perguntasse quais textos ler, eu diria para CLICAR AQUI e achar uns 20 e poucos que eu classifiquei como os melhores. Mas vão alguns de que eu particularmente gosto (e que fizeram algum sucesso):

Caritas et scientia
(as saudades da minha escola)
A-Ventura de Novembro
(o retrato de um coração partido)
Vigília
(os sonhos nos enganam...)
Sairei para a boate e encontrarei o amor da minha vida
(ou "elucubrações esperançosas")
(a afeição por desconhecidos)
A tentação de Mãe Valéria
(trago a pessoa amada em três dias)
A nostalgia do que não tive
(a nostalgia do que não tive)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

RAPIDINHAS 3

PAZ: OBJETIVO OU SOLUÇÃO?
Passeatas pela paz ou contra a violência geralmente me trazem uma dúvida existencial. A paz é um objetivo ou uma solução? Sinceramente, por mais que Gandhi tenha dito que "não existe caminho para a paz, a paz é o caminho", tenho que discordar do sábio mestre, pois não acredito que, ao menos em termos macro-sociais, isso funcione. É preciso estabelecer rumos concretos para que se consiga a paz tais como políticas de educação que diminuam a criminalidade ou, nos casos em que o problema já se consumou, policiamento ostensivo. Será que pedir paz é como ficar apenas gritando "aprovação, aprovação, aprovação!" em ano de vestibular?

ONDE ENFIARAM AQUELAS PULSEIRAS?
Não, certamente não foi naquele lugar. Ainda assim, me pergunto onde foram parar todas aquelas pulseiras de várias cores, ressaltando-se as amarelas, que, por entre 2005 e 2006, constituíram uma das maiores e mais efêmeras modinhas já vistas na história?
Para cada causa, uma pulseira. Bem, esse foi o título de uma matéria da época sobre o tema. Lembro que havia as pulseiras com as cores de times de futebol, as que eram contra o racismo e outras formas de preconceito e, claro, a principal e pioneira pulseirinha: a que encabeçava a luta contra o câncer, mais conhecida como LIVESTRONG. Essa sem dúvida foi a mais vendida e a mais clonada no mercado negro, e provinha de um projeto do ciclista Lance Armstrong, vitorioso na batalha contra essa trágica doença. Ganhei uma de presente de uma saudosa grande amiga e usei-a até o dia em que vi uma igual no pulso de um infeliz que fumava soberbamente. Em outras palavras, um tremendo paga-pau, tal qual outros que usavam a pulseira só para aparecer. Bem, onde foram parar aquelas pulseiras? Aliás... onde está a minha?

SALADA DE ESTILOS (ou mais uma fantasia, apenas?)
Transitava por Cabo Frio, região litorânea do RJ, em plena segunda-feira de carnaval quando me deparei com uma cena no mínimo estranha. Um homem de uns 50 anos, com aqueles bigodes grandes, usava um chapéu de cowboy imenso e trajava uma camisa - acredite -da banda de symphonic power metal com temas medievais e mitológicos Rhapsody Of Fire. Seria uma fantasia de carnaval? Ou só mais um preconceito de minha parte?


Terminei as 3 rapidinhas com perguntas. Que estranho.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

O novo bloco de carnaval.

Pois é, o carnaval no país é cercado por suas peculiaridades. Por mais paradoxal que às vezes possa parecer, qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa, serve de motivo para euforia e confraternização. Uns se fantasiam, outros se pintam, mas todos trazem a indumentária adequada à época, nem que seja no espírito.
Relevam-se as dificuldades e as tristezas para que se viva um momento de esquecimento, uma fuga de uma às vezes triste realidade que só se modifica com trabalho árduo e meios eficazes.
Ovacionam as multidões o carnaval, afinal, é ele que faz com que as pessoas não tenham trabalho ou aula. Adiam ainda mais o começo do ano útil no país.
Trânsito caótico é marca registrada das comemorações carnavalescas, que congestionam o fluxo de veículos devido ao grande número de indivíduos na maior desordem possível. Atrapalha-se a vida de quem não quer participar, num ato de significativo desrespeito à liberdade alheia.
Em bailes de clubes e salões, o panorama de carnaval é um pouco diferente, exceto pela presença das mães-corujas, que não se cansam de fotografar seus filhos - pequenos ou não - em atos carnavalescos: farra e gritaria. Ops, esqueci de dizer que elas também gostam de ver as fantasias usadas.
Super interessantes, aliás, são essas fantasias. O nome é esse mesmo, fan-ta-si-a, isto é, não tem compromisso com o real, com a verdade. É falso, e como tal deve ser tratado.
Tanta gente unida por algum propósito. Acho que é só se divertir. Tudo bem, nada melhor a ser feito nos tempos de folia. Há gente que prefere pegar a condução e ir pra casa descansar, e há quem gosta de assistir da janela ou da sombra, sem se expôr ao calor de quase outono.
Ora ora, como tudo na vida, o carnaval não é unanimidade.

Bestificados com a manifestação ficam os que estão alheios a ela, em especial gringos e outros transeuntes, que acenam positivamente para a algazarra que se cria. Talvez nem entendam o que se passa.
Acenam para as câmeras e agentes da mídia os foliões, que querem ali registrar sua presença e mostrar um pouco do show de alegria que fazem. Nos seus 15 minutos de fama, distribuem sorrisos e gestos, disputando espaço no enquadramento fotográfico.
Blocos novos surgem a cada carnaval, carregados por seus foliões, que gostam de entoar coros com as mais diversas músicas em uníssono. Até mesmo as canções mais tristes e melancólicas são cantadas em tom de alegria (ou de indiferença?), como se de nada prestasse a tristeza que motivou o poeta ao fazer artístico. Não dão ao momento o tom que ele pede.
Às vezes, esses blocos desfilam sem bandeiras e, assim, sem porta-bandeira. Não têm o que levar à frente, não têm razão de ser e, assim, muitas vezes acabam por ali mesmo definhar, como uma forma inflada que, sem conteúdo, murcha. Ainda que isso não aconteça, a Quarta-feira de cinzas está ali, disposta a sufocar a euforia e retomar a rotina de ações e de idéias.
Carnaval é assim. Para uns, momento de folia. Para outros, o choro da despedida da carne (alheia?).
Assim é o carnaval. Teatral. Uns riem, outros choram. Mas todos na mesma festa.


(não, eu não estou maluco)

domingo, 11 de fevereiro de 2007

O TRABALHO DOS SEM-EMPREGO

(E OUTRAS OBSERVAÇÕES)

Um passeio pelo Centro da capital fluminense é sem dúvidas algo bastante produtivo para quem quer observar pessoas. Não o fiz com essa intenção, mas, uma vez estando por lá para resolver outras coisas, prestei atenção em alguns detalhes que recheiam o coração financeiro da cidade.

O mercado informal foi, sem dúvida, a área que mais me saltou aos olhos. Fiquei exuberado com a capacidade das pessoas de, apesar de não possuírem um emprego, terem e honrarem um trabalho. Cada um procura ganhar sua sobrevivência como dá e da melhor maneira possível. Não obstante terem que trabalhar sob chuva e sol, sem direito a férias, décimo-terceiro ou folga remunerada, o enorme contingente de trabalhadores informais mantém a cabeça erguida e o sorriso no rosto, e não raramente dão show de vendas e simpatia.

O vendedor de tira-bolinhas-de-roupa. Esse é capaz de dar muita inveja a muitos salesmen por aí. Sem nenhuma inibição, chama os pedestres de maneira carinhosa e, com muita lábia e sorrisos desdentados, consegue expôr a eles seu produto. Ressalta de maneira ímpar as vantagens do aparelho e ainda permite um test-drive. Sua garantia, dispensa termos, contratos ou assinaturas, sendo só de três palavras: "estou sempre aqui". Vende bem e, quando não vende, conquista a simpatia de quem passa, que dele faz uma boa imagem. O mesmo efeito de uma boa propaganda.

A moça que faz batata frita no meio da rua. Pode parecer ridículo, mas fiquei observando clinicamente o cuidado com que ela colocava as batatas na frigideira, mexia-as, tirava-as, colocava no saquinho, dava tapinhas no saquinho para caber mais, colocava mais batata, pegava um guardanapo e servia-a ao cliente de cara aberta, ainda oferecendo em tom muito solícito ketchup ou mostarda. Ainda que aquele não fosse o melhor ofício do mundo ou o que lhe permitisse melhores condições de vida, fazia-o com prazer. E só isso já valia.

O casal que vende bebidas. Tem uma barraquinha bem arranjada, com guarda-sol para caso de sol ou de chuva, uma "vitrine" com frascos vazios e muita disposição para encarar o número significativo de vendas. Está ali desde cedo até depois do entardecer, atendendo pedidos, botando a mão no isopor com as bebidas, dando o troco e agradecendo a preferência. Oferece os preços mais baixos das redondezas a fim de atrair clientes, mesmo sem conhecer formalmente a lei da oferta e da procura.


A vendedora de canetas de um real. Magra e baixinha, desfruta o auge de seus quase 40 anos ao sol escaldante da Av. Rio Branco trajando calça jeans, camisa jovem e mochila desportiva. Instala sobre um papelão em formato retangular uma bandeja de tamanho médio, sobre a qual coloca várias canetas dos mais variados tipos, tamanhos e cores. Todas por um real, tal qual anuncia a cartolina desenhada à mão e pregada dos lados da bandeja. Atende, em geral, o público feminino e ainda dá conselhos sobre qual caneta combina mais com a cor da carteira ou da bolsa. Concluída a venda, embolsa um real, mas abre um sorriso de ganhadora da mega-sena e dispara um "obrigada" verdadeiro e atencioso. De nada.

Maximizar a produtividade não é objetivo exclusivo de empresas formais. Chamou-me a atenção uma "empresa" de venda de DVDs copiados que se instala diariamente às 6 horas sob a marquise de um grande prédio. Estabeleceram ali algo como uma linha de montagem, contando com uma especialização da atividade de cada funcionário com organização de fazer jus às melhores proposições fordistas. Na verdade, ficou faltando a esteira.
A primeira funcionária é a responsável pela "vitrine". Expõe no chão os vários títulos de filmes e shows que disponibilizavam, atende diretamente aos clientes respondendo a eventuais perguntas e, após a escolha do freguês, direciona o mesmo a próxima funcionária. A segunda vendedora é a responsável por pegar, numa caixa imensa com inúmeros dvd´s, o título escolhido e o encarte correspondente. Coloca-o na caixinha e emite um papel com o valor a ser cobrado. Munido desse papel, o cliente dirige-se à próxima funcionária, que recebe o dinheiro, anota-o em um livro caixa e preenche o cartão de garantia, que dá um prazo de 15 dias para troca. A passagem pela quarta funcionária é facultativa, mas nunca ignorada, pois, afinal, é importante testar o disco comprado para não correr o risco de se decepcionar posteriormente, só que sem ter o PROCON para recorrer.
Pausa para observações. As quatro funcionárias andam muito bem vestidas, levemente maquiadas, são muito sorridentes e ainda falam português correto, sem apelações da informalidade, portando-se à imagem e semelhança das vendedoras das butiques de madame que movem o caríssimo Shopping Leblon. E tudo isso sem a presença de uma supervisora que só conhece o modo imperativo e não se cansa das sugestões enfáticas "sorria", "diga boa-tarde", "diga obrigado", "seja paciente" e etc.


São esses alguns poucos exemplos do trabalho que, embora muitas vezes perpasse por atos ilícitos e condenáveis, é levado a sério e com dedicação. (Favor não comparar com traficantes de drogas ou criminosos de alta periculosidade. Não quero entrar no mérito da questão, mas as diferença são notáveis) Trabalho esse que muitas vezes não é valorizado como deve, apenas por estar a margem das estatísticas ou de olhares políticos. Trabalho esse que encaro como forma de superação - quase apelação para sobrevivência - de muitos que estão excluídos do acesso ao emprego, cercado de todas as garantias e merecidos benefícios que lhe cabem.

Ressalte-se aqui a quantidade de pessoas que estão bem empregadas, mas não fazem jus a isso. Trabalham sem vontade, sem prazer, atendem mal, não dão o melhor de si. Isso acontece especialmente no funcionalismo público, embora haja muitos servidores nessa área que trabalham por dois, por três ou pela equipe toda. Mais desalentador ainda é ouvir gente nova dizendo querer fazer concurso público porque ganha bem e não faz nada. Ora ora, para onde estamos caminhando?

Pois é, centro da cidade é isso. Gente que não tem emprego e trabalha, gente que tem emprego e trabalha e gente que tem emprego e não trabalha. Esqueci alguém? Ah, claro... gente que não tem emprego nem trabalha. Olhe-me aí, mas só por enquanto, tá?